São Paulo – Os pratos árabes são o coração, mas não a única fonte de que bebe o Simple Comida Fresca. O delivery criado durante a pandemia funciona em Poços de Caldas, no Sul de Minas, e é levado à frente por um descendente de libaneses. Há um ano e meio Geraldo Pereira Junior decidiu focar em uma de suas paixões, a gastronomia.
Formado em Odontologia, Junior já atuava em paralelo como chef de cozinha. “Eu sou dentista e trabalho com comida faz mais de 15 anos, fazendo eventos. Mas de forma mais profissional mesmo, comecei ano passado. A pandemia chegou e eu pensei ‘Agora é a hora’. E parei com a Odontologia depois de 30 anos”, revelou ele à ANBA.
Feito na hora
Com a divulgação dos pratos se concentrando no perfil do Instagram, Junior explica que se destaca por um diferencial: o frescor. “Estamos tendo receptividade pelo fato de não ser aquela coisa em série e mecânica, fazemos pratos individualizados. Acho que o sucesso está nisso. É o frescor. A comida é feita no dia, nós não requentamos. É um dos nossos pilares”, destacou o chef.
As entregas funcionam de quarta-feira até domingo e é preciso fazer pedidos com 24 horas de antecedência. No cardápio, há 30 opções de pratos salgados, entre saladas, salgados e pratos principais. Já as cinco variedades de doces são feitas pela esposa do chef, Neia Pereira. É ela também quem cuida da rede social, fotos e atendimento online da marca.
Há nove anos em Minas Gerais, em breve o casal vai abrir as portas de um espaço físico para o Simple Comida Fresca. “O ponto deve ficar pronto mês que vem. A comida árabe, claro, está fazendo muito sucesso, mas quero também enveredar por outros caminhos”, pontuou o chef.
Raízes árabes
Apesar de não ter herdado o sobrenome libanês ‘Namen’, Junior ganhou da mãe o contato com a culinária ancestral. “Meus avós maternos eram libaneses e vieram para o Brasil entre as décadas de 1910 e 1920. Eles se firmaram em Cravinhos, interior de São Paulo. Ali era uma região muito cafeeira, mas eles não tinham muito conhecimento nos trabalhos de campo e meu avô se tornou mascate. Lá eles construíram uma família grande”, lembra o cozinheiro.
Os pais do chef se mudaram depois para outro município paulista, Pirassununga, onde tiveram quatro filhos. “Ela era sempre ocupada enquanto professora, dando aulas em fazendas. Mas era uma excelente cozinheira. Só cozinhava aos finais de semana, mas as memórias que tenho dela com comida libanesa são muito marcantes”, contou ele.
O neto de libaneses lembra a enorme mesa, com espaço para oito lugares. No centro do móvel, um disco girava fazendo a comida chegar sem que ninguém precisasse levantar para se servir. “Era uma festa, mesmo com pouco tempo, por conta do trabalho dela. Minha mãe era aquela libanesa quietinha, falava baixo, e era de uma autoridade impressionante. Mas não me deixava entrar na cozinha. Achava que eu ia me queimar”, detalhou Junior.
Mesmo sem ter aprendido diretamente com a mãe, a memória afetiva com a culinária permaneceu. “Eu sempre gostei de cozinhar, então acabei tendendo para a comida libanesa. Só quando me casei e fui morar com minha esposa eu fui cozinhar. Aquele cheiro de canela, cardamomo e temperos sírios ficam na memória”, rememorou o descendente de árabes que aguarda, agora, o fim da pandemia do coronavírus para poder pisar pela primeira vez nas terras da família. “Quero ir ano que vem para o Líbano. Ontem mesmo até já procurei uma agência de turismo para ir”, concluiu.