Por Osmar Chohfi
A Câmara de Comércio Árabe Brasileira chega aos 71 anos neste 02 de julho de 2023 transformando-se e inovando. Estando atualmente na liderança desta instituição, orgulho-me de dizer que aquela Câmara Árabe, que em 1952 foi criada para unir árabes e brasileiros por meio do comércio e da cooperação empresarial, segue cumprindo sua missão por remodelados e inovadores caminhos.
Na década de 1950, quando o comércio bilateral Brasil-Países Árabes ainda era incipiente, o estabelecimento desta Câmara Árabe por imigrantes árabes e seus descendentes, incluindo meus familiares, foi uma atitude visionária. Agora em novos tempos, mas com o mesmo espírito deles, mantemos esta instituição em pé tecendo laços de negócios cada vez mais fortes e avançados com os árabes.
O começo desses 71 anos de história foi feito de ações que eram ousadas para a época. Levar empresários brasileiros em delegações a negócios ao mundo árabe era um feito, assim como era de causar admiração a presença de companhias brasileiras em feiras no lado oriental do mundo. Não demorou muito e a Câmara Árabe já era referência nessa rota comercial para empresários e autoridades daqui e de lá.
Nessas décadas todas de Câmara Árabe foram incontáveis os encontros com autoridades árabes e brasileiras, assim como o acompanhamento de delegações oficiais, as participações em feiras, a organização de missões empresariais, as rodadas de negócios que aproximaram árabes e brasileiros, a nossa presença em púlpitos Brasil afora e no mundo árabe para proclamar a importância e a potência dessa relação.
Brasil e mundo árabe se complementam estrategicamente e por isso estamos aqui estabelecidos como Câmara Árabe. Nossa trajetória comprovou essa complementaridade. Como exemplo realço que os países árabes são eficientes produtores de fertilizantes e o Brasil é uma potência na agricultura e na pecuária. Ter o fertilizante árabe por aqui significa mais alimentos para o mundo, e o Brasil é parceiro significativo para a segurança alimentar no mundo árabe.
Só nos anos mais recentes há muitos exemplos de onde Brasil e países árabes se encontram. O investimento árabe chegou na nossa produção de carne bovina. Fizemos doações em função das tragédias que afetaram alguns países árabes. Recebemos donativos árabes para projetos sociais do Brasil. Levamos aos árabes nossa expertise na agricultura. Nossos governos pleitearam por causas de bem comum no G20, nas Nações Unidas e em outras instâncias. Com diferentes acordos, reduzimos tarifas e liberamos o comércio em favor de um melhor acesso a produtos aqui e lá, bem como incentivamos investimentos recíprocos.
Como um dos sustentáculos e uma grande provocadora dessa relação, a Câmara Árabe se adapta e se reinventa aos novos tempos, em que o comércio internacional pede mais agilidade, menos custos, parcerias ininterruptas e produtos mais avançados, seguros e produzidos com ética e sustentabilidade. Criamos uma importante plataforma, a Ellos, que usa blockchain e leva para o digital o processo de comércio exterior, encurtando tempo e custos. Na exportação com a Jordânia, o papel já foi dispensado e o mesmo acontecerá em breve no comércio com o Egito e com outros países árabes.
Seguimos firmes ajudando empresas na promoção comercial, mas agora também de forma online. Criamos um laboratório de inovação chamado CCAB Lab, por meio do qual aproximamos os ecossistemas do Brasil e dos países árabes, levando startups brasileiras ao Oriente Médio e ao Norte da África. Abrimos escritórios nos Emirados Árabes Unidos e no Egito, e lançaremos em breve na Arábia Saudita, encurtando distâncias para que empresas árabes e brasileiras se aproximem.
Estamos levando adiante, com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), o Projeto Halal do Brasil, por meio do qual queremos transformar novas empresas brasileiras de alimentos em fornecedoras dos países muçulmanos, trazendo mais renda e oportunidades para nosso País e suprindo as nações islâmicas com os produtos que demandam. Produzir halal significa produzir com sustentabilidade e padrões de qualidade.
Essas são apenas algumas iniciativas dos últimos anos na direção de um comércio mais efetivo e profícuo. Também temos estado em muitas outras frentes, como na promoção da cooperação esportiva, no fomento ao intercâmbio cultural, no incentivo à manutenção dos laços imigratórios e ao estreitamento das relações dos países irmãos da América do Sul com as nações árabes.
No mundo em evolução, as sociedades definem novas prioridades e a Câmara Árabe encontra novos caminhos para cumprir sua missão. Um exemplo disso foi nossa presença na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a COP27, no Egito, que faz parte da nossa adesão aos princípios de ESG (governança ambiental, social e corporativa). Assim, aos 71 anos, estamos aqui para muitos anos mais e novos desafios. Obrigado a todos que confiam em nossa Câmara e são parceiros no nosso propósito.
Osmar Chohfi é diplomata e presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira