São Paulo – Desde o dia 18 de dezembro de 2010, data de fundação da primeira fábrica de chocolates da agricultura familiar do Brasil, cerca de 600 quilos de tabletes e bombons finos estão sendo produzidos semanalmente no local administrado pela Cooperativa da Agricultura Familiar e Economia da Bacia do Almada e Adjacência (Cooafba). Os doces levam 56,6% de cacau na composição e têm marca “Bahia Cacau”.
A fábrica, localizada em Ibicaraí, no sul da Bahia, vai beneficiar 300 pequenos agricultores que vivem em cerca de 10 municípios da região. Ela deve contar também com uma loja para venda dos produtos dos cooperados para os visitantes das instalações.
“A cooperativa nasceu com o objetivo de estimular o desenvolvimento da agricultura familiar. O ideal do projeto é manter o homem do campo no campo, com renda digna e qualidade de vida.”, conta a presidente da cooperativa, Maria do Carmo Tourinho.
Aderbal da Silva, um dos produtores de cacau da região, colhe cerca de 300 arrobas de cacau por safra e comemora a nova fase nos rendimentos. “Agora não precisamos mais dos atravessadores. Entregamos nossa colheita diretamente para a cooperativa que já está produzindo o produto final e com valor agregado”, diz. Segundo Silva, o lucro aumentou em mais de 70%. “Antes da cooperativa o produtor ficava com apenas 25% ou 30% do valor do cacau”, diz.
O investimento de R$ 1,5 milhão foi feito pelo governo do estado da Bahia. O retorno anual esperado é de R$ 18 milhões quando a fábrica estiver operando em plena capacidade. A capacidade de matéria-prima local é de 15 mil toneladas de cacau ao ano.
Inicialmente a produção anual estimada de 450 toneladas de massa ou licor de cacau, matéria-prima para o chocolate, vai atender o mercado interno. No entanto, já existem perspectivas de vendas no exterior. No ano passado, produtores da região participaram do Salão do Chocolate de Paris. Os produtores ficaram num estande institucional do Governo Federal.
“Eles estão produzindo um cacau fino de excelente qualidade. Com certeza terão mercado no exterior, especialmente na Europa e países da América Latina”, diz Marco Lessa, proprietário da M21, agência de publicidade e eventos que é responsável pela promoção do chocolate baiano no exterior e que promove o Festival de Chocolate da Bahia.
Lessa considera os países árabes como potenciais parceiros comerciais. “Nos últimos anos, o [então] presidente [Luiz Inácio] Lula [da Silva] estabeleceu oportunidades muito grandes com os países árabes. A parceira com certeza seria boa para ambos os lados”, afirma.
De acordo com o empresário, o número de produtores de cacau fino ou superior está aumentando bastante. “O estado da Bahia já representa 70% da produção nacional de amêndoa. Agora, estamos trabalhando para nos tornarmos líderes mundiais de cacau fino”, destaca Lessa. Em 2010, a Bahia colheu 240 mil toneladas de cacau, o que representou um crescimento de 50% em relação à safra de 2009.
Diferencial
O chocolate fino apresenta algumas peculiaridades em relação ao chocolate comum, que leva apenas de 10% a 20% de cacau na composição e, consequentemente, mais açúcar. Os chocolates finos costumam levar mais de 50% de cacau.
De acordo com a presidente da Cooafba, os cuidados com a fabricação dos chocolates finos envolvem todo o processo desde a seleção das sementes.