Geovana Pagel
São Paulo – A Casa da Bóia é considerada um dos estabelecimentos mais tradicionais do comércio de metais da cidade de São Paulo. É a casa mais antiga da "rua das máquinas", como é conhecida a Florêncio de Abreu, no centro da capital paulista.
Fundada em 1898, sempre pertenceu à família do atual diretor, Mario Roberto Rizkallah, neto do imigrante sírio Rizkallah Jorge, que trabalhava com metais não-ferrosos e foi fundador da empresa.
O sobrado, concluído em 1909, em estilo art nouveau, ainda resiste imponente após restaurações de sua fachada em 1996 e 2001. O edifício foi tombado em 1993 pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) e considerado de interesse histórico pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat).
O casarão abriga uma loja que comercializa cerca de 500 itens de metais não-ferrosos como cobre, latão, bronze e alumínio. Também vende uma linha completa de utilidades domésticas, hidráulica, elétrica, de ferramentas e artesanato.
O nome inicial da empresa era Riskallah Jorge e Filhos, e um dos produtos que fabricavam e vendiam era a bóia de caixa d’água. Logo, quando as pessoas procuravam por este produto, sempre alguém dizia "vai na casa da bóia", conta o empresário. Daí a mudança de nome, oficializado em 1951.
Além da bela fachada, a loja conta com um museu, com fotos, peças e maquinários, documentos, livros contábeis, mobílias originais da inauguração e pinturas decorativas, descobertas na sala de visitas há alguns anos, debaixo de várias camadas de tinta.
Objetos achados compõem museu
Riskalla, formado em administração de empresas, mas que antes mesmo de terminar o curso começou a trabalhar no setor administrativo da loja, conta que, desde esta descoberta, foram surgindo novos materiais, guardados em caixas antigas, depósitos pouco usados ou gavetas quase nunca abertas.
O resultado, segundo ele, é que dezenas de livros contábeis, contratos, faturas de venda, letras de câmbio, canhotos de talões de cheques, alvarás, plantas do imóvel e até um filme, em 35 mm, produzido para a comemoração dos 30 anos da empresa em 1928, foram recuperados.
A descoberta de todo este acervo histórico motivou a empresa a ampliar seu museu, restaurando uma nova sala do andar superior. “A reforma incluiu a contratação de uma empresa especializada em restaurações”, conta.
Foram pesquisadas as características originais do imóvel, como as portas e janelas feitas em pinho de riga, escondidas por camadas de tinta, ou a pintura ricamente trabalhada das paredes – característica das residências do início do século passado – e que agora estão perfeitamente restauradas.
O acervo do museu está disponível ao público. As visitas podem ser agendadas no site ou por telefone.
O sírio fundador da Casa da Bóia
Rizkalla Jorge chegou no Brasil em março de 1895. Ele nasceu em Aleppo, Síria, no dia 14 de maio de 1867, descendente de armênios que já estavam no país há mais de 100 anos. Ao chegar ao Brasil, empregou-se como faxineiro em uma oficina de manipulação de metais, ofício que exercia na Síria.
Com o tempo, foi aprendendo a língua e demonstrando excepcional habilidade manual, sendo promovido a gerente, depois sócio e, finalmente, em 1898, proprietário. Nesse mesmo ano, fundou a Rizkallah Jorge & Cia., que foi o embrião da Casa da Bóia.
Mandou buscar sua esposa Zakie Naccache Rizkallah, que deixara na Síria, e aqui tiveram três filhos: Jorge, Nagib e Salim. Morou mais de 55 anos no sobrado da Rua Florêncio de Abreu, sede da Casa da Bóia até hoje.
Ali abrigou muitos de seus compratiotas da Síria e da Armênia. Doou o terreno e construiu a primeira e a segunda igreja Armênia, construiu também um pavilhão no Lar Sírio Pró-Infância e um andar no Hospital Sírio Libanês.
Contato
Telefone: 55 11.228.6255
www.casadabóia.com.br

