Por Tatiana Riera
Abrigo da maior comunidade árabe fora do Oriente Médio, o Brasil mantém em sua cultura fortes características comuns àquela região, como a resiliência, a tolerância e o progresso por meio do trabalho. Mais do que vínculos culturais e humanos, os 22 países da Liga Árabe possuem robustos laços comerciais com o mercado brasileiro, que vêm sendo reforçados após negociação de acordos com diferentes nações. Há, contudo, espaço e ambiente para tornar a relação ainda mais próxima, moderna e dinâmica, a fim de construir novas pontes e seguir convertendo o vínculo já existente em prosperidade.
A robustez do relacionamento comercial com o mundo árabe, fomentada pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), é representada pelo resultado da nossa balança. A região constitui o terceiro maior mercado para o Brasil no exterior, atrás apenas da China e dos Estados Unidos. A corrente de comércio entre o Brasil e os países da Liga Árabe alcançou, em 2021, mais de US$ 24 bilhões, um recorde na série histórica. A cadeia de produção de alimentos está diretamente atrelada a esse fluxo: as carnes de frango e bovina são os produtos mais exportados pelo Brasil, enquanto os fertilizantes estão no topo da lista do que mais importamos. Hoje, países como Argélia, Marrocos e Egito fornecem 26% dos fertilizantes importados, dando ao Brasil o espaço necessário para exercer o seu papel na garantia da segurança alimentar de parte do planeta.
Essa cooperação, que cresce na medida em que novos acordos na Liga Árabe vêm sendo firmados, tende a se fortalecer a curto e médio prazos em diversos setores, mas principalmente no agronegócio. Nosso país se tornou o maior exportador de produtos halal, expressão que designa alimentos e outros itens permitidos para o consumo de muçulmanos, desenvolvidos sob as regras da fé islâmica. Para ampliar ainda mais esse mercado, um convênio assinado pela ApexBrasil e pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira (CCAB), importante parceira na consolidação das boas relações comerciais com o Oriente Médio e Norte da África, pretende habilitar empresas nacionais a atuar no mercado halal entre 2022 e 2025.
Além de ampliar mercados, o convênio prevê esforços para atração de investimentos estrangeiros para o Brasil, conhecido por ser um interessante destino de recursos de fundos árabes. O Mapa Bilateral de Comércio e Investimentos Brasil-Conselho de Cooperação do Golfo, estudo realizado pela ApexBrasil, mostrou que entre 2016 e 2020, empresas do CCG fizeram 22 anúncios de investimentos na América Latina e no Caribe, sendo que 12 deles foram destinados ao Brasil. Dos US$ 1,8 bilhão investidos, US$ 1,4 bilhão ficaram em território brasileiro. O total de investimentos de fundos árabes no Brasil se aproxima de US$ 20 bilhões.
Para tornar o ambiente ainda mais atrativo, o governo federal está em negociação para assinar acordos de livre comércio incluindo cláusulas não-tarifárias de investimentos com o Líbano e está em diálogo para fechar acordos como o de livre comércio com os Emirados Árabes Unidos, de facilitação de investimentos com o Marrocos e de facilitação de investimentos com a Arábia Saudita. A agenda de discussões com países da Liga Árabe e futuros acordos incentivam e diversificam a agenda comercial e de investimentos de ambos os lados.
Nesse mesmo sentido, a ApexBrasil está em fase de planejamento para as iniciativas na região em 2023, que contará com escuta ativa das Embaixadas e parceiros locais nos países árabes. Além de manter as iniciativas tradicionais e de grande impacto, e a ampliação da atuação por meio do convênio com a CCAB, a Agência planeja desenvolver estudos de mercado de logística e de atuação em plataformas de e-commerce, bem como mapear novas oportunidades de setores estratégicos para o Brasil com a participação em novas ações de promoção comercial e de atração de investimentos.
A cooperação entre Brasil e o mundo árabe, assentada desde a chegada dos primeiros imigrantes em nosso território, no fim do século XIX, continuará promissora. A boa relação se traduz no elenco de prioridades de ações envolvendo o mercado do Oriente Médio e Norte da África, entre elas a presença brasileira na Expo 2020 Dubai, cujo resultado alcançou US$ 10 bilhões em novos negócios. Para o futuro, o estreitamento está encaminhado com medidas que evitam a bitributação e com reformas que tornam o ambiente mais seguro para novos negócios. A competitividade também está assegurada pela intenção de dar maior equilíbrio para a balança comercial, abrindo ainda mais espaço para produtos árabes essenciais para a atividade econômica.
Tatiana Riera é COO do Escritório de Dubai (Oriente Médio, Norte da África e Índia) da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil)