São Paulo – A exportação brasileira de calçados deve fechar 2024 com queda entre 9,7% e 5% nos volumes, tendo como um dos fatores a retomada do fornecimento chinês ao mercado internacional. O país asiático teve queda nas vendas para Estados Unidos, Europa e Ásia no ano passado, mas ganhou terreno na América Latina, países árabes e África, trazendo mais concorrência para o Brasil nestas regiões.
Os dados foram apresentados nesta terça-feira (30) pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados). O aumento das exportações chinesas do produto em 2023 foi de 7% para América Latina, de 8,1% para os países árabes e de 17,6% para a África. Os embarques, porém, caíram 21,6% para Estados Unidos, 3,7% para Europa e 1,9% para a Ásia. No geral, os chineses exportaram volume 2,5% menor.
Falando durante Análise de Cenários realizada de forma online pela Abicalçados, a coordenadora de Inteligência de Mercado da instituição, Priscila Linck, disse que apesar da queda significativa nas exportações da China aos Estados Unidos – este com com níveis de consumo ainda abaixo do período anterior à pandemia de covid-19 -, o país asiático vem realocando parte da sua exportação para outras regiões do mundo.
“Então, ela (a China) vem aumentando sua participação, ou recompondo sua participação, de uma forma mais acelerada em países periféricos. Isso impacta muito nossas exportações para a América Latina, que representa metade do volume exportado de calçados pelo Brasil, mas também nosso mercado interno”, disse.
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De acordo com Linck, a retomada da China no mercado de calçados acontece desde o ano passado. Ela relata que o Brasil ganhou espaço internacional em 2021 e mais em 2022 em função das políticas de covid zero na Ásia e do aumento do frete internacional, o que encareceu os pares asiáticos. No período, os chineses retornavam apenas de forma lenta ao mercado externo depois da pandemia, um cenário que mudou.
Apesar da queda nas vendas chinesas no ano passado, ela ficou abaixo da diminuição da exportação de calçados do mundo como um todo, que foi de 8%. “Na medida que a China tem uma queda menor que a mundial, ela ganha participação de mercado nas exportações”, explica a coordenadora.
No começo deste ano, as vendas externas chinesas de pares já começaram a registrar taxas positivas em volume. No primeiro trimestre de 2024, a China aumentou em 5,5% as suas exportações em quantidade sobre o mesmo período de 2023. Houve, porém, queda de 5,4% na receita. O preço médio do produto embarcado foi 10,4% menor. Falando no evento online, o consultor da Abicalçados, Marcos Lélis, disse que há claramente uma estratégia chinesa de jogar o preço para baixo para ganhar mercado.
Em um contexto em que a China entra pesado no fornecimento internacional de calçados, como fazia antes da pandemia, a projeção de queda na exportação brasileira de calçados se faz coerente. Os embarques do Brasil devem ficar neste ano abaixo dos níveis pré-pandemia. “Mas se ajustando ao nível mais normal de cenário internacional, que é com o retorno, de fato, da Ásia ao mercado de forma mais acentuada”, explica Linck. No primeiro trimestre deste ano, já houve recuo de 28% nas exportações nacionais de calçados em relação ao mesmo período de 2023, mas a taxa deve arrefecer ao longo do ano.
Produção brasileira de calçados
A produção brasileira de calçados, no entanto, aumentará entre 0,9% e 2,2% neste ano, segundo a projeção da Abicalçados. Nos meses de janeiro e fevereiro houve uma alta de 9% na fabricação. Com queda na exportação e aumento na produção, uma maior parcela dos pares feitos em indústrias nacionais deve ficar no mercado doméstico, onde há aumento da massa de rendimento e taxas de desemprego em queda.