São Paulo – O Ceará, estado brasileiro do Nordeste, teve sua primeira colheita de trigo na história. O Ceará tem clima seco e baixa disponibilidade hídrica e o projeto foi desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em parceria com a indústria moageira Santa Lúcia. A primeira etapa da produção, feita em região semiárida, apresentou bons resultados, como um ciclo mais rápido entre plantio e colheita e produtividade alta.
Embora a etapa de produção seja recente, as cultivares tropicais (foto acima) que possibilitaram a colheita começaram a ser desenvolvidas há 15 anos. Plantas como essa possibilitam a produção em territórios com baixa disponibilidade de água, caso do Ceará e de países árabes do Oriente Médio e Norte da África. “Temos quatro materiais genéticos de trigo tropical. Destes quatro, identificamos que dois tiveram melhor desempenho, foram o BRS404 e a BR264” explicou Osvaldo Vieira, chefe-geral da Embrapa Trigo, em entrevista por telefone à ANBA.
Os primeiros experimentos foram realizados pela Embrapa Trigo, Embrapa Agroindústria Tropical e o Instituto Federal do Ceará e analisaram a viabilidade de produção no estado, considerando as condições de solo e clima. O resultado foi um ciclo do plantio de 75 dias, mais rápido do que nas principais regiões produtoras do País, onde o ciclo entre plantação e colheita varia de 140 e 180 dias. “Foi rápido, por causa da boa luminosidade, alta temperatura e insolação, que colaboraram para o cultivo”, explicou Vieira.
Os estudos foram realizados em dois municípios do Ceará, numa região de baixa altitude e outra de alta altitude. Ainda em fase experimental, a produção foi de 8,5 toneladas de trigo em uma área de 1,6 hectare, equivalente a produtividade de 5,3 toneladas por hectare. O destaque desta colheita está no sucesso do cultivo do cereal, natural de regiões mais frias, no estado que tem clima mais quente. Por outro lado, uma das características que colaborou para a boa adaptação foi a baixa exigência hídrica da cultura.
O cultivo visa atender a necessidade da indústria da região Nordeste, que hoje importa quase que a totalidade do trigo que consome. “O Ceará é um estado peculiar, tem uma grande indústria moageira, e dependente de importação. Se conseguirmos minimizar a importação, isso já consegue dar resposta a essa indústria. Mas o foco não só a autossuficiência, e sim também possibilitar exportação. Pelos resultados que tivemos até agora, tem potencial”, disse Vieira.
Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a Embrapa já está realizando pesquisas experimentais em Alagoas e pretende expandir os estudos para os estados de Pernambuco, Piauí e Maranhão. Os próximos passos da pesquisa, agora, são incluir dados mais refinados e analisar questões como o zoneamento.
Questionado sobre a possibilidade de a tecnologia de adaptação do trigo ser levada a outros países, como os árabes, o chefe geral da Embrapa Trigo explica que esta é uma possibilidade futura. “Os desafios nos movem. Por que não desenvolver cultivares para outros locais? A Embrapa sempre tem essa ideia de transferir essa tecnologia. A Embrapa firmou convênio com os Emirados Árabes, recentemente. Tudo parte de fazer pesquisas para um país específico e entender como isso funciona na prática”, ponderou.