São Paulo – Ynara Correa Costa está quase de malas prontas para encarar sua sexta Copa do Mundo. Nascida e criada em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, onde morou até a adolescência, a analista de sistemas, que atualmente vive em Cotia, São Paulo, se apaixonou pelo futebol aos 16 anos por influência dos amigos corintianos. “Eu nem gostava de futebol quando fui assistir um jogo do Corinthians x Palmeiras. Naquele dia virei corintiana e depois disso comecei a acompanhar os jogos do time toda semana”, afirmou ela para a reportagem da ANBA.
Com o sonho de participar de uma Copa do Mundo, a sul-mato-grossense-do-sul foi para os Estados Unidos em 1994. Viajando sozinha para o exterior pela primeira vez, a jovem de 23 anos pagou com o salário de estagiária para acompanhar os 10 dias das oitavas de final da competição. “Tive muita sorte de ver os quatro jogos do Brasil, e o país foi tetracampeão naquele ano. Eu curti muitos os jogos que acompanhei junto com meus amigos brasileiros que fiz lá”, completa Ynara.
Depois dessa Copa, a vontade de acompanhar outros mundiais ficou na cabeça da brasileira, que conseguiu ir para a Copa de 1998 (França), 2010 (África do Sul – foto de abertura), 2014 (Brasil) e 2018 (Rússia). Em cada país, Ynara viveu uma experiência que foi além de torcer. Na África do Sul, ela conta que percebeu muitas semelhanças com o Brasil relacionadas ao povo e os problemas sociais. Na Rússia, onde se encantou pela beleza e receptividade da população, ela teve que se deslocar bastante para chegar nos estádios. “A Copa do Brasil, que muito se falava que seria desorganizada, foi melhor do que eu esperava. Funcionou bem, tirando o Brasil que não funcionou muito bem e perdeu para Alemanha.”
Quem também é apaixonado por futebol e vai ver os jogos da Copa do Catar é o Fernando Antônio Abrahão, de 66 anos. Nascido em São Paulo e morador de Nova Friburgo, Rio de Janeiro, o aposentado e atacadista de tecidos para lingerie está pronto para ver sua terceira Copa do Mundo. Assim como Ynara, a primeira vez que saiu do Brasil foi para acompanhar uma Copa. “Fiquei na Copa toda de 2006 na Alemanha. Tudo era novidade, sozinho, não conhecia ninguém, mas foi fantástico, fiz amigos e completei meu aniversário de 50 anos lá. Em 2018, voltei para acompanhar outra Copa inteira na Rússia.”
Nascido na época que Pelé era o melhor jogador do país, Fernando também não teve influência da família para gostar de futebol, mas sim dos amigos. “Assim como qualquer criança, eu escolhi o Santos porque era um time vencedor e me tornei um apaixonado por futebol. Eu ia muito na Vila Belmiro ver o time jogar, mas depois que mudei para Nova Friburgo ficou muito longe para ir. Mas já acompanhei o Mundial de Clubes da Fifa de 2011, em que o Santos perdeu para o Barcelona no Japão, e quando ele vem para disputar partidas por aqui, eu acompanho.”
Como a esposa e os filhos não gostam tanto de futebol quanto ele, o aposentado foi para a Alemanha sozinho e acabou fazendo amizades com um pessoal do Rio Grande do Sul e do Pará. Na segunda Copa, Fernando foi sozinho novamente, dessa vez para a Rússia, e aproveitou os jogos com o mesmo grupo de 2006. Na Copa do Catar, será da mesma forma, ele indo só do Brasil para encontrar amigos no país árabe. “Desde de 1970, quando foi televisionada a Copa, eu já tinha sonho de ver um mundial presencialmente.”
Assim como Fernando, Ynara está acostumada a ir para as Copas do Mundo só. Em 1998, ela fechou um pacote com uma agência de viagem e acabou fazendo amizade com as outras pessoas que foram junto. Na segunda e na quinta Copas aproveitou os jogos sem companhia. Já para África do Sul foi com os amigos. Nos jogos disputados no Brasil, ela resolveu ir junto com o filho de 11 anos em algumas partidas, para que ele tivesse a oportunidade de participar desse tipo de celebração. “Apesar de eu ser apaixonada por futebol, a Copa para mim não é só o futebol, é a confraternização entre todos os países. Eu gosto muito do antes e depois do jogo porque essa festa dos povos para mim é o que faz diferença”.
Valores e organização para ver os jogos
Ynara conta que por mês gasta em média de R$400 com futebol e gosta de acompanhar, sempre que pode, os jogos do time de coração, inclusive foi na final do Mundial de Clubes da Fifa em 2012, no qual o Corinthians venceu o Chelsea no Japão. Para ver as competições sem atrapalhar o trabalho, ela sempre usa as férias para viajar. No Catar, se organizou para acompanhar as disputas até a final.
Ynara, que sempre guarda dinheiro para a viagem, hospedagem e os jogos um ano antes, nessa Copa, onde fechou tudo por conta própria, está parcelando bastante. Foram bem mais de R$ 20 mil, sem os ingressos, gastos para ver o mundial no Catar, onde chegará no dia 18 de novembro.
Com mais de 20 ingressos de jogos comprados, Ynara vai para o Catar principalmente para acompanhar as partidas, mas sempre que tiver um tempo, tentará conhecer um pouco do país. Essa, porém, não será a primeira vez que a brasileira visitará o Catar. No mês passado ela passou quatro dias por lá a convite da Federação Internacional de Futebol (Fifa). A analista de sistemas foi a única brasileira convidada pelo Comitê Supremo da Copa através do programa Fã Líderes. “Eles recrutaram torcedores de todos os países para fazerem um tour no país e darem feedback sobre o que foi preparado.”
A expectativa de Ynara é que o Brasil chegue na final porque está com um time forte. Mas mesmo se a Seleção Brasileira de Futebol se desclassificar, já que nem sempre no futebol os favoritos ganham, ela continuará animada para acompanhar as finais.
Por questões financeiras, o paulistano Fernando só vai ficar na primeira fase dos jogos no Catar. Ele verá os três primeiros jogos do Brasil e três partidas de outros países. O custo da passagem, hospedagem e partidas ficou na faixa de US$ 45 mil (R$ 234 mil), guardados antes da viagem. “Por conta da pandemia, a gente não sabia se ia na Copa e resolvemos em cima da hora ir. O dólar estava alto, por isso ficou caro.”
Nos 12 dias em que vai ficar em Doha, capital do Catar, e mais quatro dias em Dubai, Emirados Árabes – aproveitando para conhecer outro país árabe – Fernando prevê que gastará mais US$ 10 mil (R$ 52 mil) com alimentação, passeios e compras. A viagem foi fechada com a agência Stella Barros.
Os dois brasileiros que amam muito os mundiais têm planos para ir à Copa do Mundo de 2026, que será sediada pela primeira vez por três países, Canadá, Estados Unidos e México.
Agência oficial da Copa do Catar
No Grupo Águia, agente oficial de venda de pacotes para a Copa do Mundo do Catar, as viagens para a Copa do Mundo do Catar começaram a ser vendidas em março de 2021 e estão praticamente esgotadas.
Paulo Castello Branco, presidente de projetos especiais do Grupo Águia, conta que dentro do serviço chamado de hospitalidade (Match Hospitality), pelo qual a empresa é responsável, estavam inclusos hospedagem, ingresso para o jogo do Brasil e um ingresso extra para a partida de outro time em camarote com bebida e comida à vontade, transfer de ida e volta ao aeroporto no país árabe e um programa em um espaço turístico no Catar com transporte (off-site).
“Nós somos os agentes oficiais e nomeamos três subagentes para vender Copa do Mundo junto conosco. A Stella Barros, que é uma empresa do grupo, só vendeu lazer, a Top Service comercializou incentivo, pacotes para grandes corporações que deram a viagem para os funcionários como premiação, que eram grupos de 40 a 100 pessoas, e o terceiro subagente foi a CVC”, conta Paulo.
Os valores variavam bastante dependendo de qual fase da competição o torcedor acompanharia. Quanto mais próximo da final, maiores eram os preços dos pacotes.
Para se ter uma ideia, na categoria Match Club (camarote mais simples), da fase de grupos da Copa, o viajante pagou US$ 9.315 (R$ 48,5 mil) e na categoria Business Seats (camarote mais premium) o torcedor desembolsou US$ 11.415 (quase R$ 59,5 mil). Já para ver a final, na categoria mais básica, o pacote saiu por US$ 12.665,40 (quase R$ 66 mil) e na categoria com camarote melhor o valor foi de US$ 21.965 (cerca de R$ 114 mil). Do Brasil, a agência vai levar cerca de 1.700 pessoas para ver a Copa do Mundo.
Os pacotes de viagem do Grupo Águia têm a duração de quatro noites. Quem vai acompanhar a primeira fase da competição, por exemplo, decola do Brasil no dia 20 de novembro, chegando no dia seguinte no Catar. No dia 22, o turista vai para off-site, no próximo dia acompanha o jogo extra, no dia 24 assiste a partida do Brasil e dia 25 retorna para o país.
Por conta do espaçamento dos jogos ser maior, quem for acompanhar as quartas de final, ficará cinco noites no país árabe. Apesar de não vender oficialmente as passagens aéreas, o grupo fechou parcerias com as companhias, como a Qatar Airways, para atender os clientes que queriam fechar o pacote de viagem junto com o transporte.
Paulo conta que a maioria dos clientes preferiram fechar o pacote com passagem. Mas como as pessoas optaram por categorias diferentes de voo, em diferentes dias, o valor da passagem variou bastante.
Perfis dos torcedores
De acordo com Paulo, houve uma mistura entre os perfis de quem vai acompanhar a Copa, desde de empresas até grupos de amigos de quatro a oito pessoas que já foram a outras competições assim. Porém os torcedores são principalmente famílias com pais e filhos. “É muito raro ter uma pessoa indo isoladamente para a Copa do Mundo. Quem vai ver os jogos, vai com irmão, amigo”, diz Paulo.
Por conta do alto valor de investimento e do preço do dólar, a idade de quem comprou o pacote de viagem com o Grupo Águia ficou acima dos 40 anos. “Eu reconheço que é um programa caro, por outro lado depois da Copa de 2014, o brasileiro entendeu que o mundial é muito mais do que só futebol, viram que é um congraçamento de povos, uma grande festa, maior evento do mundo, bem maior que as Olimpíadas”, conta o presidente de projetos especiais do Grupo Águia.
O abrandamento da pandemia foi responsável por aumentar a vontade das pessoas irem para a Copa. Segundo Paulo, os viajantes planejaram e dividiram bastante a viagem. Em março do ano passado, quando os pacotes passaram a ser vendidos, o viajante poderia parcelar o preço final em até 13 vezes.
A maioria dos participantes vai acompanhar a primeira fase dos jogos, porque é garantido que o Brasil vai jogar, mas se o país for passando de fases, haverá um aumento de buscas para acompanhar as finais, acredita Paulo. Mas para conseguir assistir, vai depender de disponibilidade de ingressos e hotel para se hospedar.
Com relação a gastos, os investimentos devem grandes. “Acredito que as pessoas que vão à Copa gastarão bastante com alimentação e compras. A região é muito rica, ao redor estão os Emirados Árabes e Arábia Saudita com muito dinheiro.”
Aproveitando a proximidade com outros países turísticos, diversas de pessoas fecharam outros pacotes com o grupo para estender a viagem. “Estamos levando 400 pessoas para o pós-copa em Dubai, tem gente que vai para Maldivas, Índia, Israel, existem aqueles que vão aproveitar e ficar um período na Europa depois dos jogos.”
*Reportagem de Rebecca Vettore, especial para a ANBA