São Paulo – Os fertilizantes fosfatados têm um novo concorrente no mercado: a produção de baterias. Essa demanda, aliada a um novo direcionamento da política de exportação da China, são os dois principais fatores que poderão influenciar a demanda e o preço dos fertilizantes nos próximos anos, já a partir de 2025, avaliaram especialistas do setor no 11º Congresso Brasileiro de Fertilizantes. O encontro foi organizado nesta terça-feira (27), em São Paulo, pela Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA).
Sócio da MB Agro Consultoria, Alexandre Mendonça de Barros afirmou, no painel “A economia mundial e as expectativas para a oferta global de fertilizantes”, mediado pelo presidente do Conselho de Administração da ANDA, Eduardo de Souza Monteiro, que o cenário atual é formado por uma preocupação com desaceleração da economia global, maior produtividade da lavoura e uma oferta de grãos que não compromete o abastecimento, mas, ao contrário, é boa. A atual safra brasileira poderá chegar a 169 milhões de toneladas e até contribuir para uma redução nos preços, avaliou o economista.
Há, contudo, dois desafios diretamente para o setor de fertilizantes, disse Barros. Os dois vêm da China. O primeiro deles é um direcionamento do ácido fosfórico, derivado do fósforo e base para a produção de fertilizantes fosfatados, para a produção de baterias para carros elétricos. “Ele tem um valor alto, mas me parece que está sendo destinado às baterias”, disse. Outro desafio para o setor de adubos é a redução de abastecimento de fertilizantes de forma geral pela China. “Não me parece que haverá falta de oferta, mas vemos instabilidade e acho que a China será mais conservadora nas exportações”, disse ele por acreditar que a China pode estar direcionando uma parcela maior dos seus fertilizantes para consumo interno.
Presidente e CEO da Mosaic Company, Bruce Bodine também avaliou que a cadeia de suprimentos está “apertada” em razão do contexto chinês e concordou que há uma disputa pelos derivados de fósforo para a produção de carros elétricos. Fertilizantes são feitos, principalmente, a partir de fósforo, nitrogênio e potássio. No entanto, Bodine indicou que há oportunidades para o setor, pois a população mundial está em crescimento e haverá uma demanda por terras para a produção de alimentos equivalente a duas vezes o território da Índia.
Analista de Fertilizantes da Agrinvest Commodities, Jeferson Souza também apontou para uma mudança nas políticas de exportação da China. Como comparação, ele afirmou que em 2015 o país asiático exportou 13 milhões de toneladas de ureia. Neste ano, até agosto, foram exportadas 900 mil toneladas.
Defesa da indústria local de fertilizantes
Na abertura do congresso, o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, afirmou que o Brasil precisa reduzir a sua dependência de fertilizantes importados, que correspondem a quase 85% dos fertilizantes que o País consome. Para tal, afirmou Fávaro, o ministério adota medidas para reduzir a burocracia e agilizar a produção no País, com a retomada das atividades de um planta de produção de ureia e de amônia no ano que vem, além de uma nova unidade produtora da empresa EuroChem.
“Fertilizante é produto de segurança nacional”, disse ao apoiar a troca comercial e a importação, defendendo, porém, menor dependência do que o que se observa nos níveis atuais. De acordo com as estimativas apresentadas por Barros em sua apresentação, o Brasil deverá consumir 46 milhões de toneladas de fertilizantes neste ano e, desse total, importar 39 milhões de toneladas.
Presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Jacyr Costa Filho defendeu que a indústria nacional de fertilizantes precisa crescer e de forma estratégica, em locais com disponibilidade de transporte dos produtos e ampla infraestrutura logística. O ex-ministro da Agricultura e professor da Fundação Getulio Vargas, Roberto Rodrigues, foi homenageado no evento em razão da sua contribuição ao agronegócio. Também esteve presente no congresso o Secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Guilherme Piai.
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