São Paulo – Mais de 80 tipos de doces árabes em um só lugar, na capital paulista. E não são só os ingredientes que vêm do Oriente Médio na Alyah Sweets. Segundo Issam Sidom, diretor comercial do restaurante e doceria, mais de dez funcionários vieram diretamente do Líbano para produzir as guloseimas. O espaço abriu em novembro de 2019, criado por um grupo de empreendedores libaneses, que já atuavam no ramo alimentício no Líbano, e conta com acionistas no Brasil. Issam é filhos de libaneses, e de São Paulo, participa das tomadas de decisão desta primeira empreitada do grupo árabe no País.
Sidom explica que o negócio tem as estratégias e o jeito dos ‘brimos’ de atuar comércio. “Nosso conceito é ser a melhor doceria árabe do Brasil. O que fizemos? Trouxemos doceiros do Líbano para cá, da Hallab, melhor doceria do Oriente Médio. E um chefe do Líbano que comanda tudo. Tanto restaurante quanto a parte de doces. Demos liberdade para eles, queremos o melhor produto com a melhor qualidade. Não interferimos na escolha. Eles têm carta branca. Nossos ingredientes vem do Líbano, do Oriente Médio”, explicou ele.
A veia de comerciante dos donos já mostrou pelo menos uma de suas vantagens em tempos de crise causada pela pandemia da covid-19. “Tudo que compramos é em grande escala. Hoje, por exemplo, temos um estoque que nem restaurante que tem 10 lojas tem. O que nos ajudou muito nessa crise. Graças a Deus estamos precisando comprar só o essencial. Quando você tem estoque e demanda de produção boa, é ruim toda hora depender de fornecedor. E pedindo em maior quantidade, você consegue o preço mais barato. O segredo é na compra, não na venda do produto”, declarou o diretor.
A Alyah Sweets é formada por dois espaços. Um restaurante, que serve almoço e iguarias salgadas como esfiha e shawarma, e uma loja, que comercializa parte dos alimentos e funciona das 8h30 até 23h. Para chegar ao espantoso número de 80 tipos de doces, os chefes lançam mão de receitas que alternam diversos recheios. “Só do ‘baklava’ tem três ou quatro sabores. Com goiabada, pistache, castanha, tâmara. As pessoas gostam de mix”, explicou.
A maior parte dos ingredientes na doceria vêm do Líbano e da Síria, além da Turquia. E mesmo entre os alimentos que não vêm de países árabes, há importados, como como a manteiga ghee francesa. Para ele, o segredo dos pratos não está apenas no sabor, mas em toda atmosfera criada para transportar os clientes ao Líbano. “A loja tem um conceito novo, como se fosse uma padaria com restaurante. Nossas cadeiras, mesas, talheres. Não pecamos em nada. A pessoa tem que estar lá e sentir no Líbano. O cheiro é também o mesmo das esfihas da avó, da mãe”, afirmou ele.
Durante o período em que o comércio está fechado para auxiliar a conter o avanço da covid-19, as soluções foram as entregas do restaurante e retirada na loja. Até o momento, a marca tem faturado mais com a retirada dos alimentos na loja do que com a entrega feita nas casas dos clientes. “Quem não se preparou para o delivery, perde no começo. Delivery não é a melhor aposta do momento. Todo mundo achou que ia ser curto o período de quarentena. Ninguém está tendo um norte”, aponta.
Para superar as dificuldades que também encontram neste período, Sidom explica que novamente entram as práticas de bons negociantes. Entre elas, as promoções e os combos onde o cliente pode levar vários alimentos juntos. “Baixamos nossos preços. No aplicativo de entrega demos 50% de desconto. O app cobra até 23% [de taxa], mais imposto, mais embalagem… Estávamos pagando para entregar, mas nós temos dois focos: funcionário e cliente. Tudo que é material é fácil, se perdemos, reconstruímos rápido. Mas quando você perde funcionários e clientes, acabou. Estávamos vendo um jeito de manter os funcionários e os clientes. A prioridade tem sido mais o material humano”, apontou.
A ideia de se manter vivo na memória dos clientes, e assim conseguir bancar os salários dos funcionários, tem surtido efeito. De acordo com Sidom, blogueiros e pessoas que são influenciadores em redes sociais tem recomendado os pratos e doces da Alyah Sweets. “O lado humano, não só do árabe, mas do brasileiro, foi muito legal. Divulgação espontânea nos faz querer trabalhar! E, para você ter ideia, havia funcionários fazendo rede de oração para nos iluminar e sabermos como trabalhar. Estamos tentando não mandar nenhum embora”, relatou.
Os fornecedores também já foram acionados pela empresa, que buscou, mais uma vez, negociar. “Todos foram parceiros nossos. Nunca pagamos uma conta em atraso. Nenhum disse que não ia nos ajudar. As pessoas todas se entenderam”, afirmou Sidom.
O descendente de libaneses acredita que nesse momento o que também lhe dá forças é lembrar a trajetória de seus antepassados. “Nossos pais vieram para cá e eram mascates. Eles saíram para rua e vendiam cama, mesa e banho. E nem que precisemos voltar a ser mascates, não tem tempo ruim. A minha loja é a mais top que tem, mas meu cliente é qualquer pessoa. Acho que manter o quadro de funcionários é o maior desafio”, concluiu o empresário.