Cairo – Em evento suntuoso, o presidente egípcio, Abdul-Fattah Al-Sisi, apresentou ao mundo o novo Museu de Luxor, com suas antiguidades e tesouros de uma civilização que remonta há cinco mil anos. As procissões conhecidas como “Passeio dos Carneiros” foram resgatadas e revividas na presença de muitas personalidades internacionais, embaixadores de mais de 35 países e representantes de mais de 200 veículos de comunicação locais e estrangeiros. A reabertura do museu ocorreu na última semana, chamando a atenção do mundo.
O evento teve o objetivo de promover o turismo na cidade de Luxor, posicionando o museu como o maior ao ar livre do mundo, destacando características e passeios turísticos e arqueológicos únicos e diferenciados de Luxor, como o sol ardente, cruzeiros no rio Nilo, balões, o glamoroso passeio de carruagem na corniche às margens do Nilo, além do mercado tradicional, onde se encontram lojas de especiarias e produtos tradicionais da região.
Além da revitalização de procissões como o Passeio dos Carneiros, foram concluídos importantes projetos como a nova identidade visual da cidade e o desenvolvimento da corniche às margens do Nilo. O Passeio dos Carneiros é um passeio que se dá entre estátuas de esfinges que mesclam corpos e cabeças de humanos, leões e carneiros.
O Festival de Opet
As celebrações no Antigo Egito eram divididas em diversos eventos: as festas oficiais celebradas em todo o Egito, como a festa de Ano Novo, as festas do primeiro dia do mês, as festas do meio do mês e a coroação do rei, além das festas locais que pertenciam à cada região separadamente. Havia também as festas religiosas, como a celebração ao deus Min, que era realizada no primeiro mês da época da colheita, e o Festival de Opet.
Muitos feriados religiosos importantes eram celebrados em Luxor e na antiga capital do Egito, Tebas. O Festival de Opet era uma das celebrações mais importantes do ano, tendo em vista que recebeu o nome do segundo mês da estação de Akhet, a estação das inundações. Nessa ocasião, as estátuas da Tríade de Tebas eram retiradas de seu santuário em Karnak e levadas para o Templo de Luxor, para encontrar Amenemopé.
Uma longa estrada ladeada de estátuas de esfinges liga os dois templos, e a magnífica procissão do Festival de Opet, anual, era usada para ir e retornar de Karnak ao Templo de Luxor. Uma rota alternativa também foi usada através do rio Nilo, quando uma frota de barcos compunha uma grande procissão que atravessava o rio. Durante o reinado de Hatshepsut, a rota terrestre era usada para ir ao Templo de Luxor, enquanto a que atravessava o rio era usada no caminho de volta. Entretanto, no final da 18ª dinastia, a rota do rio era usada na ida e no retorno.
Os faraós do estado moderno foram muito cuidadosos ao registrar as várias cenas do Festival de Opet, sendo os mais importantes: Hatshepsut, nas paredes da Capela Vermelha de Karnak; Tutemés III, nas paredes do Templo de Akh-menu; Amenófis III, no Terceiro Edifício; Horemebe, no pátio entre o Nono e o Décimo Edifício; Seti I, no Pátio dos Grandes Sábios, em Karnak; Ramessés III, em Karnak e na cidade de Habu.
Nas paredes do Grande Salão do Templo de Luxor foi retratada essa procissão com grandes detalhes, na qual alguns soldados marchavam, portando armas, ao som da música, enquanto outros marchavam tocando buzinas e tambores. Ao mesmo tempo, dançarinos animavam ainda mais as festividades e, diante deles, bois cevados eram oferecidos como sacrifícios, enquanto nobres desfilavam em suas carruagens, ao som do canto entoado por sacerdotes e sacerdotisas.
O Festival de Opet costumava durar vários dias, mas isso variava de tempos em tempos. A duração do festival, no reinado de Tutemés III, era de 11 dias. Entretanto, durante o reinado de Ramessés III, a celebração se estendia por 24 dias. Há indícios de que os egípcios continuaram a celebrar o Festival de Opet até o período do Império Romano.
O objetivo do Festival de Opet era transferir as estátuas de Amon, Mut e Quensu, a Tríade Tebana, para o Templo de Luxor, onde se uniriam à de Amenemopé, para renovar sua juventude, a juventude do rei e de toda a natureza, especialmente quando ocorriam inundações, antes de retornar ao norte, para Karnak. Devido a essa peculiaridade, que torna o Egito um país diferente de qualquer outro no mundo, tais celebrações religiosas em Luxor tiveram continuidade até os dias atuais, mas com um propósito diferente por cristãos e muçulmanos.
Renovação da Marina
Antes da inauguração, o Ministério do Turismo e Antiguidades do Egito concluiu a renovação e requalificação da marina para hotéis flutuantes, em Luxor. A Autoridade de Engenharia das Forças Armadas iniciou a implementação do projeto de desenvolvimento da Marina de Luxor em novembro de 2019 e concluiu em 1º de outubro de 2021. A marina é dividida em duas partes: a primeira tem 450 metros de comprimento e acomodará cinco ancoradouros para atracação de hotéis flutuantes, e o segundo trecho tem 730 metros de comprimento, que acomodará seis ancoradouros para atracação de hotéis flutuantes. A marina também abriga 69 lojas.
O projeto incluiu uma rede de drenagem para os barcos do Nilo ao longo da marina, além de uma rede de proteção contra incêndio. A área foi pavimentada com pisos de mármore, granito e basalto negro, onde foram instaladas jardineiras contendo diferentes tipos de plantas, além de disponibilizar 17 pérgulas de madeira e 6 quiosques de atendimento aos turistas, decorados com gravuras que incorporam a identidade visual diferenciada de Luxor.
A marina foi decorada com a instalação de murais artísticos baseados na ideia de integrar a caligrafia árabe e imagens de homens e mulheres do Egito Antigo e do Alto Egito, com a reprodução de belas paisagens e seus lindos ícones, como palmeiras e veleiros. Também foram construídos murais de poliéster, que retratam principalmente cenas da vida cotidiana dos antigos egípcios durante a civilização faraônica, com iluminação noturna.
Veja abaixo imagens da inauguração divulgadas pelo governo do Egito:
Passeio dos Carneiros
A construção da estrada da procissão conhecida como “Passeio dos Carneiros” teve início pelas mãos do rei Amenhotep III, que iniciou a edificação do Templo de Luxor, mas a maior parte da obra se deve ao Rei Nectanebo I.
A estrada tem 2.750 metros de comprimento e 700 metros de largura, ao longo da qual se enfileiram, de ambos os lados, cerca de 1.200 estátuas, cada uma esculpida a partir de um único bloco de arenito, apresentando duas formas: a primeira com a forma de um corpo de leão e uma cabeça humana, sendo o leão um dos símbolos do deus Sol, enquanto a segunda tinha o formato de um corpo humano com uma cabeça de carneiro, que simbolizava Khnum, deus da fertilidade segundo a antiga mitologia egípcia, pela qual era venerado como criador de toda a humanidade.
No tempo do Egito Antigo, a Grande Estrada das Procissões, ou “Passeio dos Carneiros”, era uma importante rota de procissão para os reis e faraós, onde eram celebradas várias festividades sazonais, incluindo o Festival de Opet e o Dia da Coroação do Rei. No passado, havia uma enorme barragem de pedra para proteger a estrada do lado oeste da cidade de Luxor, que foi a capital política do estado moderno e a capital religiosa até o período do Império Romano.
A restauração
O projeto de restauração teve início em 2005 e foi interrompido em 2011, sendo retomado em setembro de 2017. Durante as escavações na estrada, foi descoberto um grande número de estátuas divididas em duas formas: o corpo de leão com cabeça de humano e corpo humano com cabeça de carneiro, além de uma série de edifícios residenciais, administrativos e de serviço, que datam da era greco-romana, fornos para fazer cerâmica e amuletos, um edifício de tijolos de barro da era do rei Menkhepere, da 21ª Dinastia, e um túmulo do século 10º d.C.
A estrada foi reformada e transformada em museu ao ar livre, com exposição de pinturas raras do século 19, que narram a história dos templos de Karnak e Luxor, a rota da procissão, que liga os templos, e as mais importantes descobertas arqueológicas, ilustrações e cenas das datas festivas e celebrações que eram realizadas nos tempos antigos, assim como as imagens dos reis que contribuíram para a construção da estrada. Um sistema de iluminação rodoviária também foi desenvolvido para destacar sua beleza.
Templo de Karnak
O Grande Salão Hipostilo, no Templo de Karnak, foi limpo e restaurado e, de seus 134 pilares, 12 tiveram a restauração concluída. Participaram mais de 130 restauradores egípcios. Foi feita a restauração, montagem e reinstalação da estátua do Rei Tutemés II, no Templo de Karnak, que foi dividida em 74 peças desde sua descoberta. Após a restauração, a estátua, que tem cerca de 11 metros de altura, é uma das maiores estátuas no complexo do Templo de Karnak. A restauração da peça levou cerca de seis meses.
A restauração da estátua do deus Amon, da época do rei Tutancâmon, também foi concluída em cooperação com o Centro Egípcio-Francês de Estudos do Templo de Karnak, onde foi feita a concepção completa do trabalho e foi realizada e concluída a restauração da área do tórax e da perna esquerda, com base em outra estátua semelhante em aparência e história, que está no Museu Egípcio, na Praça Tahrir.
Templo de Luxor
O Ministério do Turismo e Antiguidades do Egito desenvolveu um sistema de iluminação do Templo de Luxor e promoveu a restauração das cabeças de cinco estátuas do Rei Ramessés II, devolvendo-as a seus lugares originais, no corpo das estátuas, no pátio do Rei Ramessés II. Além disso, foi realizada a limpeza, restauração e reinstalação de duas estátuas do rei Ramessés II no portão oeste do templo.
A restauração do salão de 14 colunas, construído pelo Rei Tutancâmon e pelo Rei Horemheb, também foi concluída. Os pilares do grande salão cerimonial foram limpos, a fachada do templo e suas estátuas foram limpas e restauradas e também foram instalados portões para a acesso ao “Passeio dos Carneiros”.
*Tradução de Georgette Merkhan