São Paulo – A Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Ceará (SDE), em parceria com instituições locais, deverá concluir nos próximos dias um estudo de viabilidade econômica para estruturar a produção de carne de ovinos e caprinos para o mercado halal, que segue as normas de produção do islamismo. De acordo com o secretário-executivo do Agronegócio da SDE, Silvio Carlos Ribeiro, o estado pretende ser um polo de exportação para este mercado, o que deverá resultar em desenvolvimento e geração de empregos a regiões do sertão cearense.
Dados fornecidos pela SDE à ANBA mostram que o rebanho cearense de caprinos e ovinos atingiu 3,8 milhões de cabeça no ano passado, em crescimento médio de 1,56% nos últimos sete anos. São cerca de 2,6 milhões de cabeças de ovinos, em expansão de 3% em 2024 sobre 2023, e aproximadamente 1,1 milhão de ovinos, em queda de 1,2% em 2024 em relação ao ano anterior. O rebanho total brasileiro no ano passado era de 35,2 milhões de cabeças. O Nordeste, principal região produtora, tem 28,9 milhões de cabeças.

De acordo com Ribeiro, há uma “desconexão” na cadeia produtiva brasileira. Há épocas em que há excesso de oferta de carne de caprinos e ovinos. Em outros momentos, o excesso é de demanda e mesmo o mercado local não é atendido.
A ideia de criar um centro de produção de carne halal de caprinos e ovinos surgiu de conversas e interesses de empresas em operar neste setor. Entre elas, cita Ribeiro, a Fambras Halal Certificadora, que certifica empresas que produzem conforme as regras do islamismo, e a Vicunha, companhia brasileira com atuação no setor têxtil.
O estudo está sendo conduzido pelo Instituto Centro de Ensino Tecnológico do Ceará (Centec) com recursos repassados pela SDE. Consultores, universidades e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) também participam das pesquisas. O levantamento considera todas as etapas da cadeia produtiva de carne halal de caprinos e ovinos: criação dos animais, capacitação dos produtores, logística, defesa sanitária, viabilidade econômica, preço, mercados potenciais e estrutura de abate são alguns dos aspectos avaliados pelo levantamento.
“Quando você tem um mercado consumidor que estimula essa oferta, o mercado [produtor] vai se estruturar. A ideia é montar um frigorífico de ovinos e caprinos que consiga abater mil animais por dia. Para ter esse volume, para ter um animal padronizado com qualidade, é preciso que se tenha um rebanho muito maior do que isso. Eu preciso ter um trabalho forte de boas práticas de produção, de criação e preciso conversar não só com o produtor [da carne], mas com o criador [dos animais], com a indústria e com o mercado consumidor”, afirma Ribeiro.
Quando a pesquisa for concluída e se a viabilidade econômica for comprovada, um memorando de entendimentos deverá ser assinado entre o estado do Ceará e instituições envolvidas neste projeto. Em seguida, empresas que desejam investir nesta cadeia produtiva poderão instalar a infraestrutura e fazer o investimento na produção. A expectativa da SDE é que em um ano e meio os primeiros abates sejam realizados.
Objetivo do Ceará é gerar empregos
Ribeiro afirmou que o Ceará tem capacidade logística de escoação, sobretudo pelo Porto de Pecém, em São Gonçalo do Amarante, a cerca de 50 quilômetros de Fortaleza, a capital cearense. Parte da estrutura de produção poderá ser instalada na Zona de Processamento de Exportação (ZPE) de Pecém, que oferece às companhias ali instalada isenções de impostos. A outra parte da cadeia produtiva virá dos criadores, especialmente das regiões do Sertão dos Inhamuns, Sertão Central e Sertão dos Crateús, no interior do estado.
“Queremos conseguir tornar a atividade lucrativa e interessante financeiramente e, com isso, gerar muito mais emprego no campo. São regiões que têm pecuária principalmente ovina e caprina e que acreditamos que pode ser ampliada, mas ela só vai ser ampliada se tiver mercado”, afirmou Ribeiro. Além de animais para abate, disse Ribeiro, o levantamento indicou a possibilidade de criação de caprinos e ovinos para serem exportados vivos aos países islâmicos. Ele também disse que incluir a carne de ovinos e caprinos no mercado externo poderá exigir a criação de uma marca em um processo de promoção no exterior, a exemplo do que já ocorre, por exemplo, com carne de frango e carne bovina.
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