São Paulo – A Câmara de Comércio Árabe Brasileira integra a missão do governo federal que está na China. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lideraria a visita, não viajou em função de um problema de saúde e terá sua ida remarcada. O ministro da Agricultura e Pecuária (Mapa) do Brasil, Carlos Fávaro, no entanto, segue com agenda no país asiático até a próxima quarta-feira (29), acompanhado de políticos, empresários e líderes de entidades, entre eles o secretário-geral e CEO da Câmara Árabe, Tamer Mansour (foto acima). Já a agenda da comitiva nos Emirados Árabes Unidos no dia 31 de março, onde o grupo estaria com Lula, foi cancelada. Ela será remarcada.
“A participação da Câmara Árabe na missão à China tem forte relação com dois de nossos grandes projetos, que são o Halal do Brasil e a implementação da rastreabilidade de produtos”, afirmou Mansour. A Câmara Árabe leva adiante com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) um projeto que tem como meta inserir mais alimentos com valor agregado do Brasil no mercado mundial halal. A instituição também pretende oferecer rastreabilidade, via blockchain, para produtos com certificação halal que serão exportados, permitindo que o produto possa ser acompanhado desde a sua origem até o ponto de consumo.
Apesar da China não ser um país de maioria muçulmana, ela é o maior destino de produtos com certificação halal exportados pelo Brasil, de acordo com informações de Mansour. Durante a missão, o secretário-geral quer encontrar parceiros chineses que atuem no mercado halal local e possam oferecer expertise aos exportadores brasileiros sobre as exigências da China para a compra de halal. Sobre a rastreabilidade, que é um projeto no qual a Câmara Árabe está trabalhando com certificadoras brasileiras de halal, Mansour afirma: “Por que não começar com um grande importador, que é a China?”. A ideia é oferecer a tecnologia de rastreabilidade dos produtos aos chineses.
A demanda da China por alimentos halal é de US$ 20 bilhões ao ano e os consumidores muçulmanos no país somam 26 milhões de pessoas, segundo um levantamento realizado pelo Departamento de Inteligência de Mercado da Câmara Árabe. Boa parte desse consumo está na região de Ningxia, no noroeste chinês, onde há fortes conexões culturais, religiosas e comerciais com países muçulmanos. A China também é produtora de halal, ocupando a posição de quinta maior exportadora de alimentos halal para países da Organização para a Cooperação Islâmica (OIC, na sigla em inglês), atrás de Brasil, Índia, Estados Unidos e Rússia. O Brasil é o maior exportador de produtos agropecuários para a China, segundo informações do governo brasileiro.
O secretário-geral atribui o convite recebido para integrar a missão às parcerias que a Câmara Árabe tem travado com diferentes órgãos e pastas do governo federal, entre elas a ApexBrasil, com a qual desenvolve o projeto Halal do Brasil. “A ApexBrasil enxerga a importância da Câmara Árabe além das fronteiras dos 22 países árabes e acredito que podemos fazer um trabalho para promover o valor agregado brasileiro”, diz. O projeto Halal tem ações previstas não apenas nos países árabes, mas também de outras nações com consumo halal, como África do Sul e Malásia.
Carlos Fávaro na China
Nesta segunda-feira (27), o ministro Fávaro participou da abertura do evento “Diálogo China-Brasil de Desenvolvimento Sustentável: governos locais, think tanks e empresas em ação”, em Pequim. O evento teve a presença dos empresários e agentes públicos do Brasil e da China, aos quais Fávaro falou sobre as potencialidades do desenvolvimento sustentável do agronegócio do Brasil que, a partir do próximo Plano Safra, terá um incentivo ainda maior para a recuperação de terras, o que possibilitará dobrar a área de produção no país.
“O Brasil pode e deve intensificar sua produção de alimentos. O Brasil pode e deve intensificar suas relações comerciais com a China. E podemos fazer tudo isso de forma sustentável, aumentando a produção, tanto da agricultura, quanto da pecuária, sem desmatar uma árvore”, ressaltou o ministro. O encontro teve como meta aproximar governos, think tanks e empresas do Brasil e da China para a discussão conjunta de uma transição para a economia de baixo carbono.