Da redação
São Paulo – A Confederação Nacional da Indústria (CNI) acredita que a economia brasileira deverá iniciar o ano de 2004 “em ritmo relativamente forte”. Esta e outras conclusões fazem parte do estudo “Economia Brasileira, Desempenho e Perspectivas”, um documento de 80 páginas divulgado pela entidade. “O retorno do crescimento em 2004 é avaliação praticamente consensual”, diz o documento. Na opinião da CNI o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, que é o conjunto das riquezas produzidas no país, deverá crescer 3,5% no próximo ano.
“As incertezas sobre o futuro da economia brasileira reduziram-se substancialmente ao longo de 2003”, afirma o estudo. A CNI fez sua análise partindo de um “cenário base” que leva em conta a perspectiva da “superação parcial das restrições ao crescimento”. “Isso se caracteriza por um ritmo de crescimento mediano, algo maior que a média dos últimos três anos, mas ainda inferior às expectativas”, acrescenta o documento.
Para a CNI, esse aumento da atividade econômico será proporcionado, num primeiro momento, pela “reativação da demanda doméstica de consumo, na esteira do relaxamento dos controles monetários”. Ela ressalva, porém, que essa reativação será ainda limitada pela “perda de renda real das famílias nos últimos anos”.
Segundo o estudo, a “intensidade da reativação dos investimentos dará a tônica do processo”. Ele destaca, no entanto, que o crescimento dos investimentos depende “dos avanços na agenda de reformas e da garantia de horizontes”, ambos como parte da política econômica do governo.
Entre as reformas ainda pendentes, a CNI cita a “proposta de emenda constitucional (PEC) paralela da Previdência”; a “continuidade das discussões e das etapas da reforma tributária”, o texto aprovado este ano é considerado por alguns especialistas como muito enxuto; a apresentação de “proposta formal” da reforma trabalhista; além de “avanços nas reformas de cunho microeconômico, como a definição das questões de natureza regulatória”.
Condições
A CNI cita duas condicionantes para o crescimento: o desempenho da economia internacional e da própria economia interna. No caso dos fatores externos, a entidade acredita que a economia mundial deverá “intensificar seu crescimento, conduzindo a forte recuperação do comércio mundial e melhora dos preços das commodities”. Essa não é só a avaliação da CNI, vários especialistas têm dito que os valores das commodities, que atingiram bons patamares este ano, deverão se manter a até aumentar em 2004. Isso é tido como um fator positivo para o Brasil, já que o país é grande exportador de vários desses produtos.
A CNI cita um estudo da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) que afirma que as principais economias do mundo deverão crescer “em ritmo gradualmente maior até 2005”, a exceção do Japão.
Na seara das condicionantes internas, a entidade acredita que “a política macroeconômica continuará a se pautar pela prudência, baseada no pressuposto de que o crescimento não pode prescindir da estabilidade”.
Desempenho
Dentro das variáveis internas, a CNI aposta numa taxa de inflação média, medida pelo IPCA, inferior à deste ano. Enquanto a expectativa de fechamento da variação de 2003 é de 9%, a entidade acredita em uma taxa média de 6% em 2004. No caso do câmbio, ela espera a manutenção de patamares semelhantes à média deste ano. Já a previsão da taxa Selic média é de 14,5% ao ano em 2004. Em 2003 a média da taxa básica de juros foi de 23,3%, terminando o ano a 16,5%.
Na avaliação da CNI a indústria deverá apresentar o crescimento mais expressivo entre os setores da economia, algo na casa de 4,5%, seguido por alguma reação do setor da construção civil, sendo que a agricultura “continuará com seu dinamismo, seguindo os estímulos da demanda externa, enquanto os serviços tendem a acompanhar os setores líderes”.
Já o mercado de trabalho deve mostrar “reação inicialmente lenta, com expansão moderada do emprego”. A entidade acredita que os níveis de desemprego devem continuar na casa de dois dígitos (11,1% de média anual em 2004). No caso da recuperação do nível da renda, o ritmo deverá ser insuficiente para “recompor igualmente em 2004 a queda acentuada dos últimos dois anos”. Opinião também partilhada por especialistas no assunto.
Comércio exterior
Com relação ao comércio exterior, a CNI acredita que as exportações deverão crescer 3% em 2004, uma taxa muito menor do que a registrada este ano que foi de mais de 20% em comparação a 2002. Enquanto a estimativa de fechamento de 2003 é de US$ 73 bilhões em exportações, a CNI projeta para 2004 vendas externas no valor de US$ 75 bilhões. O governo, porém, prevê exportações acima de US$ 80 bilhões no ano que vem. Para CNI a recuperação do mercado interno vai gerar “menores excedentes exportáveis, ainda que a mudança na estratégia das empresas garanta a continuidade do aumento das vendas externas”.
Já no caso das importações, a CNI aposta em um crescimento de 15%, de uma estimativa para o fechamento de 2003 de US$ 49 bilhões para US$ 56 bilhões em 2004, fato que deve reduzir o superávit positivo para o Brasil na balança comercial. Enquanto até a segunda semana de dezembro o saldo positivo já superava os US$ 23,3 bilhões, a CNI acredita que em 2005 ele deverá ficar em US$ 19 bilhões. Isto porque, segundo a entidade, as importações devem aumentar no rastro da “recuperação da atividade produtiva doméstica”.
Para a entidade, a corrente comercial (soma do que o Brasil importa e exporta) deverá aumentar 8% em 2004 para US$ 131 bilhões, um crescimento “um pouco mais intenso do que o ritmo se crescimento do comércio mundial”.
Riscos
De acordo com a entidade, a probabilidade de riscos para esse cenário é reduzida “em especial aqueles que implicariam deterioração de expectativas”. A CNI acredita que, na seara interna, a ameaça à consolidação dessas previsões resiste em eventuais “mudanças na postura do governo motivadas por insatisfação em sua base de sustentação, associadas ao baixo ritmo de crescimento da economia e geração de emprego e ao fraco avanço nas políticas sociais”. O estudo lembra que 2004 será um ano de eleições municipais.
Dentro dessa linha, essa frustração da base poderia ser potencializada por dificuldades de andamento das reformas que ainda são necessárias “ou concessões extremadas que comprometessem a efetividade das reformas aprovadas em 2003” (previdenciária e tributária).
No entanto, a CNI deixa claro que a ocorrência desses fatores é reduzida, pois “o capital político do governo é expressivo e a recuperação da economia, ainda que moderada. Reduz a proliferação de insatisfações e facilita o gerenciamento de eventuais dificuldades”.