São Paulo – O consórcio Inframérica, formado pela empresa brasileira Infravix, do grupo Engevix, e pela argentina Corporacion América, venceu na manhã desta segunda-feira (22) o leilão de concessão do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante, na região metropolitana de Natal, Rio Grande do Norte. É a primeira vez que o governo federal passa à iniciativa privada, sob regime de concessão, a construção e operação de um terminal aéreo.
O Inframérica ganhou com o lance final de R$ 170 milhões a disputa realizada na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), com ágio de 228,82% acima do valor mínimo estipulado para o processo, que era de R$ 51,7 milhões. O total será pago pelo consórcio ao governo a título de outorga.
A vitória veio após disputa acirrada com o consórcio Aeroportos Brasil, formado pela MPE Montagens e pelo Instituto de Transportes Aéreos do Brasil, que ofereceu como lance final a quantia de R$ 166 milhões. Foram feitos quase 90 lances pelos dois grupos. O leilão durou quase uma hora.
Desde o início, porém, o Inframérica, representado pela corretora BES Securities do Brasil, apresentou a maior proposta, de R$ 132,5 milhões; seguido do Aeroportos Brasil, por meio da corretora Safra, com R$ 75 milhões; do consórcio ATP Contratec, representado pela corretora Souza Barros, com R$ 62 milhões; e do Aeroleste Potiguar, por meio da corretora Planner, que ofertou o mínimo de R$ 51,7 milhões.
“Estamos absolutamente tranquilos com o ágio que pagamos hoje”, disse, em entrevista coletiva, o CEO da Infravix, José Antunes Sobrinho. “Não temos nenhuma disposição de jogar dinheiro fora”, acrescentou, demonstrando confiança na rentabilidade do negócio.
De acordo com ele, o grupo Engevix já tem ampla experiência na construção de terminais aéreos, ao passo que a Corporacion América “é especialista” na administração, operando 46 aeroportos. Segundo o representante da companhia argentina, Martin Eurnekian, ela administra terminais na Argentina, Uruguai, Peru, Equador, Armênia e Itália.
Uma das principais preocupações sobre o empreendimento é se ele ficará pronto a tempo da Copa do Mundo de 2014, que terá Natal como uma de suas cidades-sede. O prazo estabelecido pelo edital para a construção é de 36 meses, sendo que o Mundial vai ocorrer nos meses de junho e julho, ou seja, antes do prazo. Antunes afirmou, porém, que o consórcio pretende realizar a obra “o mais rápido possível”, após cobrança da governadora do estado, Rosalba Ciarlini.
“É do nosso interesse que [o aeroporto] esteja pronto no [período de] pico de tráfego (a Copa)”, declarou o executivo. “Comercialmente isso é importante para nós”, destacou. “Temos o compromisso de, para a Copa, ter o aeroporto mais bonito do Brasil”, acrescentou Eurnekian.
O investimento previsto para a primeira fase do projeto, justamente a que deve estar pronta para a Copa, é de R$ 350 milhões a R$ 370 milhões, segundo Antunes. Ele ressaltou que o consórcio espera financiar cerca de 70% disso junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “Vamos bater no nosso querido BNDES e depois iniciar o trabalho”, afirmou.
O ministro da Secretaria de Aviação Civil, Wagner Bittencourt, declarou que o leilão “foi uma demonstração enorme da disposição e confiança que o setor privado tem nos aeroportos brasileiros”. “É uma boa sinalização para o mundo de um país que investe e se prepara para o futuro”, declarou.
A governadora ressaltou que o aeroporto “é um sonho” para o estado que se arrasta há 14 anos. A pista foi construída pelo governo federal, mas o terminal propriamente dito não existe. Ela ressaltou que a obra se insere em um conjunto de investimentos no RN que deve chegar a R$ 35 bilhões em quatro anos, e envolve também projetos de energia eólica, da Petrobras, de infraestrutura para a Copa, de saneamento básico e de agricultura irrigada.
O prefeito de São Gonçalo do Amarante, Carlos Eduardo Pereira Duarte, acrescentou que, no futuro, o terminal será “um aeroporto cidade”, com hotéis, indústria e comércio, o que vai garantir aos operadores receitas que não envolvem tarifas aeroportuárias.
Mais três
Bittencourt lembrou que está prevista, até o final do ano, a realização dos leilões de concessão dos aeroportos de Guarulhos, Campinas e Brasília. “Esperamos que a atratividade seja muito grande, que o sucesso será ainda maior”, acrescentou o presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Marcelo Pacheco dos Guaranys.
Esses três estão entre os principais do País, com enorme volume de tráfego, diferentemente do terminal potiguar, que ainda não existe. A necessidade é de ampliação. O modelo ainda não foi totalmente definido, mas já se sabe que a estatal Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) vai ter uma fatia de até 49% de cada e, a princípio, não haverá restrição ao capital estrangeiro.

