São Paulo – Há três anos Muna Darweesh fugiu de Damasco, na Síria, com o marido e quatro filhos. Veio para São Paulo, onde sustenta a família atendendo encomendas de comida árabe, que recebe pelas redes sociais. Uma das coisas que mais sente falta é de passar um tempo na casa de vizinhos, amigos e família. “Preciso me relacionar com as pessoas, porque não tenho família, não tenho amigos”, reclama, em vídeo da campanha "Meu Amigo Refugiado".
“As pessoas me perguntam de onde eu sou. Respondo que sou de Gaza, então elas entram em pânico”, conta Leon Diab, palestino refugiado em São Paulo, no mesmo vídeo. “Tive um Natal uma vez aqui no Brasil. Fui convidado e fiz muitos amigos”, lembra.
Darweesh e Diab, assim como outros refugiados de diversos países, terão a oportunidade de serem convidados a passar o Natal na companhia de uma família brasileira. Eles foram selecionados pela Migraflix, entidade sem fins lucrativos que promove a integração cultural e o empoderamento econômico de refugiados, para a campanha “Meu Amigo Refugiado”, desenvolvida em parceria com a agência carioca NBS. O primeiro passo é justamente selecionar famílias que queiram oferecer um jantar ou almoço de Natal para um refugiado.
“O Brasil tem oito mil refugiados reconhecidos e 28 mil aguardando reconhecimento”, diz Jonatan Berezovsky, fundador da Migrafix, responsável por selecionar os refugiados interessados em passar o Natal na companhia de famílias brasileiras, que atualmente são em número menor do que os de pessoas dispostas a recebe-los: segundo a NBS em menos de 24 horas foram 160 convites, vindos de todo o Brasil.
O trabalho agora é unir as famílias com os refugiados. O problema é que, como a Migraflix fica em São Paulo, grande parte das pessoas selecionadas são da capital paulista. Só que os convites chegam de Norte a Sul do Brasil, com gente disposta até a pagar a passagem dos potenciais convidados. A agência carioca foi, portanto, atrás da Agência da ONU para Refugiados (Acnur) para procurar ONGs de outros estados e mapear outros refugiados.
No site www.meuamigorefugiado.com.br há ainda a possibilidade de refugiados interessados se inscreverem.
Todos os cadastrados são apresentados na página. Abaixo da foto com a história de cada um existe um botão “Convide para o seu Natal”, que abre um formulário onde os dados dos interessados são coletados. Uma equipe fará a intermediação entre os interessados, promovendo um natal no mínimo diferente para eles, com expectativa de bom aprendizado para ambos os lados.
Mas não para por aí: segundo Berezovsky, a ideia é expandir a campanha para após a data festiva. “Queremos fazer a maior quantidade de encontros possíveis, não só no Natal, mas no ano novo e, quem saber, fazer isso uma vez por mês”, projeta.
“Eu preciso sempre explicar mais sobre muçulmanos, sobre o Islã. Eu não sou como o Estado Islâmico, eu sou diferente, somos diferentes”, diz Muna Darweesh. Graças à campanha, ela poderá ter essa oportunidade em breve.
Serviço
Campanha “Meu Amigo Refugiado”
Site: www.meuamigorefugiado.com.br
Facebook: www.facebook.com/meuamigorefugiado
Vídeo do projeto: https://youtu.be/p577E0RwKKw