São Paulo – O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, lidera a partir deste final de semana missão oficial e empresarial a quatro países árabes: Kuwait, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Catar. A delegação da pasta será acompanhada por representantes de empresas e outras entidades privadas, como a Câmara de Comércio Árabe Brasileira.
“Um dos objetivos da viagem é agradecer a forma técnica e fundamentada com que os países árabes reagiram à operação da Polícia Federal”, disse à ANBA o secretário de Relações Internacionais do Agronegócio, Odilson Luiz Ribeiro e Silva, referindo-se à operação Carne Fraca, que investiga suspeitas de irregularidades em frigoríficos e na atuação de fiscais do ministério.
Alguns países chegaram a suspender parcialmente as importações de carnes do Brasil quando a operação foi deflagrada, mas desde o primeiro momento a pasta insistiu que as suspeitas dizem respeito a um pequeno grupo de frigoríficos e servidores, que não é representativo do setor como um todo. São 21 as plantas investigadas.
“Gostaríamos de reforçar os laços comerciais, de investimentos e de cooperação com estes países”, observou Silva, ressaltando que as nações do Golfo são tradicionais importadoras de produtos do agronegócio brasileiro, principalmente de frango. A Arábia Saudita, por exemplo, figurou como o quarto maior mercado das exportações agropecuárias brasileiras no período de janeiro a abril deste ano, e os Emirados, como o 19º.
Nos quatro primeiros meses de 2017, as exportações do agronegócio brasileiro aos quatro países que serão visitados pela missão somaram US$ 1,363 bilhão, um aumento de 12% sobre o mesmo período do ano passado, segundo dados do Ministério da Agricultura. No caso do frango, o Oriente Médio é o maior mercado do Brasil lá fora. “São mercados muito importantes para nós, parceiros de longa data, e há ainda um potencial de crescimento muito grande [dos negócios]”, declarou Silva.
Na mesma linha, o presidente da Câmara Árabe, Rubens Hannun, disse que a viagem tem importância “muito significativa”, pois une governo e iniciativa privada para “mostrar a importância dos países árabes para o agronegócio brasileiro”.
“Fazia tempo que um ministro da Agricultura do Brasil não ia à região e isso reforça a posição do País de demonstrar o que realmente ocorreu na operação Carne Fraca”, afirmou Hannun. “E esta é a posição da Câmara Árabe, de levar de maneira transparente para nossos parceiros, os países árabes, os procedimentos adotados no Brasil”, acrescentou.
A Câmara Árabe tem atuado intensamente nesta questão. Após a deflagração da operação, a entidade ajudou a organizar uma reunião do Conselho dos Embaixadores Árabes no Brasil com o secretário Silva e técnicos do ministério, e posteriormente organizou uma visita dos diplomatas a um frigorífico no Rio Grande do Sul onde é feito o abate halal de frangos, prática que segue as tradições muçulmanas. A instituição deu também apoio à visita de uma delegação da Autoridade de Alimentos e Drogas da Arábia Saudita ao País no mês passado e têm atuado como intermediária na troca de informações sobre o tema entre governos e empresas privadas.
“Vamos dar satisfações sobre a qualidade dos produtos brasileiros”, destacou o diretor-geral da Câmara Árabe, Michel Alaby. Ele também ressaltou a importância da visita de um ministro da Agricultura brasileiro à região depois de muitos anos. “Esta ponte com o próprio ministério só vem fortalecer as relações comerciais do Brasil com os países árabes”, declarou.
Negócios
Mais do que dar garantias da qualidade dos produtos nacionais, a missão tem por objetivo também promover negócios. De acordo com Silva, a delegação conta com 20 pessoas que representam cerca de 25 empresas do setor e, além de intensa agenda de encontros com autoridades das nações visitadas, haverá seminários e reuniões com empresários e potenciais investidores.
Estas empresas vão apresentar projetos que têm no Brasil na área do agronegócio e que podem atrair o interesse de investidores da região. “Vamos mostrar que há segurança para aplicar no Brasil, segurança jurídica, livre trânsito de capitais e que o setor tem potencial de se autofinanciar com recursos privados”, observou o secretário.
Nesse sentido, Hannun acrescentou que a missão oferece uma oportunidade para reforçar o papel que o Brasil pode ter na garantia da segurança alimentar dos países árabes, especialmente os do Golfo. Como a região é muito árida, estas nações são obrigadas a importar a maior parte dos alimentos que consome, e governos e investidores de lá vêm buscando projetos agropecuários no exterior para aplicar recursos e garantir o abastecimento de seus mercados.
A Câmara Árabe quer que cada vez mais as nações árabes vejam o Brasil como fornecedor preferencial de produtos do agronegócio e que o País enxergue a região como mercado prioritário. “Apresentar as possibilidades do Brasil no agronegócio faz parte de um movimento nosso, que estamos estruturando, de fortalecer a parceria com os países árabes na questão da segurança alimentar”, destacou Hannun. “Vamos reforçar lá que eles podem contar conosco. Nós, como câmara de comércio, temos a obrigação de facilitar esta relação”, disse.
Michel Alaby acrescentou que a entidade irá destacar seu papel como “catalizadora de informações sobre empresas, potencial de comércio e de investimentos no Brasil”.
O secretário Odilson Silva informou ainda que o governo brasileiro pretende reforçar a cooperação com os países visitados na área de ciência e tecnologia, tanto que um dos integrantes da delegação é o presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Maurício Antonio Lopes.
A agenda da missão começa no domingo na Cidade do Kuwait, depois o grupo segue para Riad, na Arábia Saudita, Dubai e Abu Dhabi, nos Emirados, e, por fim, Doha, no Catar. O retorno ao Brasil está previsto para o dia 23. A ANBA trará diariamente a cobertura completa da programação.


