São Paulo – No ano em que completou 65 anos (em 02 de julho), a Câmara de Comércio Árabe Brasileira prepara uma série de novidades para seus associados, clientes e parceiros. Aliás, 2017 já começou com novidades, como a eleição de um novo presidente em janeiro e a inauguração de uma nova sede em abril, na capital paulista.
“Estamos nos preparando para um futuro muito promissor, porém, imprevisível, não só para a Câmara, mas para todos os setores”, disse o presidente da entidade, Rubens Hannun. “Estamos preparando nossa equipe para isso. Ela é muito profissional, está motivada e tem esta visão de futuro, o que implica sair da zona de conforto.”
Hannun ressaltou que o trabalho dos profissionais da Câmara inclui a busca por inovação e a agregação de valor aos serviços que ela presta.
Nesse sentido, uma das iniciativas a serem implementadas é a associação de empresas do mundo árabe. Embora a entidade auxilie empresários árabes na realização de negócios no Brasil, seu quadro de associados é composto exclusivamente por brasileiros.
Para Hannun, este é um dos instrumentos para fazer avançar as relações bilaterais, colocar todas empresas dos dois lados dentro do mesmo “clube” e cruzar as demandas complementares. “Há um mercado [conjunto] de potencial fantástico, o mercado interno [brasileiro], que hoje está mais fraco, e o mercado árabe, que é forte e comprador. Vamos ver como concretizar este potencial”, afirmou Hannun.
Parte deste trabalho, segundo ele, a Câmara já fez ao conscientizar empresários brasileiros que o mercado árabe representa um bloco e, portanto, um mercado muito maior do que cada país da região individualmente. Juntas, as nações árabes do Oriente Médio e Norte da África têm mais de 390 milhões de habitantes e um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 6,45 trilhões em paridade de poder de compra.
Segundo o diretor-geral da entidade, Michel Alaby, para atrair associados árabes, a ideia é dar apoio a estes empresários nos negócios com o Brasil por meio do fornecimento de informações sobre empresas brasileiras e sobre os procedimentos comerciais, estatísticas de mercado, suporte logístico em viagens ao País, além da designação de um profissional da Câmara para auxiliar nos contatos de negócios.
Hannun acrescentou que a Câmara Árabe vai reforçar sua “diplomacia econômica, ou seja, realizar ações que incentivem diretamente os negócios, mas também indiretamente, como eventos de intercâmbio cultural, social e esportivo. “A diplomacia econômica vê o comércio, mas vê também tudo o que está a sua volta, como as relações culturais, sociais e esportivas, por exemplo, que têm o comércio como consequência. Por isso investimos nestas áreas”, observou.
Hannun avalia que o reforço da “marca Brasil” pode ajudar na exploração do potencial do mercado, ou seja, fixar na cabeça dos consumidores estrangeiros que os produtos feitos no País representam garantia de características como qualidade e preço competitivo. “Temos que trabalhar isso no mundo árabe”, declarou o presidente.
Outra iniciativa planejada pela Câmara Árabe, segundo Hannun, é a realização de uma pesquisa com empresas que atuam no comércio entre o Brasil e os países árabes para saber quais são suas principais demandas e daí elaborar novas ações.
Nova sede
A nova sede da entidade já serve em parte a estes propósitos. Localizadas na Avenida Paulista, as amplas instalações permitem a realização de uma série de atividades, como palestras, seminários, reuniões, rodadas de negócios, exposições de produtos, apresentações culturais, eventos sociais, entre outras.
De acordo com o ex-presidente da Câmara Árabe e atual presidente do conselho da entidade, Walid Yazigi, a antiga sede, quando foi inaugurada em 1966, ocupava apenas uma sala, também na Avenida Paulista. Conforme a entidade e seu quadro de funcionários foram crescendo, novas unidades foram adquiridas no mesmo prédio, “mas sem o merecido planejamento”.
“Tendo disponibilidade de caixa, a Câmara comprou dois andares no prédio em frente [à antiga sede] e neles instalamos uma sede com ocupação já racionalizada”, disse Yazigi sobre as instalações inauguradas em 2017. “Tínhamos uma área de construção folgada para um novo planejamento”, acrescentou.
O novo espaço foi concebido pelo arquiteto Ruy Ohtake, o mesmo que projetou o prédio onde a entidade se encontra agora. “Hoje as instalações estão à altura da grandiosidade da Câmara Árabe”, destacou Yazigi.
Para Hannun, a realização de eventos nas dependências da instituição irá ressaltar seu papel na promoção do comércio e das relações do Brasil com os países árabes em geral, pois tais atividades vão reunir no mesmo espaço os protagonistas do intercâmbio bilateral, como diplomatas, representantes de governos e empresários. “Com estes eventos, as relações tendem a crescer, e não só o comércio”, observou.
Ações
Um dos objetivos da Câmara atualmente é ampliar as exportações de países árabes para o Brasil, e as ações planejadas pela entidade levam isso em consideração. “A primeira intenção da Câmara foi a exportação, mas depois surgiu o viés da importação. Eu creio que esta é a única câmara de comércio que faz estes dois caminhos [de promoção tanto das exportações como das importações]”, comentou a diretora da área cultural da entidade, Sílvia Antibas, historiadora e autora de um livro sobre a organização, lançado em comemoração aos seus 60 anos.
Esta é uma demanda importante dos parceiros árabes da Câmara. O decano do Conselho dos Embaixadores Árabes no Brasil e embaixador da Palestina, Ibrahim Alzeben, quer ver cada vez mais promoção de produtos árabes no Brasil. “Precisamos trabalhar mais para isto e também para a realização de investimentos entre ambas as partes”, disse o diplomata. “Há um potencial enorme de lado a lado”, afirmou.
Para tanto, Alzeben defende a realização de missões comerciais e governamentais do Brasil aos países árabes e vice-versa, e um trabalho junto ao governo brasileiro no sentido de sensibilizá-lo a assinar acordos de proteção de investimentos e para evitar bitributação com nações do Oriente Médio e Norte da África.
Hannun destacou que a promoção de investimentos recíprocos é uma das tarefas da Câmara Árabe. “Vamos promover os investimentos entre os países, estamos trabalhando nisso”, afirmou.
Para este segundo semestre, a Câmara programou uma série de ações para fortalecer as relações econômicas entre o Brasil e os árabes, algumas inéditas e outras já tradicionais. Destaque para os festivais de produtos brasileiros que serão realizados no shopping Yas Mall, em Abu Dhabi, e na rede de supermercados Panda, na Arábia Saudita. “Vamos ampliar o conceito de ‘semana do Brasil’ em supermercados, não só para alimentos, mas para bens de consumo em geral”, informou Alaby. No passado, a entidade organizou ações do gênero junto a varejistas do Kuwait e do Egito.
Na outra mão, a instituição espera receber no Brasil missões de Ras Al Khaimah, nos Emirados Árabes Unidos, do Catar, do Centro de Desenvolvimento da Economia Islâmica de Dubai, para divulgar os “seis pilares” da “economia halal” – que é regida por tradições muçulmanas -, e será realizado um seminário sobre o acordo de livre comércio Mercosul-Egito, que entra em vigor este ano. “Vamos explorar as oportunidades a partir do acordo”, observou Alaby.
Está prevista também a realização de uma missão comercial brasileira ao Egito, Jordânia, Tunísia e Mauritânia, para empresários interessados em exportar e importar produtos e serviços, e outra para os sete emirados que compõem os Emirados Árabes Unidos. No calendário está ainda a participação na feira do ramo de construção Big 5, em Dubai, no final do ano, entre outras ações. “O mercado interno continua em recessão, então estas são oportunidades de buscar mercados fora”, observou Alaby.
A Câmara Árabe é hoje considerada uma referência da promoção das relações do Brasil com as nações árabes por representantes de governos, diplomatas e empresários, mas isso não ocorreu da noite para o dia. Clique aqui para conhecer um pouco desta história.