Cairo – Em entrevista exclusiva concedida à ANBA no Cairo, no caminho de volta da reunião do Movimento dos Países Não-Alinhados (MNOAL), ocorrida na semana passada no balneário egípcio de Sharm El Sheikh, o vice-presidente da Colômbia, Francisco Santos Calderón, falou das posições de seu país em relação a este grupo. Ele também avaliou as relações da Colômbia com o Egito e o mundo árabe e ressaltou que a ASPA (Cúpula América do Sul-Países Árabes) está contribuindo de maneira decisiva para a aproximação de seu país com a região. Calderón acredita que o potencial de cooperação da Colômbia com o mundo árabe é imenso e se espelha nos exemplos do Brasil e Argentina, que aumentaram muito o seu intercâmbio com os árabes. Leia abaixo trechos da entrevista:
ANBA – Como o senhor avalia as relações entre a Colômbia e o Egito?
As relações entre os dois países remontam há muito tempo. O Egito é um dos poucos países onde a Colômbia sempre manteve uma embaixada. Há cinqüenta anos temos uma embaixada no Cairo. Infelizmente, meu país ainda não prestou a atenção necessária no mundo árabe e acho que isto é um erro. Mas neste momento uma oportunidade está se apresentando através da recente aproximação entre o mundo árabe e a América do Sul, com o que aprendemos a chamar de Cúpula ASPA. Estamos começando a nos interessar mais por esta região. Vamos abrir uma embaixada em Abu Dhabi (Emirados) e julgamos que esta aproximação possui, para a Colômbia, um imenso potencial político e econômico.
O que representa a ASPA para a Colômbia?
Na verdade, esta aproximação é, para nós, como um despertar. Esta é uma parte do mundo para a qual nunca olhamos muito. A Colômbia sempre esteve mais dirigida ao Norte, para os Estados Unidos e Europa, e sempre tivemos pouca representação nesta região. Até agora, nunca dispensamos esforços dirigidos, em termos comerciais e políticos a esta região, e a iniciativa da ASPA nos ajudou muito a despertar para o mundo árabe.
Mas na Colômbia, como em todos os países da América Latina, vivem grandes comunidades de origem árabe. O que representam estes grupos para o seu país e o que eles representam para a aproximação com o mundo árabe?
Sim, temos em nosso país importantes comunidades árabes, sobretudo de origem libanesa. Tivemos uma grande imigração libanesa. E hoje temos na Colômbia cerca de 700 mil pessoas de origem libanesa, descendentes dos 30 mil imigrantes que vieram deste país para se instalar na Colômbia no final do século 19. Dez por cento dos membros do Parlamento Colombiano são de origem árabe. Temos também grandes empresários, cientistas, etc, de origem árabe. Eu acabo de visitar o Líbano pois penso que devemos começar a realçar esta relação e estes laços de sangue.
Em que aspecto a aproximação promovida pela ASPA mais favorece a Colômbia?
Na área econômica temos economias complementares. Devemos fazer como o Brasil ou a Argentina que aumentaram de maneira dramática os intercâmbios com esta região. Vejo que existe uma oportunidade para fazermos o mesmo. Mas existe também o lado político da ASPA que nos proporciona importantes possibilidades para que as relações e coordenações políticas, sobretudo no plano multilateral, sejam favorecidas.
No plano político, como a Colômbia vê o papel do Egito nas questões regionais ligadas ao Oriente Médio?
O Egito, por seu peso populacional, por sua história e suas tradições, é certamente uma potência política no mundo árabe e possui um papel fundamental nas negociações e busca de uma solução para o conflito do Oriente Médio.
Quais são as áreas que a Colômbia mais gostaria de desenvolver em suas relações com o Egito?
Evidentemente, o peso do Egito no cenário internacional faz com que ele seja bastante importante para nós na Colômbia. Trata-se de um país que é um grande protagonista e tem um papel fundamental no mundo árabe e por esta razão trabalhamos freqüentemente com ele no âmbito das negociações multilaterais. Além disso, em termos políticos, sempre estivemos, como o Egito, fortemente comprometidos com a promoção da cooperação Sul-Sul. No plano econômico, o Egito é um mercado muito importante, para o qual os produtos de nosso país também poderiam ser dirigidos. Portanto, há um potencial econômico de primeira instância.
O que poderia ser feito, concretamente, para realizar esta cooperação?
Na verdade, estamos apenas começando a conhecer este mundo, estamos ainda nos primeiros passos, e precisamos aprofundar as relações políticas e comerciais com o Egito e o mundo árabe. O que quero enfatizar, no entanto, é a importância da ASPA, que tem nos ajudado muito a conhecer mais o mundo árabe. Já nos reunimos em duas cúpulas, onde conversamos sobre temas muito relevantes e isso tem sido bastante importante para a Colômbia.
O senhor participou da reunião do MNOAL em Sharm El Sheikh. O que este movimento representa para os países da América do Sul? Qual é o papel da Colômbia neste grupo?
O Movimento dos Países Não-Alinhados talvez hoje tenha perdido um pouco da força que teve nos anos 60 e 70. E isso talvez queira dizer, infelizmente, que a cooperação Sul-Sul não tenha tido tanto êxito e tantos projetos reais como poderia ter tido. Mas a América Latina está, neste sentido, num momento muito interessante, com a criação da Unasul (União das Nações Sul-Americanas). Todos os movimentos de integração em curso estão começando a aproveitar as possibilidades existentes. Neste sentido, o que está acontecendo é que América do Sul busca uma visão distinta a tudo o que são possibilidades de movimentos, como, o dos Países Não-Alinhados ou o da cooperação Sul-Sul. É claro que possuímos um parâmetro um pouco diferente daqueles que querem que se ideologize este movimento (MNOAL) para que ele tenha uma visão política de recusa ou confrontação com os Estados Unidos ou a Europa, o que não é o nosso caso.