São Paulo – Dois brasileiros vão concluir até maio um filme sobre a luta pela independência do Saara Ocidental, região de deserto da África que fica entre Marrocos, Argélia, Mauritânia e o Oceano Atlântico. Chamado de “Um fio de Esperança: Independência ou Guerra no Saara Ocidental”, o documentário terá dois formatos, curta e longa metragem. A versão menor será lançada no dia 2 de maio, no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc, na capital paulista.
Os diretores e roteiristas do filme são Rodrigo Duque Estrada e Renatho Costa. Os dois são estudiosos de Relações Internacionais e foram até o Saara em dezembro do ano passado para conversar com os saarauis e contar como eles vivem. O documentário terá relatos de vida e entrevistas com as lideranças e a população local. No acampamento de refugiados, onde parte dos saarauis mora, há um estado de exílio, no qual existe desde um presidente até parlamento e organizações voltadas para direitos humanos e questões femininas.
“Entrevistamos essas pessoas, do presidente da República e ministros de estado até os nômades”, contou Estrada à ANBA. O objetivo da dupla é informar e conscientizar a sociedade brasileira sobre o conflito vivido no Saara Ocidental. De acordo com Estrada, a questão é negligenciada no mundo inteiro pela mídia, políticos e organizações internacionais.
Para fazer o filme, os dois diretores entrevistaram e filmaram em Madri, na Espanha, em Antuérpia, na Bélgica, na capital paulista e em três locais do Saara Ocidental: no acampamento de refugiados, que fica em território argelino, nas zonas liberadas, onde vive uma parte dos saarauis com 15% da área total conquistada, e nos territórios ocupados, onde há o domínio marroquino. “Nos territórios ocupados fica 85% do Saara Ocidental, é onde está a totalidade das riquezas naturais do território, fosfato, pesca costeira”, afirma Estrada.
O Saara Ocidental foi colônia espanhola por quase um século. Nos anos 1960 a Organização das Nações Unidas (ONU) começou a trabalhar por sua descolonização. A Espanha havia se comprometido a abrir mão do território, mas o acabou entregando ao Marrocos. Na época começou uma guerra que durou até 1991, quando as Nações Unidas conseguiram um acordo de cessar fogo. “Até hoje está pendente a descolonização”, diz Estrada.
Depois de conversar com muita gente, o estudioso afirma que os saarauis estão cada vez mais frustrados com o processo de paz. “Passados todos esses anos no exilio, vivendo sob as condições mais adversas do clima, os refugiados vivem na região mais inóspita do deserto, e muitas gerações tendo nascido nos acampamentos de refugiados”, afirma o cineasta. Mais de 80 países, porém, já reconhecem a independência do Saara Ocidental. O Brasil não é um deles.
O documentário é o primeiro de Estrada e Costa. Renatho Costa é professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Pampa, onde leciona Cinema e Relações Internacionais e também Cinema e Direito, e tem doutorado em História Social. Estrada é formado em Relações Internacionais e está fazendo mestrado na área. Ele chegou a fazer um curta metragem em outra oportunidade, mas foi um trabalho amador.
A ideia de falar sobre os saarauis surgiu no segundo semestre do ano passado, quando depois de estudar o tema por cinco anos, Estrada achou que tinha chegado ao limite do que os livros, artigos científicos e a academia em geral podiam lhe fornecer. “Senti necessidade de estar em contato com realidade dos refugiados, conhecer sua história de resistência”, conta. Com a ideia inicial de ir até a região, ele cogitou fazer entrevistas para pesquisa, livros ou artigos, mas ao preparar a viagem, entendeu que era hora de filmar.
Assim, o estudioso convidou o outro acadêmico e amigo, também dedicado ao tema do Saara Ocidental e Oriente Médio, para fazer o documentário. Estrada afirma que foi uma experiência muito boa estar em contato com uma cultura nômade e ver a resistência de um povo que acredita em sua independência. “Apesar da tristeza da situação política, ver crianças crescendo onde não tem nada, onde não cresce nada, mas com um sorriso no rosto, jogando futebol, é muito bonito, agregou muito para a gente”, afirma.
Quando o longa metragem estiver pronto, os dois cineastas querem participar de festivais. O curta deve ser usado para exibições seguidas de debates. O objetivo é apresentar o filme também no próprio Saara Ocidental, onde acontece um festival de cinema. A produção de ‘Um Fio de Esperança’ é totalmente independente, foi bancada por Estrada e Costa. Mas eles estão fazendo um crowfunding, campanha de financiamento coletivo (link abaixo), para ajudará a custear alguns custos, como tratamento de imagem e som, e viagens para futuros festivais.
Documentário ‘Um Fio de Esperança: Independência ou Guerra no Saara Ocidental”
Lançamento em curta-metragem
Dia 2 de maio de 2017, às 19h30
Palestra e exibição do filme
Centro de Pesquisa e Formação Sesc-SP
Rua Dr. Plínio Barreto, 285 – 4º andar – São Paulo – SP
Inscrições: http://centrodepesquisaeformacao.sescsp.org.br/atividade/cultura-e-identidade-no-mundo-arabe
Mais informações sobre o filme
https://www.projetonomos.com/umfiodeesperanca
Crowfunding do filme
https://www.catarse.me/umfiodeesperanca