São Paulo, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Paraná e Minas Gerais são os cinco estados brasileiros que mais exportam para os países árabes. De janeiro a abril de 2009 eles venderam o equivalente a US$ 1,9 bilhão, ou 74% de tudo o que o Brasil exportou para a região. No período, houve crescimento da venda de produtos como açúcar, aviões, minério de ferro, soja em grãos, óleo de soja, fumo, tratores, vergalhões, milho, gado vivo, farelo de soja e motores elétricos.
Nos primeiros quatro meses do ano, os embarques desses estados ao Oriente Médio e Norte da África cresceram 1% em relação ao mesmo período do ano passado, abaixo do aumento de 7% ocorrido nas exportações totais do Brasil ao mundo árabe. Isso ocorreu por causa da ampliação das vendas de outras unidades da federação, como Goiás, Santa Catarina e Tocantins.
Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) compilados pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira, o açúcar foi o produto que apresentou maior crescimento em três dos cinco maiores exportadores. Os embarques de açúcar de São Paulo cresceram 61,8% e chegaram a US$ 424 milhões nos primeiros quatro meses do ano. Em Minas o aumento foi de 67,2% e, no Paraná, de 31,3%.
“A Índia, que sempre foi um megaprodutor mundial e grande exportador, passou por um grave problema interno de produção e saiu do mercado internacional, passando inclusive a importar açúcar do Brasil”, disse Eduardo Sampaio Marques, diretor do Departamento de Promoção Internacional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), ao avaliar que a saída de um concorrente permitiu ao Brasil avançar ainda mais no mercado internacional.
O assessor técnico da gerência de mercados da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), Marcos Mattos, aponta também o aumento da renda interna e do consumo nos países árabes como fator de ampliação das exportações. “Mesmo com a crise, o mercado árabe acabou se consolidando com novas e crescentes participações na pauta das exportações de açúcar das cooperativas”, afirmou. Leia mais sobre as cooperativas amanhã (01) na Anba.
Do total das exportações brasileiras aos países árabes, o açúcar representa 17% e tem origem principalmente em São Paulo. A Açúcar Guarani, empresa do estado, por exemplo, exporta para quase todos os países árabes do Oriente Médio, com destaque para Emirados Árabes Unidos, Jordânia, Kuwait, Síria e Iêmen. “Hoje 40% da produção da Guarani (500 mil toneladas por safra) é direcionado ao mercado externo, sendo que o Oriente Médio consome 30% do total exportado (150 mil toneladas)”, declarou o diretor comercial da companhia, Paulo José Mendes Passos.
Ainda na área agrícola, os embarques de cereais, como trigo e milho, também tiveram crescimento, principalmente do Paraná. Apenas a Arábia Saudita importou 226,5 mil toneladas de milho. Em seguida aparece o Marrocos, que importou 214 mil toneladas. “O Brasil está se tornando um importante exportador de milho. Até a década passada não era, mas agora está nesse patamar. Os países árabes ainda não são clientes importantes, mas de dois anos para cá as exportações de milho para a região têm crescido bastante”, explicou Marques, do Mapa.
A carne é o principal produto exportado pelo estado do Rio Grande do Sul, com quase 50% das vendas do estado para os países árabes, mas registrou queda de 29,5% de janeiro a abril de 2009. Em segundo lugar aparece o tabaco, que registrou crescimento de 12,4%, com US$ 30,8 milhões em vendas. “Hoje os países árabes são mercados importantes e estratégicos para o setor e respondem por cerca de 6% das exportações de tabaco do estado”, diz o presidente do SindiTabaco, Iro Schünke.
Lácteos
O setor de leite e derivados sofreu forte abalo na maioria dos cinco maiores estados exportadores. Em São Paulo a queda foi de 64,8%, no Espírito Santo de 100%, no Rio Grande do Sul de 63,54%, no Paraná de 94% e, em Minas Gerais, de 22%.
Na opinião de produtores e exportadores, a queda foi influenciada por fatores internos e externos. “O preço do leite despencou no mercado internacional nos últimos meses. Os países árabes são o maior mercado mundial para produtos lácteos, mas também deram uma freada, assim como em outros produtos do agronegócio, como as carnes”, explicou
Leonardo Bonaparte, da Tangará, indústria exportadora de lácteos. “Mas já existe retomada de mercado e as ofertas já começaram a ser apresentadas”, acrescentou.
“Em momentos de crise o consumidor acaba usando produtos substitutos e fontes de proteína mais baratas, como frango e soja. Além disso, os bancos restringiram o crédito a partir de outubro de 2008 e os importadores ficaram sem caixa para comprar produtos de maior valor agregado”, afirmou Eduardo Moraes, sócio-gerente da Latinex, empresa de Curitiba que comercializa produtos alimentícios.
Segundo ele, do ponto de vista financeiro, os árabes foram menos afetados e tinham mais reservas. “Vivemos um período de extrema dificuldade para os lácteos brasileiros, pois a produção caiu muito em função da seca, os preços dispararam e a demanda ficou estável. Até setembro deve continuar ruim. Os produtos de origem animal dependem muito de fatores climático”, disse.
Moraes acrescentou, no entanto, que há demanda crescente em mercados não tradicionais, como Síria, Líbia, Iêmen e Argélia. “Em novos mercados emergentes, onde o consumo está crescendo, o Brasil tem grandes chances de se firmar como fornecedor”, aposta.
Para Otávio Farias, consultor de mercado externo da Alliance Commodities, houve crescimento da produção de leite em diversas regiões do mundo durante a euforia dos mercados e pico de preços de 2006 a 2008. Aliada à crise mundial, houve queda de demanda. “Conseqüentemente os preços despencaram 50% em média desde o pico de preços, e o Brasil deixou de ser competitivo no mercado mundial”, explica. “Internamente temos a economia brasileira, que foi menos afetada do que a de outros países, com impacto maior em alguns setores e demissões. Contudo, o poder de compra em geral se manteve”, completa.
De acordo com o consultor, os países árabes podem ser considerados mercados potenciais para as exportações brasileiras de lácteos. “Os países árabes não são dotados de condições para produção de leite em grande escala, sendo que o leite e seus derivados são importantes itens de consumo das famílias. São estruturalmente importadores de leite. Além disso, muitos países árabes têm poder de compra, devido à renda gerada pelo petróleo.”
Outros produtos
Fora do agronegócio, alguns itens importantes da pauta são os aviões, o minério de ferro e produtos siderúrgicos. O estado de São Paulo registrou crescimento na exportação de aeronaves aos árabes. Passou de US$ 86,3 milhões no período de janeiro a abril de 2008, para US$ 129 milhões no mesmo período de 2009, um crescimento de 49,2%. Os aviões da Embraer, como sede em São José dos Campos, no interior paulista, têm feito sucesso na região.
As exportações de minérios do estado do Espírito Santo cresceram 56,6%, passando de US$ 160 milhões de janeiro a abril de 2008, para US$ 251 milhões no mesmo período de 2009. Já as vendas externas de ferro fundido do estado cresceram 100% no período, pois foram de zero nos primeiros quatro meses do ano passado e, em 2009, chegaram a US$ 1,9 milhão. Em Minas, as exportações de ferro fundido tiveram queda de 33%, passando de US$ 77,5 milhões para US$ 51,9 milhões.
De acordo com o consultor de negócios internacionais, Alexandre Brito, da Federação das Indústrias de Minas (Fiemg), a queda das exportações de ferro fundido ocorreu como reflexo da crise internacional. “É um efeito direto do desaquecimento da construção civil no mundo. Dubai, por exemplo, vive uma crise forte no segmento. Pode ter ocorrido também uma substituição por produtos mais baratos”, afirmou.
Fonte: www.anba.com.br.

