São Paulo – É impossível não prestar atenção nela, circulando entre uma mesa e outra, na hora do almoço, no restaurante Halim, no bairro do Paraíso, em São Paulo. Sempre bem vestida e maquiada, elegante com seus brincos dourados, a proprietária do local, Najat Sultan, parece estar na própria sala de casa ao arrumar um guardanapo aqui e um prato acolá. Libanesa de Zhale, ela chegou ao Brasil em 1964. E faz parte de um time especial de empreendedoras: as matriarcas de origem árabe que comandam casas especializadas na culinária desses países. Mulheres que, com açúcar e com afeto, além de ótimos temperos, alimentam os clientes com o mesmo carinho com que cuidam de suas proles. Elas são nossas escolhidas para comemorar, nesta segunda-feira (8), o Dia Internacional da Mulher.
"O restaurante é a minha casa. Do mesmo jeito que faço a comida lá, faço aqui", diz Najat. Mãe de Issam, Leila e Samir, ela se orgulha de ter dedicado a vida à família e ao trabalho. "Casei muito cedo, aos 15 anos, e me mudei para o Brasil com 16. Longe da minha mãe, me agarrei ao meu marido e aos meus filhos", explica. Ela garante que, até hoje, só dorme depois de saber que os três herdeiros já estão em suas casas, devidamente acomodados. No Halim não é diferente. "Fico de olho em tudo. Se a coisa aperta, lavo copo, seco os talheres, faço o que for preciso para ajudar os garçons", conta ela, que chefia, junto com o marido, uma equipe de 62 funcionários que devem lhe dar os parabéns pelo dia de hoje. (assista o vídeo sobre Najat no final da matéria)
É com esse mesmo espírito que a proprietária da rede Arabia, Leila Youssef Kuczynski, toca suas quatro casas na capital paulista. Paulista de Barretos e neta de libaneses, é apaixonada pelos bastidores da cozinha desde pequena. E conta que aprendeu com a mãe os valores que passa para as filhas Júlia, Fernanda e Laura. Por sinal a mesma filosofia que ela procura aplicar em seu negócio. "Comida é afeto. Se eu chegava em casa e dizia que queria comer alguma coisa específica, a minha mãe fazia na hora. Tento agir assim com as meninas, consegui ensiná-las a comer de forma saborosa e saudável", conta. "Busco isso no Arabia também", diz ela, que só usa receitas garimpadas na família em seus restaurantes. Para a empresária, a missão de nutrir a clientela é motivo de orgulho. "Me sinto realizada ao fazer isso. Todas nós, mulheres, cumprimos esse papel, todos os dias", afirma.
Também uma expert quando o assunto é talento para alimentar os outros, a iraquiana Meryam Migrditch Yousif é a responsável pela cozinha do Sevan, no Centro de São Paulo. E conta que chegou lá após ter feito sucesso com os almoços preparados para os amigos da comunidade em sua casa. Boa mãe árabe que é, ela diz, carinhosa, que arranca elogios "até quando ferve água" do filho Haik, com quem vive. "Ele adora o kibe de arroz que eu faço", garante ela.
No caso da chef Dinah Doctos, proprietária do Tanger, na Vila Madalena, também em São Paulo, a mistura de mãe árabe e empreendedora cuidadosa com os negócios é uma herança familiar. "Minha mãe me deu uma educação de respeito e carinho, me ensinando a não fazer ao próximo aquilo que eu não gostaria que fizessem comigo", conta Dinah. "Era tão cuidadosa que chegou a ganhar o título de melhor mãe da escola quando vivíamos em Paris", lembra. O esforço daquela matriarca fez de Dinah uma empresária caprichosa. Nascida no Marrocos, ela usa apenas receitas de parentes no cardápio. "Meus pais sempre sonharam com um restaurante", diz ela, que conseguiu realizar o desejo dos dois junto com a filha, Ariela Doctos, em 2000. Uma prova de que, no que depender dessas empreendedoras, não faltarão mulheres experts em levar adiante a boa e farta comida árabe à mesa.