São Paulo – O comércio internacional é determinante para o desenvolvimento dos países e foi o impulsor das ascensões econômicas mais vigorosas das últimas sete décadas no mundo. A ideia foi defendida nesta terça-feira (08) pelo economista brasileiro Marcos Troyjo (foto acima), presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês), em webinar sobre o panorama do comércio internacional, promovido pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira. Cerca de 340 pessoas, do Brasil e do exterior, acompanharam.
“O comércio internacional é quase que uma precondição à arrancada econômica. O comércio internacional é o grande motor de produção de prosperidade para países de diferentes estágios de desenvolvimento”, disse Troyjo. Citando as dívidas dos mercados emergentes e a continuação da pandemia, o economista afirmou que há uma nuvem de incertezas no mundo neste começo de 2022, mas listou algumas certezas que podem servir de norte para quem lida com o mercado externo, entre elas o quão fundamental é a aposta no comércio internacional.
“Se nós escaneássemos todos os grandes exemplos de milagre econômico, de ascensão econômica vigorosa nas últimas sete décadas é absolutamente impossível encontrar um único caso de sucesso sem que esse sucesso tenha sido turbinado pelo comércio internacional”, disse Troyjo, citando China, Japão, Alemanha, Coreia do Sul, Singapura, Chile, Uruguai, Espanha e Emirados. Ele listou Brasil, Argentina, Turquia e Rússia – esses dois últimos por um certo período da história – como casos nos quais o comércio exterior não representa muito no Produto Interno Bruto (PIB).
Troyjo ressaltou a importância dessa mensagem no contexto atual, em que há uma tendência protecionista ou “precaucionista”. O distanciamento dos acordos internacionais, o “ensimesmamento” dos países, a diminuição das redes de cooperação e de suprimento global e a substituição de importações são vistos pelo brasileiro como um grande risco, já que, segundo ele, a experiência mostra que o comércio exterior é trampolim para o desenvolvimento.
Outra certeza apresentada por Troyjo foi o crescimento da importância das economias emergentes no comércio internacional. Segundo o economista, os países do G7 (sete economias mais maduras do mundo), que são Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Canadá, tiveram em 2021 um PIB combinado de US$ 42 trilhões se levado em conta a Paridade do Poder de Compra (PPC). Já das sete maiores economias emergentes do mundo (E7), China, Índia, Rússia, Indonésia, Brasil, México e Turquia, o PIB pela PPC, é de US$ 53 trilhões.
Nesse panorama de economias em ascensão, Troyjo juntou os países árabes, que pela PPC têm PIB de US$ 5 trilhões. “É um mercado muitíssimo considerável, de grande volume, de grande robustez, de grande dinamismo e que, claro, vai afetar os fluxos de exportações e importações”, disse. Segundo ele, o Brasil exportou ao Egito, em 2021, mais do que vendeu para Austrália, Israel, Ucrânia e Nova Zelândia juntos. Ao Bahrein, mais que para a Noruega.
O lugar do trabalho
Outra tendência apontada pelo economista foi a reconfiguração das cadeias globais de valor, deixando para trás a divisão internacional do trabalho, em que as atividades de pesquisa e marketing ficavam nos Estados Unidos e Europa e a planta de manufatura em países de baixa remuneração do trabalho. “É claro que isso ainda continua e que, em alguma medida, ainda é um referencial importante, mas mais uma vez está sendo reconfigurada”, afirma. Segundo Troyjo, essa reconfiguração se dá atualmente não só pela geopolítica, mas pela evolução das economias.
O economista falou do posicionamento no mercado internacional do Brasil, que é exportador de commodities. “Não tem problema nenhum em ser um grande exportador de commodities, um dos países que mais produz commodities e mais exporta commodities, no mundo, que são os Estados Unidos, é o país também que tem o maior estoque no depósito de patentes na Organização Mundial da Propriedade Intelectual, é um dos países mais inovadores do mundo”, disse. Ele disse que o segredo é a agregação de valor e que o Brasil pode potencializar suas vantagens na produção de alimentos ou minério, por exemplo, agregando valor a elas.
Troyjo apresentou ainda uma quarta tendência, que é o novo modelo dos acordos externos. “Durante muito tempo os acordos internacionais foram sobre tarifas, foram sobre cotas de exportação e importação. Nós estamos vivendo agora uma fase no mundo do que nós podemos chamar de tratados internacionais de quarta geração”, disse. Segundo ele, os novos acordos levam em conta legislação de propriedade intelectual, práticas de proteção ambiental e desenvolvimento sustentável, compras governamentais, a política industrial de conteúdo local, entre outros.
Troyjo no NDB
O palestrante ocupa a presidência do Novo Banco de Desenvolvimento há quase dois anos. A instituição nasceu como Banco do BRICS, grupo formado por Brasil, Índia, Rússia, China e África do Sul, para apoiar projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável nesses países. Recentemente foram admitidos ao NDB novos membros: Uruguai, Bangladesh, Emirados Árabes Unidos e Egito. A instituição tem uma carteira de projetos de US$ 32 bilhões em áreas como água, saneamento, estradas, ferrovias, metrô urbano e energias limpas.
Câmara Árabe
O presidente da Câmara Árabe, o diplomata Osmar Chohfi, fez a abertura do webinar sobre o cenário internacional, que também contou com a apresentação da agenda da entidade em 2022, ano em que ela comemora 70 anos. Além de falar da data especial, Chohfi abordou o comércio exterior, dando um panorama sobre o atual comércio do Brasil com os países árabes. As exportações brasileiras aos árabes somaram mais de US$ 14 bilhões no ano passado, com alta de 26% sobre 2020, e as importações ficaram em US$ 10 bilhões, com avanço de 82%.
Chohfi disse que há, no entanto, oportunidades para aprimoramento desse comércio e que a entidade vai trabalhar para ampliar a diversidade da pauta, para a formalização de novos acordos de livre comércio, assinatura de acordos de facilitação de investimentos e a implementação de linhas logísticas diretas. Ele citou algumas ações próximas, como a participação na feira de alimentos e bebidas Gulfood, que ocorre neste mês em Dubai e na qual a Câmara Árabe terá um espaço com exposição de grande número de produtos com valor agregado.
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