São Paulo – Uma multidão em fila dobrava a esquina do CEU Parelheiros na manhã do último domingo (04), aguardando a abertura dos portões. O evento, que começou às 10 horas, era o Islam Solidário, iniciativa da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras) que recebe apoio da Fundação Mohammad Bin Rashid Al Maktoum Global Initiatives e do Consulado-Geral dos Emirados Árabes Unidos em São Paulo.
No dia em que São Paulo registrou as temperaturas mais baixas do ano, 20 mil pessoas compareceram ao evento. Em meio aos moradores da região, a comitiva árabe da fundação transitava pelo CEU, conhecendo as estruturas e acompanhando as atividades de saúde, cultura e lazer que ajudou a tornar possível.
O cônsul-geral dos Emirados, Ibrahim Salem Alalawi, e Ali Zoghbi, vice-presidente da Fambras, acompanharam os representantes da fundação, incluindo seu diretor, Saleh Zaher Al Mazroui. O diretor esteve pela primeira vez no Brasil e ressaltou que, em quatro anos de parceria com a Fambras, as ações cresceram muito. No início eram atendidas cerca de 5 mil pessoas, 15 mil a menos do que nas últimas duas edições.
Para enxergar melhor
Um dos motivos mais citados pela população para comparecer ao Islam Solidário foi o exame oftalmológico. Para essa especialidade, o atendimento era restrito a 500 senhas distribuídas. “É bem demorado para marcar pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Aqui a gente faz todos os tipos de exames de vista”, explicou Dilma Pereira da Silva Nogueira. Ela chegou às 4h45 para garantir seu lugar na fila que se formaria, com pessoas que pernoitaram ali, algumas munidas de cobertor.
Além dos recursos da fundação dos Emirados, o Islam Solidário organizou a doação de óculos em parceria com a Associação HLVer, que produz óculos a preço acessíveis para a população carente.
Dilma, que esteve na edição anterior do evento e fez exames de diabetes e pressão, trouxe dessa vez a amiga Marlucia Rosa Teixeira. As duas moram nos arredores do CEU. “A gente fica feliz de saber que eles pensam no povo e querem ajudar. Não é todo mundo que tem essa atitude”, declarou.
A ação social levou atendimentos à população de Parelheiros e à comunidade indígena da aldeia Tenondé Porã, conforme a ANBA mostrou nesta quinta-feira (08). Além dos exames médicos, houve tendas que ofereceram tratamentos estéticos, serviços como emissão de certidão de nascimento e doação de 3 mil brinquedos.
Eliane Faria Aguiar trouxe o filho para o exame oftalmológico e para exame de DNA, oferecido pela primeira vez no evento. “Vou fazer o exame [de DNA] por uma questão de família, que acha ele (o filho) muito parecido comigo e não com o pai. Para mim vai ser bom, para eles tirarem essa dúvida”, afirmou. O exame de DNA teve também número restrito de senhas e Eliane chegou às 6h45 para conseguir as duas. “Valeu a pena. O oftalmo eu já sabia que ele precisava, mas os óculos ficaram acima do que podemos no nosso orçamento, infelizmente”, explicou.
Quem também saiu do evento com exames em dia e a expectativa de receber em breve seus óculos foi Noemia Barbosa. “Fiquei sabendo pela internet da minha vizinha. Eu sou daqui de Parelheiros, do [bairro] Colônia. Levantei às 2 horas da manhã, cheguei às 5 horas. Fazer o que, né? Se a gente sai de madrugada para trabalhar né, filha? Quando a gente precisa, então! Porque você sabe, aqui é longe”, afirmou. Situada no extremo sul de São Paulo, a divisa de Parelheiros está, por exemplo, a apenas 10 km do mar, serra abaixo.
Noemia já havia passado por oftalmologista e há mais de quatro anos sabia que precisaria de óculos para enxergar mais de perto. “Para quem precisa, isso aqui caiu do céu. As pessoas que vêm procurar isso aqui (o evento), procuraram médico. Você viu o tanto de gente no oftalmologista? É gente que não acaba mais”, observou.