Cláudia Abreu
São Paulo – Carros brasileiros deverão rodar com motor tetracombustível até o final deste ano. A tecnologia foi desenvolvida pela subsidiária no Brasil da empresa italiana Magneti Marelli, em Hortolândia (SP). O sistema permite que os veículos sejam abastecidos com álcool, gasolina, GNV (gás natural) e nafta (gasolina pura), usada em alguns países da América do Sul.
Segundo Silvério Bonfiglioli, presidente da Marelli no país, o motor tetracombustível é uma evolução do sistema bicombustível, que está no mercado há dois anos e permite o abastecimento com álcool e gasolina. A empresa foi pioneira no desenvolvimento dessa tecnologia e é responsável por cerca de 60% dos veículos – também conhecidos como flex fuel – que circulam nas estradas brasileiras.
A tecnologia tetracombustível – assim como a do bicombustível – faz parte de um programa que a companhia tem desde 98 de desenvolver um veículo único para todo o Mercosul. "A intenção é que o motorista possa andar de carro da Venezuela até a Terra do Fogo (sul da Argentina) sem se preocupar em como abastecer o carro. Se passar pelo Brasil, pode colocar álcool. Na Bolívia, gás. Em território argentino, nafta", afirma Bonfiglioli.
Sem botão
No sistema tetra, a troca de combustível acontece sem o motorista perceber. "Uma central eletrônica comanda toda a distribuição dos quatro tipos de combustíveis. E o usuário não precisa apertar nenhum botão ou acionar chave (como ocorre atualmente nos veículos que passam por transformação de motor de gasolina para o GNV). É tudo automático", explica Bonfiglioli.
Outra preocupação da empresa foi a de minimizar a perda de potência do carro no momento da passagem do combustível líquido para o gasoso. Segundo o executivo da Marelli, nos motores transformados, o carro perde entre 20% e 30% de potência nessa operação. Por causa disso, o sistema se tornava inviável para carros de baixas cilindradas – os chamados 1.0, por exemplo.
No sistema tetracombustível desenvolvido pela empresa, essas perdas de potência foram reduzidas para entre 5% e 8%, dependendo do modelo do carro. "Isso significa mais segurança para o motorista. Na hora de uma ultrapassagem, por exemplo, o veículo perde o mínimo de desempenho", explica Bonfiglioli.
Custos
Um estudo da Marelli mostra que entre 25 mil e 30 mil carros movidos à gasolina são adaptados mensalmente no Brasil para o uso do GNV. O valor da conversão varia conforme o modelo do carro e pode custar entre R$ 2,5 mil e R$ 4 mil. A adaptação é sempre feita por terceiros. "O produto de fábrica custará, em média, 30% mais barato que a transformação", afirma Bonfiglioli.
A produção dos carros tetracombustíveis deverá acontecer ainda no primeiro semestre deste ano. A Marelli já negociou a venda do sistema com uma grande montadora no Brasil. O nome da companhia, no entanto, é mantido em segredo.
Fora do Brasil, a empresa conversa com nações árabes, principalmente Arábia Saudita. Também há contatos com Irã e China. "No Oriente Médio existe gás em abundância e eles têm interesse na nossa tecnologia. São compradores potenciais, mas ainda não temos nada fechado", afirma Bonfiglioli.
Na China, as negociações estão mais avançadas. Técnicos brasileiros já foram ao país assessorar a subsidiária da Marelli no desenvolvimento da tecnologia bicombustível. A China é o mercado automobilístico que mais cresce no mundo hoje. Lá, o álcool é produzido a partir do arroz e misturado à gasolina. Em algumas regiões, a porcentagem de álcool no combustível é de 30%, mas a intenção dos chineses é aumentar essa quantidade.
Investimentos
Para desenvolver o sistema tetracombustível, a planta da Marelli de Hortolândia recebeu investimentos de US$ 40 milhões nos últimos dez anos. O valor foi aplicado na compra de equipamentos e na contratação de pessoal capacitado. Atualmente, 90 engenheiros de desenvolvimento trabalham na empresa que ocupa cerca de três mil metros quadrados.