Isaura Daniel
São Paulo – O comerciante Nagib Smaidi e sua mulher Soraia, de Taubaté, interior paulista, estão se preparando para embarcar para a Arábia Saudita neste final de semana. Na mala Nagib vai levar toalhas grandes e claras e Soraia as vestimentas longas usadas pelas mulheres muçulmanas. Como pede a religião islâmica, Nagib vai se enrolar nas toalhas e Soraia cobrirá todo o corpo, menos o rosto e as mãos, para visitar os locais sauditas sagrados nos quais o profeta Abraão esteve no passado.
O casal faz parte do grupo de muçulmanos brasileiros que fará, no início do próximo ano, a peregrinação a Meca, cidade sagrada do islamismo. Todos os anos entre dois a três milhões de pessoas do mundo inteiro viajam para a Arábia Saudita para fazer a peregrinação, chamada de Hajj em árabe. O próximo Hajj será no dia 7 de janeiro, seguido de quatro dias de feriado. Nestes dias os muçulmanos repetem rituais feitos por Abraão cerca de dois mil anos antes do nascimento de Jesus Cristo.
Os muçulmanos brasileiros costumam viajar em grupos. Os xeques Mohamad Amame e Yasser Hussein, de São Paulo, por exemplo, organizaram uma turma com cerca de 40 pessoas que partirá para a Arábia Saudita na próxima semana. A maioria dos integrantes do grupo vai viajar para Meca pela primeira vez e tem ao redor de 50 anos ou mais. É a primeira vez que os xeques organizam a viagem.
A peregrinação é uma reconstituição do trajeto que fez Abraão após construir, onde hoje fica Meca, a Caaba. Segundo a religião muçulmana, a Caaba foi erguida por ordem divina pelo profeta para ser um local de adoração. Ela ainda está no local original, mas foi reconstruída várias vezes ao longo dos anos. Os peregrinos, além de orar diante da Caaba, vão a outros locais sagrados como o Monte Arafat, visitado por Abraão em sua época por ser onde Adão e Eva, segundo o islamismo, se conheceram.
"A peregrinação é uma forma de se aproximar de Deus, de voltar-se a Deus", diz o xeque Jihad Hassan Hammadeh, vice-presidente da Assembléia Mundial da Juventude Islâmica. Esse, segundo o xeque, é o segundo feriado do ano para os muçulmanos. O outro é o final do Ramadã, período em que os praticantes da religião islâmica jejuam desde o raiar até o pôr do sol.
A viagem
Normalmente os peregrinos viajam ainda em dezembro para a Arábia Saudita para já estarem no país no dia indicado. O casal Nagib e Soraia pretende embarcar no domingo (25) e voltar ao Brasil no dia 20 de janeiro. É a segunda vez que o comerciante fará a peregrinação. Soraia, porém, viaja para o Hajj pela primeira vez.
Nagib, que fez a sua primeira peregrinação em 2002, recorda com precisão dos momentos que passou na Arábia Saudita. "É um alimento para a alma se deparar com o lugar para o qual você se direciona para rezar cinco vezes ao dia. Muçulmanos do mundo inteiro se direcionam à Caaba para rezar e de repente você está neste local", conta o comerciante, que tem 40 anos. No Monte Arafat, que faz parte da peregrinação, Nagib passou um dia inteiro em oração.
Ele também visitou outros locais, que oficialmente não fazem parte da peregrinação, mas que são lugares religiosos. Um deles foi a Mesquita do Profeta, onde o profeta Maomé morou, em Medina. Nagib também foi até a caverna de Hira, onde Maomé recebeu as primeiras revelações do Alcorão, livro sagrado islâmico, do arcanjo Gabriel. A caverna é de pedra e fica no alto de uma montanha.
Apesar de ser a segunda vez que Nagib participa da peregrinação, é a terceira que ele viaja à Arábia Saudita. Na outra viagem, em 2004, o comerciante levou os seus filhos, uma menina de 17 anos e um menino de 14, para conhecer os locais religiosos e históricos do país. Os dois adolescentes, segundo Nagib, também pretendem fazer a peregrinação no futuro.

