São Paulo – A expectativa é de baixa produtividade até a próxima safra de café nas áreas de atuação da maior cooperativa de produto do Brasil, a Cooperativa Regional dos Cafeicultores de Guaxupé (Cooxupé). Especialistas em fisiologia da planta e no clima argumentaram que o problema vem desde as geadas de 2021 e passam por períodos de seca em 2022.
Mas não é só. Carlos Augusto Rodrigues de Melo, presidente da Cooxupé, disse que ‘as exportações têm sido o vilão da história no café’. “A pandemia, se trouxe transtorno no café foi de ordem logística, principalmente marítima”, relatou ele em entrevista à ANBA.
Apesar de acreditar que a cooperativa atinja sua meta de exportar 6,8 milhões de sacas de café em 2022, Melo explica que os envios ainda contaram com um empurrãozinho de sacas armazenadas antes de 2021. “Porém, em embarques de café, a safra anterior é que predomina na alta de exportações do ano posterior. Esse ano é atípico porque em 2021 nós tivemos colheita pequena. E por conta de clima, em 2022 também, mas já tínhamos um estoque na cooperativa [para somar ao café de 2021]”, explicou ele.
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O problema é que com o uso dos estoques, a cooperativa fica sem segundas opções para completar seus embarques. “No primeiro semestre de 2023, talvez seja cedo, mas está bem próximo de nós termos problemas de escassez de mercado para embarques. Não virá [muito café] da safra de 2022 e, consequentemente, serão embarques menores. E com relação aos transtornos [logísticos], acredito que vá continuar. No primeiro semestre de 2023 ainda teremos problemas de embarques nas exportações”, completou o presidente.
Valor da saca
Além do clima, fatores como o combustível e os fertilizantes impactam o preço da saca no mercado. Sobre o tema, Melo é categórico: não há como saber se cai ou sobe nem mesmo no curto prazo. “Quanto ao futuro, está muito indefinido porque estamos saindo de duas safras baixas. O mundo está com produção e demanda bastante justa. O consumo continua crescendo, mesmo com mudança de hábitos na pandemia, expandindo em área, principalmente nos asiáticos, não só na China, mas em outros como a Coreia do Sul”, disse.
Impactos em longo prazo
Durante o 4º Fórum Café e Clima realizado pela Cooxupé nesta terça-feira (27), especialistas falaram sobre clima e o cenário atual das lavouras cafeeiras. Segundo Éder Ribeiro dos Santos, coordenador do Departamento de Geoprocessamento da Cooxupé, as lavouras saíram muito estressadas da safra de 2021, quando fortes geadas atingiram boa parte de regiões como o Sul de Minas. “O que temos de diferente esse ano? Já viemos de uma produção baixa, mas fica difícil mensurar a quantidade de reserva que essa planta tem. Isso vai fazer toda diferença na florada e no pegamento [dos frutos no pé]”, disse ele.
Para Santos, para saber como será a safra 2023 há alguns pontos de atenção. Entre eles, o longo período sem chuva durante dois últimos anos agrícolas, a grande amplitude térmica durante um mesmo dia, e o déficit hídrico que em 2022 foi tão intenso quanto 2021.
Nesse sentido, Cláudio Pagotto Ronchi, professor da Universidade Federal de Viçosa, lembrou os impactos que os cafeeiros sofreram nos últimos anos. As geadas obrigaram muitos produtores a fazer podas intensas nas plantas. Com isso, muitas delas foram esqueletadas, que é quando se tiram os galhos, recepadas, técnica de corte que deixa apenas a parte mais baixa do tronco, ou até mesmo arrancadas. “As lavouras que foram erradicadas, recepadas ou esqueletadas ano passado, não deram café esse ano. Talvez deem um pouquinho ano que vem ou só em 2024”, pontua Ronchi.
Já em relação ao clima no próximo ano, Marco Antônio dos Santos, engenheiro agrônomo e agrometeorologista e sócio-fundador da Rural Clima, trouxe boas perspectivas. “No verão, podemos ter grandes picos de temperatura alta, porque não terá mais La Niña. Mas, de forma geral, o que estamos vendo daqui para a frente é uma condição muito melhor que os anos anteriores, e parecida com 2019 e 2020”, apontou o agrometeorologista.