Cairo – O presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Rubens Hannun, anunciou neste domingo (15) uma iniciativa para a criação de linhas diretas de transporte marítimo entre o Brasil e os países árabes. Hannun falou sobre o tema no Seminário de Negócios Brasil-Egito, que ocorreu no Cairo como parte da programação da visita da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, ao Egito. Participaram do seminário, na sede da Federação das Câmaras de Comércio do Egito, empresários dos dois países.
Segundo Hannun, no começo deste mês o Conselho Econômico da Liga Árabe, em reunião com os ministros da economia de países árabes, decidiu que vai trabalhar pelo desenvolvimento de linha diretas marítimas entre Brasil e países árabes. O objetivo é fomentar a criação de empresas para atuar na área e que tenham investimentos conjuntos do setor privado árabe e brasileiro. O esforço será feito em parceria com a Câmara Árabe e a União Geral das Câmaras Árabes, que é o braço comercial da Liga. As duas atuaram juntas por essa medida.
Em entrevista à ANBA, após o seminário, o presidente da Câmara Árabe falou que acredita que as linhas vão ajudar a baratear os produtos. Atualmente, entre o Brasil e o Egito, há linha direta só para alguns produtos específicos. Os navios oriundos do Brasil passam por outras regiões até atracar no mundo árabe. “Se tem linha direta, você ganha em tempo e é possível ser mais barato, você tem uma sinergia para a volta, para que o navio não fique vazio. A hora que isso estiver em operação, cai o custo do frete e o custo da mercadoria”, diz Hannun.
Hannun também falou no seminário de outra medida que vai baratear custos e encurtar o tempo do processo de exportação brasileira aos países árabes, que é a implementação da certificação de documentos online emitida pela Câmara Árabe. “Estamos trabalhando nisso, com a certificação online cai em 20% o valor, diminui o prazo de 20 para cinco dias”, disse para a ANBA. O uso da certificação online já está em testes com a Jordânia. “Tudo isso passa a dar acesso maior de produtos para as populações porque vai ser mais barato”, afirmou Hannun.
No mesmo seminário, a ministra Tereza Cristina falou sobre a parceria comercial que o Brasil mantém com o Egito e disse que é imprescindível que os países continuem trabalhando para diminuir barreiras. Ela frisou especialmente a necessidade de diversificação da pauta de produtos comercializados, uma das bandeiras da sua viagem aos países árabes. A passagem pelo Egito faz parte de uma missão que inclui passagem por Arábia Saudita, Kuwait e Emirados.
Ela lembrou que o Egito é o 11º maior importador de produtos agropecuários e que, dos US$ 2,1 bilhões que o Brasil exportou para o país árabe em 2018, 67% foi relativo ao setor. “Mas a pauta ainda é muito concentrada”, disse, citando que carne, bovina, milho e açúcar respondem por 75% das exportações. “Há muito espaço para crescer e diversificar”, disse. A ministra Tereza Cristina afirmou que o Brasil tem representatividade mundial em café e sucos de frutas, mas que esses não têm representatividade na pauta com Egito.
A superintendente de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Lígia Dutra, também falou no seminário sobre a concentração da pauta de exportação do agronegócio brasileiro. Ela mostrou alguns produtos que o Brasil poderia fornecer mais ao Egito, como lácteos, frutas, flores e vegetais, peixes, produtos da apicultura e café. O comércio do Brasil com o país é muito atrelado à proteína animal, segundo ela. Mas mesmo assim, o Brasil tem espaço para aumentar sua produção para atender a exportação, de acordo com Lígia.
Por outro lado, o diretor geral de Acordos Internacionais do Ministério do Comércio e Indústria do Egito, Michael Gamal Kaddes, falou sobre o acordo de comércio que o Mercosul tem com o Egito e disse a pauta egípcia de exportações ao bloco é concentrada em produtos manufaturados. “O Egito até hoje não conseguiu exportar seus produtos agrícolas ao Mercosul”, falou. O país quer vender mais produtos do agronegócio às nações do bloco, onde tem o Brasil como maior parceiro comercial.
O presidente da Federação de Câmaras de Comércio do Egito, Ibrahim El Araby, abriu o seminário e ressaltou a importância do Brasil como fornecedor de alimentos ao seu país. Segundo ele, 11% dos produtos alimentícios consumidos no Egito vêm do Brasil. Mas ele acredita que os números atuais de comércio não traduzem todas as oportunidades e mostrou vontade de ver mais investimentos brasileiros no Egito. Segundo Araby, o Brasil já investe no seu país em cimentos, ônibus e agronegócio.
Também falaram no seminário o diretor executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, o vice-presidente da Associação de Importadores Egípcios de Alimentos Congelados, Sherif Ashouf, e o secretário-geral da Federação das Câmaras de Comércio do Egito, Alaa Ezz, e participou da mesa o embaixador do Brasil no Egito, Ruy Amaral. Após as palestras, houve encontro entre empresários da delegação brasileira e egípcios. As atividades na Federação foram parte da missão da ministra e tiveram a organização da Câmara Árabe.