São Paulo – A indústria brasileira de calçados aguarda uma melhora nas vendas nos mercados doméstico e internacional nos últimos três meses deste ano. Em entrevista à reportagem da ANBA, o presidente executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Haroldo Ferreira (foto acima), afirmou que há expectativa de um início de recuperação no quatro trimestre e que as indústrias estão recebendo pedidos do mercado externo.
O setor foi fortemente afetado na pandemia de covid-19 e sofreu principalmente em função do fechamento das lojas físicas, o grande canal de vendas de calçados no Brasil e no mundo. Com a reabertura das lojas na maioria dos países, a perspectiva melhora. O cenário, porém, está longe do ideal. Níveis de vendas iguais aos de antes da pandemia são aguardados apenas no primeiro ou até segundo semestre de 2021.
Ferreira lembra que a indústria está extremamente fragilizada. “Estamos saindo do fundo do poço e começando a taxiar para poder decolar”, afirma ele. A indústria brasileira de calçados encolheu em média 30% em sua capacidade de produção e perdeu 60 mil postos de trabalho na pandemia. No mês de julho, já dentro desse novo cenário de tamanho reduzido, as fábricas operaram com 50% da capacidade.
Apesar das lojas abertas, os consumidores não estão circulando e comprando em patamares iguais aos de antes da covid-19 nem no Brasil e nem no exterior. O comércio de shopping não está acontecendo, segundo Ferreira. “Temos que trabalhar muito para poder voltar aos números em que estávamos”, diz o presidente-executivo da Abicalçados.
Os efeitos da pandemia são sentidos pela indústria desde a metade de março, quando as lojas foram fechando no Brasil e em outros países e os cancelamentos de pedidos começaram a chegar nas fábricas de calçados. No Brasil, o estado de São Paulo, que consome 40% da produção do setor, recentemente flexibilizou o isolamento e permitiu a abertura das lojas.
As fábricas e o varejo de calçados se adaptaram ao consumo online, o que amenizou um pouco os prejuízos, mas ficou longe de absorver toda a produção. Ferreira conta que marcas que já tinham uma operação mais preparada na área conseguiram comercializar de 15% a 20% da produção pelos canais digitais. Parte das lojas vendeu por Whatsapp e na tentativa de sobreviver, as próprias indústrias foram atrás do consumidor pelos canais virtuais, fazendo B2C. “As operações de venda através do e-commerce deram um pequeno auxílio para o comércio varejista e a indústria sobreviverem”, fala ele.
Sem a realização de feiras presenciais, onde boa parte da produção de calçados do Brasil é comercializada, a Abicalçados criou uma plataforma de conexão entre lojistas brasileiros e fabricantes, a Calçados do Brasil. Em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), a Abicalçados já tinha, pelo programa Brazilian Footwear, uma plataforma para o contato inicial de indústrias brasileiras de calçados com importadores. Ela segue ativa.
Uma das grandes feiras mundiais de calçados, a Micam Milano, na Itália, vai ocorrer de maneira híbrida, parte presencial e parte online, em setembro. Como pessoas vindas do Brasil estão proibidas de entrar em território italiano por hora, só vão participar presencialmente marcas que já têm seus representantes na região. As demais participarão de forma virtual, de acordo com Ferreira. Há uma série de outras feiras digitais internacionais previstas e os brasileiros vão participar pelas plataformas online.
A volta das feiras, mesmo que digitais, traz possibilidades de melhora nas exportações. De janeiro a julho deste ano, a indústria brasileira de calçados teve queda de 33% nas vendas internacionais sobre o mesmo período de 2019. A receita caiu de US$ 567 milhões para US$ 379 milhões. As vendas para o mercado árabe também recuaram, mas em patamar menor que o geral: 24,3%, de US$ 29 milhões para US$ 22 milhões.
Houve diminuição nas compras pelos maiores mercados do calçado brasileiro no mundo árabe, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita, cujas compras foram 60% e 30% menores, respectivamente, nos primeiros sete meses deste ano sobre o mesmo período de 2019. Também importaram menos Kuwait, Líbano, Argélia, Marrocos, Egito, Omã, Catar e Iraque. Por outro lado, Líbia, Bahrein, Jordânia e Sudão compraram mais calçados do Brasil, segundo dados da Abicalçados.