Débora Rubin
debora.rubin@anba.com.br
São Paulo – A cidade de Maringá, no Paraná, gera 320 toneladas por dia. Isso só de lixo residencial. Oito toneladas são apenas de fraldas descartáveis. Todo esse lixo diário gerado pelos 330 mil habitantes da cidade segue o mesmo rumo há anos: o antigo lixão da cidade, hoje aterro. "Aterro controlado", segundo o procurador jurídico do município, Rogel Martins Barbosa. No aterro, a história é a mesma de outros tantos municípios: o lixo aterrado gera chorume (líquido produzido pelo lixo), gases, etc. "Aterros são uma bomba relógio", diz o procurador. Pois antes que a bomba relógio de Maringá exploda, a cidade foi atrás de uma solução. Ainda este ano, começará a ser testada uma nova tecnologia que dará fim quase que total ao lixo residencial.
A tecnologia Biopuster, proposta por um consórcio formado por empresas alemãs e brasileiras, transformará 70% dessas 300 toneladas diárias em húmus e lixo reciclável (plástico, vidro, papel, alumínio). Os 30% restantes serão aterrados. Ou até menos, segundo os alemães detentores de tal tecnologia. E esse lixo restante, sem solução, terá passado por um processo de "limpeza" de forma que mesmo aterrado, não liberará chorume e nem gases. O húmus, como material orgânico, pode ter reuso. E os materiais recicláveis poderão ser vendidos para empresas que já trabalham com isso. No entanto, Rogel diz que ainda é cedo para saber como o húmus gerado ali poderá ser reutilizado. Isso porque o projeto ainda é piloto, serão nove meses de testes.
O procurador explica como se dá tal tecnologia: "São células com capacidade para processar até 1,5 mil toneladas cada. Lanças de oito metros depositarão ar enriquecido com oxigênio dentro delas, transformando o ar anaeróbico em aeróbico lá dentro. Tudo isso, em alta temperatura, a 80º". Com a presença do oxigênio e do calor, as bactérias vão agir sobre o lixo eliminando o chorume. "Deixando esse lixo sequinho", diz.
Daí segue para uma triagem que separa o húmus dos recicláveis. "Essa é a grande sacada dessa tecnologia: primeiro trata, depois separa. Quando se separa esse lixo antes, as pessoas que trabalham com os recicláveis poderão vir a mexer com lixo contaminado", explica. No final desse processo é que sobram os 30% que não servirão para nada. Paralelamente, acontece um processo de drenagem dos gases.
O Consórcio Biopuster, que fechou o acordo com a prefeitura de Maringá, topou fechar um negócio de risco – segundo Rogel. Eles vão fazer o projeto piloto por nove meses sem custo para a prefeitura. A contrapartida pedida pelo grupo foi a de que a prefeitura construísse o piso adequado para as 14 células de tratamento que serão erguidas no local do aterro. Além disso, pediu que o lixo processado fosse deles. "Eles correram o risco porque sabem que se der certo, Maringá será uma grande vitrine para o Brasil", diz Rogel. Afinal, é a primeira iniciativa que promete eliminar por completo o lixo urbano no país. O custo total desse período será de R$ 3 milhões. A prefeitura gastará R$ 300 mil para construir o piso. "E fiscalizaremos e controlaremos os resultados".
No futuro, se o projeto se apresentar viável, a prefeitura poderá utilizar o dinheiro gerado por esse novo lixo para investir em mais ações ambientais. A iniciativa pode até vir a ser inscrita no mercado de crédito de carbono (Mecanismos de Desenvolvimento Limpo, estabelecido pelo Protocolo de Kyoto), gerando novas receitas.
O passado no lixão
Rogel conta que a cidade paranaense já tem uma vocação ecológica. "Aqui há 60 metros quadrados de área verde por habitante", diz. Em um lugar onde a educação – são 33 mil vagas no ensino superior – é uma das principais vocações econômicas, o cuidado com o meio ambiente é quase que natural. Ainda assim, a iniciativa de buscar uma solução para o lixão foi reforçada por um "puxão de orelha" dado pelo Ministério Público.
"Eles entraram com um processo na Justiça obrigando a prefeitura a fechar a área do lixão", diz Rogel. "E o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) também estava nos pressionando". Um dos principais problemas na área de 11 alqueires era a quantidade de catadores que reviravam os resíduos para sobreviver. Depois de ter sido transformado em aterro, essas pessoas foram encaminhadas para cooperativas que trabalham com a coleta seletiva de lixo na cidade.
Saiba mais:
www.maringa.pr.gov.br