Isaura Daniel
São Paulo – O governo do Kuwait quer realizar uma mostra com produtos e serviços exclusivamente brasileiros. A intenção foi manifestada nesta quarta-feira (16) pelo subsecretário de Comércio Exterior do país, Hamad A. Al-Ghanim, e o embaixador do Kuwait no Brasil, Hamood Y. Al-Roudhan, em uma reunião com o presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB), Paulo Sérgio Atallah.
O subsecretário afirmou que gostaria de realizar a mostra, que sugeriu chamar "Brazilian Week", até outubro deste ano. Al-Ghanim e Al-Roudhan também convidaram a Câmara a levar uma delegação de empresários e representantes do governo brasileiro ao Kuwait para conhecer melhor o mercado local.
O primeiro passo para a aproximação das duas economias, porém, será a formulação de um memorando de entendimento entre o CCAB e Câmara de Comércio do Kuwait para facilitar as relações comerciais entre brasileiros e kuwaitianos. "O memorando vai ajudar a criar um ambiente propício para o comércio e também auxiliar os empresários nas negociações e resolução dos problemas que possam ocorrer ", disse Al-Ghanim. A embaixada do Kuwait no Brasil vai ficar encarregada de levar o projeto adiante.
Investimentos
De acordo com o subsecretário, o Kuwait está totalmente aberto aos investimentos de empresas brasileiras. Ele lembrou que as indústrias que se instalarem no país poderão ter capital totalmente estrangeiro e que não há restrição para a entrada e saída de capital.
"O Kuwait é o melhor lugar para enviar produtos para o Iraque", disse Al-Ghanim, ao comentar as vantagens de produzir no país. No próximo ano entra em vigor um acordo de livre comércio entre os países do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC, na sigla em inglês), que vai levar a zero as taxas de exportação e importação entre Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Omã e Catar, integrantes do bloco.
O Kuwait tem interesse em abrigar todo tipo de indústria e serviços brasileiros, de acordo com Al-Ghanim. Ele citou a área hospitalar, onde há necessidade de produtos e também de profissionais como médicos e enfermeiros. "Os brasileiros poderiam abrir seus hospitais no Kuwait com equipamentos, capital e profissionais do Brasil", disse. Existem cerca de 25 hospitais no Kuwait para uma população de 2,5 milhões de pessoas.
O Kuwait já é hoje um dos destinos das exportações brasileiras. Entre janeiro e abril deste ano, o país importou US$ 40,6 milhões em produtos do Brasil. Metade deste valor corresponde a carnes de frango congeladas. Já os brasileiros não chegaram a comprar produtos kuwaitianos no período. O Kuwait detém 10% das reservas mundiais de petróleo e tem toda a sua economia baseada na commodity. O Produto Interno Bruto (PIB) do país é US$ 42,8 bilhões.
Cúpula
O embaixador do Kuwait no Brasil afirmou também que se for acertado um acordo de livre comércio entre os países árabes e sul-americanos deve haver um pulo nos negócios com a região. O ministro brasileiro de Relações Exteriores, Celso Amorim, manifestou interesse de que seja fechado um tratado já na Cúpula Países Árabes – América do Sul, prevista para ocorrer em 2005, no Brasil. "Se houver um acordo passaremos a importar ainda mais da região", disse Al-Roudhan.
O embaixador elogiou a iniciativa do governo Luiz Inácio Lula da Silva de promover a Cúpula. "A Cúpula será muito importante para que os países árabes tenham uma relação mais direta, sem intermediários, com a América do Sul".
Unctad
O embaixador e o subsecretário estão no Brasil para participar da 11ª Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), que termina nesta sexta-feira (18) no Parque Anhembi, em São Paulo. Durante os debates da Conferência, Al-Ghanim falou sobre o Fundo de Desenvolvimento Árabe. Mantido pelo governo do Kuwait, o Fundo foi criado em 1961 e empresta dinheiro a juro zero para países pobres. "É usado para construir escolas, hospitais, redes de saneamento básico", explicou Al-Ghanim. O subsecretário afirmou que a Unctad tem um papel importante na ajuda ao inserimento de países pobres no comércio mundial.

