São Paulo – Os países árabes estão aumentando significativamente a sua participação como expositores e visitantes de feiras no Brasil. A percepção é de Diego de Carvalho, vice-presidente da NürnbergMesse Brasil, uma das grandes promotoras e organizadoras de feiras no País. “É uma tendência que reflete o crescente interesse econômico e comercial dessas nações em estabelecer e expandir parcerias no mercado brasileiro”, disse o executivo, em entrevista para a ANBA, sobre a presença árabe.
Carvalho afirma que esse aumento na participação é observado, especialmente, desde o início da última década, em 2010. O vice-presidente acredita que o interesse árabe pela diversificação econômica dos seus países, para fortalecer a estratégia de redução da dependência do petróleo, que é uma energia não renovável, é uma das motivações que levam à’ maior presença nas feiras brasileiras.
“Outras incluem as relações bilaterais, iniciativas de promoção comercial, interesse em recursos naturais e, especialmente, no agronegócio brasileiro, e eventos-chaves de setores relevantes para investidores árabes, entre eles o Hydrogen Dialogue LATAM, a Biofach LATAM, a Expo Revestir, a Glass South America e a BFShow”, disse Carvalho. O primeiro é um fórum sobre energia renovável, a Biofach é uma feira de orgânicos, a Expo Revestir de revestimentos e acabamentos, a Glass South America de vidros e a BFShow de calçados.
“Esse público tem mostrado grande interesse em setores como agronegócio, tecnologia, energia renovável e infraestrutura no Brasil, por exemplo. Portanto, feiras que focam em tecnologia agrícola e alimentos processados são especialmente atraentes para esses países, que buscam diversificar suas fontes, além de criar oportunidades para realizar investimentos e firmar parcerias comerciais”, disse ele sobre os árabes.
Carvalho cita Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Egito entre os países árabes que mais participam de feiras no Brasil. Segundo o executivo, os Emirados costumam estar em eventos de tecnologia, inovação, infraestrutura e energia. Ele acredita que Arábia Saudita, como uma das economias árabes mais robustas, tem interesse em diversificar suas conexões econômicas para além do petróleo. Já o Egito, com posição estratégica entre o Oriente Médio e a África, envia regularmente expositores de áreas como engenharia, agricultura e manufatura, relata o executivo da NürnbergMesse.
O executivo percebe diferenciais que atraem os árabes às feiras brasileiras. Um deles é a indústria halal. “O Brasil possui uma indústria robusta de alimentos halal, certificada para atender às exigências dos consumidores muçulmanos”, diz. A liderança do Brasil em pesquisa e desenvolvimento agrícola, com inovações apresentadas nas feiras, é outro diferencial, segundo ele. Carvalho vê que a participação pode fortalecer relações e abrir oportunidades de parcerias e investimentos para os árabes, especialmente em agronegócio, infraestrutura e energia renovável. “É uma porta de entrada para novos negócios”, afirma.
Feiras: países que mais participam
Esse é um cenário em consonância com o que ocorre em relação ao público internacional em geral. Carvalho diz que observa aumento significativo no interesse estrangeiro pelas feiras no País nos últimos anos, o que se intensificou em 2022, depois da pandemia de covid-19. A interconexão econômica, potencializada pelo avanço das tecnologias, contribuiu para esse crescimento, segundo Carvalho. Aliado a isso, ele vê como pilares do avanço o reconhecimento da qualidade dos produtos brasileiros, como os farmacêuticos e cosméticos, os incentivos governamentais desenvolvidos para promover produtos brasileiros no exterior e atrair compradores e investidores para as feiras, e a diversificação econômica.
“O mercado do Brasil tem se esforçado para diversificar sua economia e oferecer produtos e serviços para além dos setores tradicionais como agricultura e mineração. Isso inclui tecnologia, design, moda e outros segmentos com potencial gigante que, normalmente, são apresentados em feiras e outros grandes eventos corporativos. Tudo isso torna o ambiente atrativo para quem quer fazer negócios e ampliar relações internacionais com o País”, explica.
Alguns dos países que mais enviam participantes para feiras do Brasil são Estados Unidos, China, Itália, França e Argentina, de acordo com Carvalho. Apesar de um percentual menor de presença, é perceptível, no entanto, uma diversificação na origem dos visitantes e expositores de feiras, segundo o executivo. Oriente Médio, Sudeste Asiático, África e outros países da América Latina estão aumentando a presença. “Diversificação atribuída à crescente globalização dos mercados e ao reconhecimento do Brasil como um polo econômico estratégico na América Latina em diversos setores”, afirma.
Além de estar crescendo, o Brasil já tem uma atratividade para os negócios por seu tamanho econômico. Carvalho cita os números do comércio exterior do País, com exportações de US$ 339,67 bilhões e superávit comercial de US$ 98,8 bilhões em 2023, além de aumento no número de empresas exportadoras. “Em um cenário de ascensão como esse, o Brasil é um dos países mais procurados para negócios, portanto é natural que em feiras internacionais a presença de outros países, especialmente fora da América, que estão buscando espaço na região, se intensifique”, afirma.
O vice-presidente da NürnbergMesse diz que os projetos setoriais compradores, promovidos pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) em colaboração com associações setoriais, têm sido fundamentais para impulsionar a presença de importadores em feiras do Brasil. Esses projetos convidam compradores estrangeiros para as mostras, muitas vezes cobrindo despesas de viagem e acomodação. Carvalho também diz que os eventos digitais, que surgiram especialmente com a pandemia, não atrapalham os presenciais. “Pelo contrário, eles as complementaram e transformaram o setor, tornando-o mais resiliente e adaptado às novas exigências do mercado”, afirma.
NürnbergMesse Brasil
A NürnbergMesse realiza cerca de 120 feiras e congressos no mundo, além de encontros de negócios personalizados e fóruns. No Brasil, o grupo tem a sua segunda maior operação fora da Alemanha, com 15 grandes eventos. A atuação é voltada a 28 setores, como farmacêutico, cosmético, químico analítico, pet, veterinário, de tintas e revestimentos, construção civil, aviação executiva, biotecnologia e calçadista. Entre as feiras organizadas estão FCE Pharma, FCE Cosmetique, Haus Decor Show, E-squadria Show, Catarina Aviation Show, PET South America, PET VET, COP Internacional, Analitica Latin America, ABRAFATI SHOW.
“Durante os últimos cinco anos, focamos significativamente na transformação digital, investindo em dados e na experiência dos clientes. Esses investimentos refletem algumas das principais tendências para feiras de negócios, incluindo a personalização da experiência do participante, a utilização de análise de dados para melhorar a interação com o cliente e a incorporação de tecnologias digitais que facilitam a conectividade e o engajamento em nossos eventos”, diz Carvalho sobre a atuação a NürnbergMesse Brasil. Neste ano, a promotora de feiras completa 15 anos de operações no mercado brasileiro.
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