Marina Sarruf
São Paulo – Em dezembro de 2004, o estudante carioca Nader Medeiros Hafan Jaber, 20 anos, saiu do Brasil com dois colegas para estudar islamismo e aprender a língua árabe na Universidade Internacional da África, no Sudão. Os três fazem parte da Sociedade Beneficente Muçulmana do Rio de Janeiro, que oferece cursos de árabe e de religião, e conseguiu patrocínio para mandá-los para fora do país.
"Há uma carência de religiosos brasileiros que dominem o idioma árabe, por isso temos a intenção de continuar enviando estudantes para estudar em países árabes", afirmou o presidente da Sociedade Beneficente Muçulmana do RJ, Abdelbagi Sidahmed Osman. Segundo ele, é difícil conseguir bolsas e patrocínios. "Eu mesmo consegui ajuda de custo com instituições de caridade dos países do Golfo (Arábico) para mandar os estudantes", acrescentou.
Cada estudante recebe mensalmente uma ajuda de custo de US$ 100. A Universidade Internacional da África ainda oferece dormitório e três refeições diárias. "Aqui na universidade há muitos estrangeiros. A maioria é da África e da Ásia, mas também há americanos e europeus", disse Jaber, que está há um ano e um mês no Sudão.
Para Osman, as universidades do Sudão, Iêmen e da Líbia são as mais recomendadas para aprender a língua árabe. "Quando os estudantes voltarem para o Brasil, eles podem atuar na área de divulgação do islamismo ou em outras áreas, como tradução, por exemplo", afirmou Osman.
De acordo com ele, a média de permanência dos estudantes nas universidades é de três anos. Dos três brasileiros que foram para o Sudão, dois fazem um curso de Ciências Islâmicas, que tem duração de dois anos. Para realizar o intercâmbio, Osman afirma que o estudante tem que ter boa conduta, capacidade e seriedade.
Dificuldades
Jaber foi para o Sudão com uma noção básica da língua árabe. "Comecei a aprender árabe em 2003 na Sociedade Beneficente Muçulmana do Rio de Janeiro, fiz oito meses de aulas", disse. O estudante conta que quando chegou no Sudão teve dificuldade para entender as aulas. "Tive que comprar um dicionário do árabe para o inglês e pedir ajuda aos colegas estrangeiros para entender", disse.
Segundo Jaber, o curso de língua árabe na universidade sudanesa é dividido em níveis: gramática, literatura e redação. "Também aprendemos História Islâmica, como estudo do Alcorão e ditos do profeta", acrescentou. O objetivo de Jaber é terminar o curso de língua árabe e entrar na faculdade de Direito no Kuwait. "As condições no Kuwait são melhores que no Sudão e a universidade paga uma mesada, moradia, alimentação e dá uma passagem anualmente para os estudantes visitarem seus familiares", afirmou.
Para um estrangeiro cursar uma faculdade num país árabe, ele precisa ter o certificado de domínio da língua árabe. "O estudante pode até entrar na faculdade, mas terá que fazer o curso de língua árabe", disse Jaber, que acredita que após um ano estudando já consegue entender bastante. "Me sinto muito mais confortável com a língua atualmente", acrescentou.
Jaber conta que ele e os outros dois colegas brasileiros foram bem recebidos na universidade. "Todo mundo tem uma boa imagem do Brasil no Sudão. Eles falavam muito sobre futebol e conheciam os nomes dos jogadores brasileiros", disse. Em relação à religião islâmica, Jaber disse que a maioria dos estudantes são muçulmanos, mas nem todos são árabes. "Não é comum ter católicos na universidade porque em todos os cursos há aulas de religião islâmica, então é mais difícil para acompanhar", disse.
Após um ano no Sudão, Jaber afirma que valeu a pena. "Quem vem para o Sudão sem saber falar árabe tem que se esforçar muito. Mas o benefício final é muito grande. Eu recomendo para os brasileiros que queiram aprender a falar árabe", completou.
Muçulmanos no Rio
A Sociedade Beneficente Muçulmana do Rio de Janeiro foi fundada em 1951 e é uma das mais antigas do Brasil. Atualmente conta com uma freqüência média de 100 a 120 pessoas por mês, sendo 80% brasileiros. Osman estima que existam seis mil muçulmanos no estado do Rio de Janeiro.
Além de cursos de árabe e de religião, a instituição oferece orações, cursos para crianças e realiza celebrações religiosas. Osman é sudanês e mora no Brasil há 18 anos. Ele é presidente da instituição desde 2000.
Osman também tem interesse em incentivar as relações comerciais do Brasil com o Sudão. "Como sudanês residente no Brasil, vi que o país tem potencial para exportar muitos produtos para o Sudão, principalmente maquinário agrícola, adubos e leite em pó", disse. Seu próximo passo é apresentar empresários brasileiros para importadores sudaneses.
Sociedade Beneficente Muçulmana do RJ
Telefone: +55 (21) 2224 1079

