São Paulo – O Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou nesta quarta-feira (02), em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, o relatório Perspectivas Econômicas Regionais para o Oriente Médio, Norte da África, Paquistão e Afeganistão (Menap), e destacou os cinco pontos mais importantes do documento. “Para aproveitar ao máximo o crescimento da economia global, a região precisa acelerar as principais reformas econômicas. O foco deve ser melhorar o ambiente de investimento, aumentando a produtividade e fortalecendo a governança”, disse Jihad Azour (foto), diretor do Departamento do Oriente Médio e Ásia Central do FMI. A maioria dos países analisados é árabe, porém, o estudo inclui também nações não árabes, como Irã, Paquistão e Afeganistão.
O primeiro ponto trata da recuperação do crescimento na região e informa que ela não está sendo suficiente, que os ganhos são frágeis. O crescimento de 1,7% do PIB do grupo de países da região exportadores de petróleo (Argélia, Líbia, Arábia Saudita, Iraque, Iêmen, Omã, Kuwait, Irã, Catar, Bahrein e Emirados) em 2017 foi muito menor do que em 2016, reflexo do impacto dos cortes na produção de petróleo capitaneados pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Apesar disso, esses países têm observado uma recuperação contínua e abrangente em atividades não petrolíferas, em parte como resultado de um ajuste fiscal mais lento.
Com a expiração do acordo da Opep no final de 2018 e a subsequente recuperação da produção de petróleo, deve haver um crescimento mais acelerado este ano e no próximo. No entanto, a estimativa é de uma média anual de crescimento de 3,6% no período 2019-2023, bem abaixo do nível anterior à queda dos preços internacionais da commodity, iniciada em 2014.
Enquanto isso, o crescimento dos países importadores de petróleo (Mauritânia, Marrocos, Tunísia, Egito, Sudão, Djibuti, Somália, Jordânia, Líbano, Síria, Afeganistão e Paquistão) atingiu 4,2% em 2017 e deve aumentar para 4,7% em 2018, antes de avançar para cerca de 5% em média por ano de 2019 a 2023. Entretanto, esses níveis de crescimento não devem gerar empregos suficientes para reduzir o desemprego – especialmente para os quase 23% dos jovens da região que estão desempregados.
O segundo item do relatório do FMI aborda os motivos pelos quais a região não está se beneficiando completamente da recuperação global. Dívidas elevadas ou em rápido crescimento forçaram os países a tomar medidas significativas para reduzir os déficits, limitando os gastos do governo e buscando outras fontes de receitas. Esses passos devem ajudar a região a manter a economia em ordem, controlando a dívida e a inflação e criando um ambiente propício ao crescimento sustentável e inclusivo, mas eles podem também conter o crescimento econômico.
Os países da região precisam estar mais integrados à economia global e diversificar seus produtos e serviços. Isso exigirá maior acesso a financiamentos para o setor privado e a melhoria da capacitação técnica dos trabalhadores. A incerteza em torno dos preços do petróleo, o aumento das tensões comerciais e os efeitos dos conflitos na região restringiram ainda mais o crescimento, e ainda há riscos.
O terceiro ponto no relatório informa que políticas fiscais e monetárias fortes são importantes, mas não são suficientes para o crescimento. O aumento dos níveis de endividamento deve impor limitações à capacidade da política fiscal estimular a demanda em curto prazo. À medida que os governos trabalham para reduzir suas dívidas, eles devem procurar ampliar as bases tributárias e melhorar a eficiência dos gastos, incluindo a conclusão das reformas de subsídios à energia. Isso ajudará a enfrentar desafios fiscais contínuos e gerar economias que poderiam ser direcionadas para gastos prioritários, como saúde, educação e investimento público.
O fortalecimento da credibilidade da política monetária será essencial para ancorar as expectativas de inflação. Nestas circunstâncias, o espaço para reduzir as taxas de juros para estimular o crescimento econômico será limitado, mesmo que a inflação seja moderada. Dados os regimes de taxas de câmbio fixas, os países do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC) deverão ajustar a política monetária de acordo com os aumentos previstos nas taxas dos Estados Unidos, o que pesará no crescimento daqui para frente.
O quarto ponto do relatório defende que a aceleração das reformas estruturais é fundamental. O texto diz que os países da região devem aproveitar a recuperação global para acelerar reformas estruturais que reduzirão sua dependência em commodities, e ajudarão no desenvolvimento de um setor privados dinâmico. As reformas devem se concentrar em medidas que melhorem o ambiente de negócios. As reformas do mercado de trabalho e da educação também são necessárias para aumentar a produtividade.
Será fundamental fortalecer a governança e a transparência para promover o crescimento inclusivo na região. Alguns países estão dando passos positivos nessa direção. Por exemplo, o Afeganistão promulgou recentemente legislação para criminalizar atos de corrupção, e leis anticorrupção entraram em vigor no Marrocos, Somália e Tunísia.
O quinto e último item ressalta que o crescimento deve oferecer oportunidades para todos. Os países devem garantir que a prosperidade seja compartilhada. O levantamento do FMI identificou alguns exemplos encorajadores em andamento. Os Emirados fizeram investimentos importantes em educação e inovação, e o Marrocos lançou recentemente um programa para melhorar a qualidade da educação, da formação profissional e para aumentar a participação feminina na força de trabalho. O Egito duplicou o orçamento para as creches públicas para ajudar a integrar as mulheres no mercado de trabalho. Segundo o relatório, essas são ações louváveis, embora muito mais deva ser feito em toda a região para aproveitar esses esforços e acelerar o progresso.