São Paulo – A exaltação do Brasil como local de convivência pacífica e integrada de pessoas de diferentes nacionalidades e religiões, deu o tom da homenagem a personalidades de coletividades de origens estrangeiras, realizada ontem (25) à noite na Assembléia Legislativa de São Paulo, pelo Conselho Estadual Parlamentar das Comunidades de Raízes e Culturas Estrangeiras (Conscre).
Logo no início, o presidente do Conscre, Claudio Pieroni, de origem italiana, destacou que o país, e São Paulo em especial, têm como “vocação acolher e depois absorver” os imigrantes e seus descendentes. “Somos resultado desse processo”, afirmou. De acordo com ele, as diferentes comunidades contribuíram para a construção e desenvolvimento do Brasil e elas têm em comum a “intolerância à intolerância”. “É o que nos une”, acrescentou.
Representante da comunidade árabe e ex-presidente do Conselho, Rezkalla Tuma, lembrou da Lei da Anistia Migratória, que regulariza a situação dos imigrantes ilegais no país, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no início de julho. Nesse sentido, ele destacou que o Brasil mostra mais uma vez que “aqui convivem todas as religiões e todas as raças”.
Autor do projeto na Câmara, o deputado federal William Woo (PSDB-SP) ressaltou que a lei não recebeu manifestações em contrário no Congresso Nacional. Ela garante aos estrangeiros em situação irregular os diretos de circular livremente, trabalhar, acesso à saúde e educação públicas e à Justiça. “A felicidade do brasileiro é resultado da miscigenação”, disse o parlamentar paulistano, filho de pai chinês, mãe japonesa e casado com uma coreana.
Um dos homenageados da noite foi o presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Salim Taufic Schahin, que é descendente de sírios. “Gostaria de congratular todos os homenageados e as comunidades. Por causa delas o Brasil é hoje um país mais feliz e mais virtuoso”, declarou.
Na mesma linha, o engenheiro e professor emérito da Universidade de São Paulo (USP), Kokei Uehara, de 82 anos, homenageado pela comunidade japonesa, destacou que o Brasil “é um país de mestiços”. Ele, que veio do Japão aos nove anos de idade, destacou as oportunidades que o país dá aos imigrantes. “Somos todos irmãos”, afirmou.
Escolhido pela colônia chinesa, o presidente da Associação Cultural Chinesa do Brasil, Fernando Ou, disse que o Brasil “é que nem coração de mãe, sempre cabe mais um”. Segundo ele, cerca de 150 mil imigrantes chineses vivem no país.
Homenageado pela comunidade judaica, o empresário e bibliófilo, José Mindlin, de 95 anos, que não pode estar presente por motivo de doença, mandou uma mensagem ao evento dizendo que cresceu ouvindo que Nova York, nos Estados Unidos, era o lugar com o maior número de pessoas de diferentes origens, mas depois percebeu que “o verdadeiro ‘melting pot’, como dizem os americanos, é aqui”. Quem recebeu a homenagem em seu nome foi o secretário municipal de Esportes, Lazer e Recreação, Walter Feldman, que idealizou o Conscre quando era presidente da Assembléia Legislativa.
Na mesma linha, o homenageado espanhol, Arturo Chao Maceiras, diretor-executivo do Núcleo Inox, associação empresarial que promove o uso do aço inoxidável, ressaltou que o Brasil não decepcionou os estrangeiros que para cá vieram em busca de melhores condições de vida. Para ele, o país é um exemplo de multiculturalismo.
Pelas comunidades paraguaia, boliviana e peruana, quem recebeu a homenagem foi a advogada Ruth Myrian Camacho Kadluba, que tem longa militância na defesa dos direitos dos imigrantes.
Foram homenageados também o arcebispo da Igreja Apostólica Armênia, Datev Karibian, que nasceu em Alepo, na Síria; Stylianos Antoine Nikiforos, presidente da Federação das Comunidades Helênicas do Brasil; o cônsul geral da Itália em São Paulo, Marco Marsilli; o professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, Aleksandrs Spers, da Letônia; a artista plástica e produtora cultural Maria dos Anjos, da coletividade portuguesa; a engenheira e diretora geral do Coral Melodia, Galina Chevtchuk, pela comunidade russa; e o pastor Ilia Ganev, que recebeu homenagem póstuma da comunidade Moldova.
O evento lotou o auditório André Franco Montoro, da Assembléia Legislativa. Compareceram parlamentares, diplomatas e representantes de entidades, como os vice-presidentes da Câmara Árabe, Rubens Hannun (Marketing), Helmi Nasr (Relações Internacionais), Wladimir Freua (Comércio Exterior), o diretor tesoureiro, Nahid Chicani, e os diretores Toufic Sleiman e Bechara Ibrahim.
Depois da cerimônia, houve apresentação de danças folclóricas no Hall Monumental da Assembléia, onde foram servidas comidas típicas.

