Cairo – O Egito é um país majoritariamente muçulmano e, do ponto de vista histórico, famoso pela herança faraônica, mas é muito mais do que isto. Se os grandes monumentos do período dinástico impressionam, os vestígios da passagem de gregos e romanos também estão lá, se as mesquitas pontilham a paisagem das cidades, igrejas também não faltam, e revelam a presença de uma das mais antigas comunidades cristãs do mundo.
A Igreja Copta é uma denominação ortodoxa surgida no Egito nos primórdios da Era Cristã. Depois de séculos de domínio ptolomaico – dinastia de origem helênica fundada por um dos generais de Alexandre, o Grande, da qual a última representante foi a famosa rainha Cleópatra -, o país passou ao controle dos romanos. Na época, Alexandria era a mais importante cidade do Mediterrâneo.
Foi neste cenário que os primeiros cristãos surgiram no Egito. A Igreja Copta, acreditam os fiéis, foi fundada por São Marcos, e até hoje é de longe a maior denominação cristã do país. A língua copta é derivada do grego e sua escrita utiliza o alfabeto helênico, mas inclui caracteres derivados de hieróglifos. Os coptas se consideram descendentes diretos dos antigos egípcios.
A comunidade é tão antiga que já ocupava áreas do atual Cairo antes da fundação da cidade no século 10 d.C. pelos muçulmanos fatímidas. Igrejas e monastérios foram construídos no local de uma fortaleza romana, chamada de Babilônia, cujas ruínas ainda podem ser vistas no bairro hoje chamado de Cairo Antigo ou Cairo Copta. Uma destas igrejas, a de Abu Serga (São Sérgio), foi construída no século 11 sobre uma gruta onde, acreditam os egípcios, a Sagrada Família se abrigou em sua fuga ao Egito.
Lá há também o Museu Copta, um belíssimo conjunto de prédios que abriga obras de arte e outros artefatos que contam a história da comunidade copta. “São grandes obras de todo o Egito. Há 1.600 peças em exposição e mais de 20 mil guardadas no acervo”, disse à ANBA o diretor-geral do museu, Atif Naguib.
As obras são originárias majoritariamente de igrejas e monastérios localizados ao redor do país. A tradição monástica cristã surgiu no Egito.
Dividido em 26 galerias, mais uma galeria especial, o museu reúne manuscritos e livros antiquíssimos, relevos, afrescos, objetos utilizados em cultos, altares, têxteis, peças de madeira, entre outras. “A coleção conta a história copta, dá uma ideia completa da religião”, declarou Naguib.
Destaque para afrescos que são considerados obras primas da arte copta, óstracas, que são inscrições em fragmentos de cerâmica, pedras e até ossos, e evangelhos gnósticos, textos antigos escritos em papiro, achados no Egito, que atribuem ensinamentos a Jesus e falam de crenças que diferem da tradição consolidada no Novo Testamento.
Assim como outras atrações do Egito, o museu sofre com a redução do número de turistas, que começou com a Primavera Árabe, em 2011, mas foi agravada com a queda dos aviões da russa Metrojet, no Sinai em outubro de 2015, e da Egyptair, no Mediterrâneo, em maio último.
“Temos visitantes de fora, mas menos, estamos tentando atrair visitantes locais para mostrar mais sobre esta civilização”, afirmou Naguib. A reportagem fez uma visita em dia de semana pela manhã, em setembro, e o local estava bastante vazio. Segundo ele, a instituição tem buscado atrair escolas e o público em geral, realizando eventos em datas festivas como o Dia das Mães e o Dia das Crianças, ou organizando exposições temáticas.
O Egito, assim como os vizinhos Palestina, Israel e Jordânia, tem forte vocação para o turismo religioso cristão e tem intenção de conseguir atrair pelo menos parte dos turistas que vão à Terra Santa. A Egyptian Tourism Authority, agência nacional de promoção do turismo, até produziu um livro que mostra os locais por onde a Sagrada Família passou no país e quais atrações lá existem.
Segundo o presidente da agência, Samy Mahmoud, o Egito planeja fazer uma campanha de divulgação para atrair mais turistas cristãos. Ele próprio tem em sua sala um banner de promoção do roteiro A Família Sagrada no Egito. Há, porém, falta de segurança na região de fronteira entre o Egito, Palestina e Israel, o que impede os visitantes de fazer o trajeto por terra e inibe a estratégia.
Para visitar o bairro Copta o ideal é ir de metrô. Ao embarcar na estão Sadat, na Praça Tahrir, centro do Cairo, são quatro paradas pela linha azul até a estação Mar Girgis, que fica em frente ao museu.
Serviço
Museu Copta
3 Sharia Mar Girgis, Cairo, Egito
Metrô: descer na estação Mar Girgis
Horário: diariamente das 09 às 17 horas, mas as bilheterias fecham às 16 horas
Ingressos: para estrangeiros, 60 libras egípcias (inteira) e 30 libras (meia). Para egípcios, 10 libras (inteira) e 05 libras (meia). R$ 1,00 equivale a 2,83 libras.
Mais informações: www.coptic-cairo.com