São Paulo – Uma climatech brasileira desenvolve plataforma que pode ajudar a resolver a crise de confiança que abala o mercado de crédito de carbono, após o jornal The Guardian revelar fraudes cometidas pela maior certificadora do setor, a ONG norte-americana Verra.
Fundada em 2019, em Porto Velho, no estado de Rondônia, a Coill está prestes a finalizar um marketplace de créditos de carbono que não só vai intermediar transações, como ampliar a transparência da certificação de títulos e da remuneração aos proprietários das áreas de florestas, dois dos grandes problemas revelados pelas investigações do periódico britânico em janeiro.
Segundo explica o CEO da Coill, Fábio Marques (foto acima), a plataforma utiliza inteligência artificial para compilar, comparar e validar informações de áreas florestais a partir de imagens de satélites, dados do Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural e dos proprietários das áreas protegidas informados por aplicativos de celular, num processo automatizado e mais barato do que a atual certificação ‘manual’ de florestas.
Na plataforma, os dados são processadas para compor um monitoramento em tempo real de áreas florestais, que torna viável, inclusive, a certificação de reservas legais e permite a pequenos produtores vender créditos, uma possibilidade inovadora dado que os títulos do mercado voluntário são gerados quase que exclusivamente por latifúndios florestais, capazes de arcar com o alto custo de certificação.
“A plataforma foi concebida para integrar a cadeia. Quem precisa do crédito compra direto do produtor que é dono de fato da terra associada ao título. É uma iniciativa de alto impacto social”, explica Marques. “O monitoramento é em tempo real. Se um produtor desmatar uma área já certificada, um único hectare que seja, conseguimos detectar. No nosso modelo, a mata em pé vale dinheiro para o pequeno produtor, invertendo a lógica do desmatamento e recrutando o dono da terra como guardião da floresta”, segue.
A plataforma da Coill armazena dados da certificação dos créditos, da titularidade das propriedades e dos pagamentos feitos aos donos numa base de blockchain inviolável e acessível a auditorias externas, num esforço para trazer transparência à transação, justamente o que falhou no caso da Verra.
Para Marques, as fraudes não devem arrefecer a demanda por créditos de carbono, mas, sim, gerar maior cobrança por confiabilidade nos títulos a partir de agora. É com essa expectativa que a Coill segue buscando aportes para colocar sua plataforma no ar. Em fevereiro, Marques foi ao Catar e aos Emirados Árabes Unidos numa missão de startups organizada pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira para mostrar a plataforma a investidores.
Nas reuniões, ele apresentou um prospecto que diz ter a Coill 14 mil pequenas propriedades cadastradas em Rondônia, com área total de 1,1 milhão de hectares, equivalente ao Catar, a maioria já regularizada ou em processo de regularização fundiária. Desse total, 220 mil hectares estão preservados e cada um deles pode sequestrar ao menos 200 toneladas de carbono por ano, o que dá uma receita potencial de US$ 440 milhões anuais só com os créditos gerados pelos parceiros atuais.
Em novembro, Marques viaja a Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, para participar da Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP28) e prospectar novos aportes. “Queremos levar uma proposta ainda mais robusta”, finaliza.