Salvador – Os embaixadores árabes e africanos que estão em missão oficial à Bahia participaram nesta quarta-feira (20) de um seminário organizado pela Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), que contou com representantes dos setores público e privado baiano. O encontro ocorreu no Centro Integrado de Manufatura e Tecnologia (Cimatec) do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), um misto de escola de capacitação profissional, centro universitário e laboratório de pesquisas para a indústria.
Dada a vocação do local, cooperação na área de formação profissional, intercâmbio de experiências e transferência de tecnologias foram alguns dos principais temas discutidos. O presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Rubens Hannun, que integrou a delegação, sugeriu, por exemplo, um convênio entre a Câmara Árabe e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas na Bahia (Sebrae-BA) para capacitar companhias de pequeno porte do estado a negociar com empresas árabes.
“Podemos capacitar as pequenas e médias empresas para que elas estejam preparadas para a internacionalização, uma internacionalização voltada aos países árabes”, afirmou Hannun. “A Câmara Árabe pode dar esta capacitação”, garantiu.
Em resposta, o superintendente do Sebrae-BA, Jorge Khoury, disse que a instituição que dirige tem o mesmo entendimento. “Como podemos interagir para que as empresas possam saber como fazer negócios com países árabes e africanos?”, questionou. “Sinto-me ainda mais comprometido [com esta iniciativa], pois minha família veio do mundo árabe”, declarou Khoury, cujo sobrenome é de origem sírio-libanesa.
Algumas informações sobre negociação com árabes foram passadas aos empresários presentes pelo diretor-geral da Câmara Árabe, Michel Alaby, que fez uma apresentação sobre os países da região e suas relações comerciais com o Brasil e a Bahia. “Cada país árabe é diferente, mas todos têm oportunidades de comércio e de investimentos”, disse. Ele lembrou, por exemplo, que o mundo árabe reúne cerca de 60% das reservas conhecidas de petróleo, mas nem todas as nações da região dispõem desta riqueza em abundância.
Ainda na seara da cooperação em formação e tecnologia, o gerente de Tecnologia e Inovação do Senai Cimatec, Daniel Motta, destacou que a instituição tem interesse em levar suas experiências para outros países por meio de parcerias em colaboração acadêmica, transferência de tecnologias, apoio a governos e a indústrias brasileiras que atuam fora do Brasil. O Cimatec já tem ações de intercâmbio com países da África, segundo Motta.
Os embaixadores visitaram a “fábrica modelo” instalada dentro do Cimatec, onde profissionais são treinados como se estivessem de fato dentro de uma indústria, operando máquinas de alta tecnologia e utilizando métodos atuais de gestão. A fábrica foi desenvolvida em parceria com a consultoria McKinsey, e os funcionários do Senai envolvidos no projeto viajaram ao Marrocos para conhecer um modelo semelhante que já existia em Casablanca.
Hannun sugeriu ainda intercâmbio na área de energias renováveis. A Bahia tem forte atividade de geração eólica e solar, e ele convidou empresários baianos do setor a participar da Semana de Tecnologia Gitex, feira que será realizada em outubro, em Dubai, e onde a Câmara Árabe terá um estande de 50 metros quadrados.
Negócios
As oportunidades de investimentos na Bahia foram também destaques do evento. O vice-governador do estado, João Leão, disse, por exemplo, que em novembro será licitada a construção de uma ponte que irá cruzar a entrada da Baía de Todos os Santos, conectando Salvador à Ilha de Itaparica, o que irá reduzir drasticamente as viagens rodoviárias da região metropolitana da capital ao sul do estado. “Esta licitação estará aberta a empresas de todo o mundo”, observou.
Ele e os secretários da Casa Civil, Bruno Dauster, e de Turismo, José Alves, citaram ainda outros projetos rodoviários, ferroviários, portuários, aeroportuários, e oportunidades nas áreas de agronegócio, mineração, energias renováveis, hotelaria e outros serviços para turistas.
Na outra mão, o decano do Conselho dos Embaixadores Africanos, Martin Mbeng, ressaltou que a África está aberta aos investimentos. “São 54 países, temos economias diversificadas, onde as pequenas e médias empresas têm um papel especial”, afirmou, garantindo que não é preciso ser grande para investir no continente. “Em nosso continente há um verdadeiro bufê de oportunidades. Não estamos convidando [vocês a ir à África] por motivos sentimentais, porque são primos do outro lado do ‘lago’, mas para fazer negócios, porque são lucrativos”, acrescentou Mbeng, que é embaixador de Camarões no Brasil.
Na mesma linha, o decano do Conselho dos Embaixadores Árabes, Ibrahim Alzeben, disse que a viagem à Bahia serve “para resgatar nossas raízes”, dada a presença árabe e africana no estado, mas também para apresentar as oportunidades existentes nas duas regiões. “E não são coisa pequena, como se vê na mídia às vezes. Temos muito a oferecer, não só mão de obra barata, não só petróleo”, destacou. “Temos oportunidades de negócios e queremos incentivar um olhar diferente sobre o mundo árabe e a África, que são parceiros de vocês (baianos) e têm uma história em comum”, ressaltou Alzeben, que é embaixador da Palestina.
Um pouco desta história em comum os embaixadores puderam ver no Arquivo Público da Bahia, cujos profissionais separaram para os diplomatas documentos datados desde o século 18 que registram a presença árabe e africana no estado, incluindo cartas com orações escritas em árabe da época da Revolta dos Malês, levante de escravos africanos ocorrido em 1835.
Balanço
Rubens Hannun avaliou a missão de maneira positiva. No dia anterior, ele havia sugerido a criação de um grupo de trabalho para explorar oportunidades de negócios e cooperação entre a Bahia e os países árabes. “A ideia foi bem recebida. Eles foram muito receptivos, dos dois lados”, disse ele à ANBA.
Para o executivo, existem muitas oportunidades de negócios. Ele citou, por exemplo, as áreas de infraestrutura, energias renováveis, alimentos e turismo. “Vamos trabalhar mais juntos e em continuidade”, afirmou. Hannun defende que as relações têm que ser regulares, de longo prazo e devem extrapolar os negócios para serem sustentáveis. O intercâmbio nas áreas cultural, social e outras deve ser incentivado. “Oportunidades existem várias e as portas estão se abrindo. A Câmara, o Conselho dos Embaixadores e o governo da Bahia vão dar andamento ao grupo”, concluiu.
Na mesma linha, o presidente da Fieb, Antônio Ricardo Alban, disse: “Precisamos fazer uma verdadeira integração, só isso garante algo realmente promissor”.
Michel Alaby também considerou a viagem positiva. “Tivemos o evento da Fieb e a possibilidade de acordos com o Senai Cimatec. Vários embaixadores ficaram de retomar o contato para firmar eventuais acordos, o que é algo derivado do trabalho da Câmara Árabe”, comentou.
Alaby se disse particularmente impressionado com os números de produção de soja, milho e gado da Bahia, e ele ainda conversou com empresários dos setores têxtil, de construção e de alimentos interessados em fazer negócios com os árabes. “Tenho certeza que os embaixadores voltarão à Bahia para verificar possibilidades efetivas de negócios, quer na área de investimentos, quer na área de turismo”, acrescentou.