São Paulo – A pandemia do coronavírus está afetando a rotina dos argelinos e a economia do país árabe. A Argélia, que está entre as dez maiores economias da África, anunciou medidas para facilitar a importação de insumos para fabricação de equipamentos de proteção ao vírus, convocou a população ao consumo de alimentos alternativos, e autorizou a venda direta de farinha pelos moinhos à população para facilitar o abastecimento. Um grupo local anunciou a produção da cloroquina.
As informações sobre esses e outros fatos foram publicadas nesta semana na agência de notícias oficial local, a Algérie Presse Service (APS). Os últimos dados disponibilizados informam 986 casos e 83 mortes por coronavírus na Argélia. O ministro da Indústria e Minas da Argélia, Ferhat Ait Ali Braham, anunciou medidas excepcionais aduaneiras e bancárias para importação de matérias-primas para produtos como desinfetantes e outros itens para limpeza, máscaras e roupas de proteção.
Segundo ele, indústrias públicas estão tomando medidas para administrar esse período sensível com o objetivo de abastecer o mercado nacional com produtos químicos e farmacêuticos necessários para enfrentar a pandemia, além de alimentos básicos. O ministro afirmou que não é possível forçar o setor privado a trabalhar no prejuízo, mas o setor público pode fazer sacrifícios.
Para enfrentar a pandemia, as indústrias locais estão produzindo entre 80 mil e 90 mil máscaras cirúrgicas ao dia e foi aumentada a capacidade de produção de desinfetantes no país. A Argélia fez um pedido de 100 milhões de máscaras cirúrgicas para a China, com promessa de entrega em três dias, segundo informações do presidente argelino, Abdelmadjid Tebboune, à imprensa.
O grupo argelino Saidal informou que vai começar a produzir a cloroquina, medicamento usado no tratamento da malária que está sendo usado em pacientes graves de coronavírus em alguns países, mas ainda não é oficialmente indicado como solução para a doença. Segundo a notícia da APS, a Argélia tem atualmente estoque de cloroquina que permite o tratamento de 200 mil argelinos.
As empresas Saidal, de produtos farmacêuticos, Agrovid, do setor agroindustrial, Getex, indústria de couros e têxteis, Algeria Chemical Specialities (ACS), de produtos químicos, e o conglomerado industrial Divindus foram convocados a adaptar seus produtos e aumentar a capacidade de produção, cada um em seu nicho. A Getex, por exemplo, foi convocada a produzir máscaras.
O governo argelino informou que o apoio do estado seguirá para o acesso da população a alimentos básicos com preços acessíveis, mesmo com a queda dos preços do petróleo e crise econômica mundial causada pela pandemia. Segundo o ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Chérif Omari, o país tem reservas cambiais de US$ 60 bilhões, o que permitirá que administre a situação.
O ministro, no entanto, recomendou que a população se reconecte a hábitos alimentares saudáveis de seus ancestrais e lute contra o desperdício. Omari falou que os argelinos se tornaram grandes consumidores de trigo comum, mas no passado usavam mais trigo duro e cevada. Ele recomenda o uso dos dois últimos para fazer pão integral. A Argélia possui uma forte política de incentivo à produção nacional e redução das importações, e alcançou a autossuficiência em produtos como o trigo duro.
O presidente da Organização da Argélia para a Proteção e Orientação do Consumidor e seu Meio Ambiente, Mustapha Zebdi, disse à APS que o varejo de várias províncias interrompeu o fornecimento, principalmente de produtos como sêmola e farinha. O grupo Agrovid, que produz os dois itens, mas não consegue abastecer todo o mercado sozinho, convocou moinhos privados estabelecidos no país a ajudarem. O governo autorizou a abertura de canais de venda dos moinhos direto ao consumidor.
Na terça-feira, o presidente argelino disse que o país tem capacidade suficiente para enfrentar a covid-19, tanto em termos materiais, financeiros e organizacionais. Ele afirmou que o país foi um dos primeiros a tomar medidas contra a propagação da pandemia, com fechamento de escolas, universidades e estádios, a repatriação de argelinos para colocá-los em quarentena, entre outras medidas.
O presidente afirmou que o problema atual não é de natureza financeira. Tebboune disse que os médicos argelinos estão entre os melhores do mundo e o país tem todos os meios para lidar com a pandemia. A Argélia tomou outras medidas, como a liberação de benefício para profissionais de saúde, o que pode ser estendido a outras categorias. Segundo Tebboune, o país também está do lado das empresas e dos artesãos e colocará em prática todos os meios para ajudar pequenas e médias empresas.
O grupo Sonatrach, estatal de petróleo e gás da Argélia, anunciou que vai cortar em 50% seu orçamento para 2020 e adiar projetos que não são urgentes em função do coronavírus. O CEO do grupo, Toufik Hakkar, afirmou que estão sendo reduzidas todas as despesas que não afetam a futuro da produção e que foi criada na empresa uma unidade de acompanhamento para monitorar a evolução do mercado e definir ação rápida diante das circunstâncias.