Isaura Daniel
São Paulo – O mercado de trabalho para profissionais de comércio exterior está em alta no país. O aumento das exportações brasileiras aqueceu a procura por pessoal da área e elevou os salários oferecidos. Headhunters de três consultorias ouvidas pela ANBA disseram perceber uma maior procura por executivos de comércio exterior do final do ano passado para cá.
"O Brasil aumentou o volume de exportações e também o volume de empregos relacionados à exportação", diz Marco Antônio Bayeux, sócio da GreenHill Consulting House, empresa de busca e seleção de executivos.
Não há números precisos de quantos brasileiros foram contratados por empresas exportadoras no período, mas, no seu último relatório, o Ministério do Trabalho atribuiu grande parte do 1,034 milhão de novos empregos formais criados até junho ao comércio internacional.
A agropecuária, um dos setores que mais vem batendo recordes de exportação, foi responsável pela geração de 216,4 mil postos de trabalho. A gerente sênior da área de Career Service da KPMG, Ana Maria Cadavez, confirma que entre os setores que mais estão contratando está o agronegócio. A elevação no número de vagas criadas até junho no setor rural foi de 17%, bem acima da média nacional, de 4,45%. Também houve aquecimento nas contratações da indústria de transformação.
De acordo com os consultores, os novos empregos estão tanto nos escritórios de comércio exterior e companhias de grande porte, que estão expandindo seus negócios fora do país, quanto nas médias empresas, que montaram seus departamentos de exportação. Entre os profissionais mais procurados estão os lideres de negócios.
"São pessoas focadas em resultados, capazes de identificar mercados e realizar compras e vendas", diz Francisco Britto, diretor da Ray & Berndtson do Brasil, empresa de seleção de executivos. Britto diz que o perfil em alta é do executivo jovem, com formação acadêmica, bom trânsito no setor e domínio de dois ou três idiomas.
Há casos em que as empresas chegam a solicitar conhecimento na língua local, como o mandarim, no caso da China. "O inglês é indiscutível, o que vai dar o diferencial competitivo ao profissional é o terceiro idioma", diz Britto. As exportações do Brasil para a China cresceram 32% nos seis primeiros meses do ano.
As vendas internacionais para os países árabes também cresceram muito. Só no mês de junho o aumento foi de 170%. "Para os países árabes também está havendo demanda", diz Ana Maria, referindo-se à procura por executivos.
O mercado ainda não está exigindo, no entanto, o domínio do idioma árabe. "São raros os profissionais que falam árabe", diz Bayeux. O headhunter lembra, porém, que o conhecimento da língua e a cultura local facilita o fechamento de negócios.
Salários
Os salários pagos também aumentaram do final do ano passado para cá devido ao aquecimento do mercado, de acordo com Ana Maria, da KPMG. A gerente afirma que os aumentos salariais ficaram entre 15% e 30%. Um gerente da área, segundo Ana Maria, ganha entre R$ 6 e R$ 12 mil.
Ela esclarece, porém, que estes valores são conservadores e podem ser ainda maiores. Britto, da Ray & Berdndtson, afirma que, no caso de cargos de diretoria, os salários variam entre R$ 15 e R$ 25 mil. "Com exceções para mais no caso de grandes companhias", diz.
Logística e tecnologia
O diretor da Ray & Berndtson diz que há também outros dois mercados profissionais crescendo na esteira da balança comercial. Um deles é o de logística e o outra de tecnologia. "Quando há aumento de vendas você precisa fazer a mercadoria chegar ao local", explica Britto. No caso da logística a procura é por profissionais que saibam rotas, conheçam portos e tenham facilidade de mobilização. Já o funcionário de tecnologia vai dar ao exportador o suporte técnico para a venda, como o acesso a informações em tempo real e equipamentos e sistemas de última geração.
Bayeux, da GreenHill Consulting House, afirma que há também a busca por profissionais especializados no planejamento internacional. "Existe demanda pela parte de inteligência da exportação, o estudo das características do país, avaliação do mercado, a preparação do campo para a exportação", afirma.
Bayeux diz ainda que há no mercado falta de profissionais de exportação voltados para a venda de produtos acabados. "Temos grandes profissionais orientados para a venda de commodities, de baixo valor agregado, mas há falta de profissionais especializados em venda de produtos finais."
Para os cargos de líderes de negócios normalmente são buscadas pessoas com formação em comércio exterior, administração de empresas, economia ou direito. "Em alguns casos eles têm mestrado em negócios internacionais", diz Bayeux.

