Geovana Pagel
São Paulo – Nos últimos quatro anos o número de lojas brasileiras especializadas em brinquedos educativos cresceu 300% e a participação no mercado passou de 5% para 20%. Agora o segmento, formado em sua maioria por micro e pequenas empresas, se prepara para um novo desafio: conquistar cada vez mais clientes no mercado externo.
É o caso dos castelos, casas e foguetes de papelão confeccionados pela Isa Toys, que já são encontrados na Inglaterra, França, Bélgica, Alemanha, Estados Unidos, Japão, Austrália e Nova Zelândia e, em breve, podem chegar ao mercado árabe. "Já temos representantes em Londres e Nova Iorque e alguns contatos no Líbano que logo poderão render negócios", conta Isa Piva, artista plástica e sócia da empresa.
Os brinquedos são feitos em papel-cartão dobrado e chamam a atenção pela criatividade. "As crianças podem entrar (nas casas, castelos e foguetes) e interagir, inclusive colorindo e personalizando as partes brancas do brinquedo", explica.
A empresária lembra que tudo começou de forma bem simples, quando fez uma casinha de papelão para a filha brincar. "Ela gostou tanto que passou a praticamente morar nela", diz Isa. O brinquedo também fez sucesso na escola da filha e entre as mães de outras crianças.
Em 2002, a empresária constituiu a empresa em sociedade com o publicitário Akio Aoki. Foram dois anos testando e aperfeiçoando os brinquedos. Em janeiro de 2004 participaram de feiras internacionais, em Londres, na Inglaterra, e em Nuremberg, na Alemanha. Em 2004 iniciaram a distribuição de brinquedos no Brasil e um estudo de mercado em Miami.
Em 2005, os brinquedos foram lançados no mercado norte-americano. Primeiro durante uma feira do segmento em Nova Iorque e depois na Califórnia.
Outro fabricante nacional que aposta no mercado externo e já realizou contatos com empresas do Mercosul é Alexandre Giannico Borges, da Brinquedos da Aldeia, de Araraquara. O professor de história que adorava trabalhar com madeira nas horas vagas transformou o hobby em profissão há cerca de três anos. "Neste momento, enquanto aguardamos o processo de certificação, estamos em contato com agências de exportação e nos preparando para iniciar as vendas para o mercado externo", conta.
"Acho muito importante os pequenos empresários buscarem o mercado externo para gerar renda e difundir a qualidade do produto brasileiro", destaca Alexandre, que fabrica em madeira desde a linha de joguinhos de quebra-cabeças, jogos de tabuleiro, kits para montar e pintar e brinquedos lúdicos de movimento. A produção mensal de mil peças é semi-artesanal e realizada por seis pessoas.
No mercado interno, a Aldeia abastece os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Paraná, Rio Grande do Sul e Distrito Federal. O mais recente lançamento foi o Baú de Engrenagens, uma divertida engenhoca de madeira, com diversas engrenagens movidas por bolinhas.
Quem segue os mesmos passos de Alexandre na busca dos primeiros clientes lá fora é a arquiteta e artesã Maria Cláudia Hannickel, proprietária da Hannickel Brinquedos, que produz dedoches (pequenos fantoches de dedo) e painéis lúdicos para alfabetização. Tudo feito em tecido 100% algodão ou 100% lã.
Como já morou na França, Maria Cláudia conseguiu um representante local e por intermédio dele pretende chegar a todo mercado europeu. "Sabemos que fabricamos um produto diferenciado e que chama atenção no mercado externo pela falta de oferta", explica. "Nosso carro-chefe hoje são os dedoches de animais brasileiros como tucano, arara-azul, periquito, onça pintada e jacaré", ressalta.
Maria Cláudia também desenvolveu uma Bíblia para pré-evangelização das crianças. Dedoches com personagens e histórias de Velho e do Novo Testamento ficam dentro do livro. Hoje a capacidade de produção mensal da Hannickel é de 12 mil unidades de dedoches e 500 painéis. "No começo era tudo bem artesanal. Agora já temos uma linha de montagem no ateliê, onde trabalham 10 pessoas", conta a empresária.
Para aprender brincando
"Os pais estão mais conscientes da importância dos brinquedos na formação da criança, não só como forma de divertimento, mas também de educação", diz o presidente da Associação Brasileira de Brinquedos Educativos (Abrine), Altino Ito. "Hoje, cerca de 20% do mercado nacional de brinquedos é formado pelos brinquedos educativos", conta. E a maior parte, segundo ele, são produtos feitos por micro e pequenas empresas.
"Os grandes fabricantes de brinquedos têm linhas educativas. Mas os pequenos se dedicam exclusivamente a esse ramo", ressalta. Essa fatia de mercado – que era de cerca de 5% em 2001 – cresceu principalmente pelo esforço de colocação no mercado dos próprios microempresários.
"Hoje os brinquedos brasileiros não deixam nada a desejar em termos de qualidade, criatividade e acabamento", analisa Ito. "Existe potencial por parte das empresas, existe interesse dos compradores. O que está faltando às empresas é capacidade de produção e uma preparação adequada para vender para o mercado externo", diz.
Para auxiliar e qualificar os empresários, há cerca de um ano a Abrine estabeleceu parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequenas Empresas em São Paulo (Sebrae/SP). Desde então, técnicos do Sebrae participam semanalmente dos encontros da entidade, realizados na Administração Regional da Lapa na capital paulista.
Nestas reuniões, são discutidos temas como organização, gestão e, especialmente, o projeto para certificação dos brinquedos educativos brasileiros, essencial para expansão das empresas tanto no mercado interno quanto externo.
Contatos
Abrine
Telefone: 55 (11) 5891.7863
E-mail: abrine@abrine.com.br
Site: www.abrine.com.br
Brinquedos da Aldeia
Telefone: 55 (16) 3331.3361
Site: www.brinquedosdaaldeia.com.br
Isa Toys
Telefone: 55 (11) 3081.5841
Site: www.isatoys.com
Hanickel Brinquedos
Telefone: 55 (11) 5548.9334
E-mail: bhannickel@terra.com.br

