Isaura Daniel
São Paulo – As empresas internacionais já perceberam o filão em que se transformou o setor de logística brasileiro. O ritmo acelerado das exportações brasileiras está virando um chamariz para as companhias estrangeiras que atuam no setor de infra-estrutura do comércio internacional, como as transportadoras de cargas, armazenadoras de produtos ou operadora de portos.
O movimento já está refletido no último levantamento sobre o ingresso de capital estrangeiro no país. O setor de transportes, que engloba desde a área rodoviária até ferrovias e portos, recebeu US$ 123 milhões no mês de julho. O valor significa um crescimento de US$ 119 milhões sobre o mesmo período do ano passado.
Nos sete primeiros meses do ano, o dinheiro investido pelos estrangeiros no setor somou US$ 190 milhões, um aumento de quase quatro vezes sobre o mesmo período de 2003. "As grandes operadoras internacionais da área de logística estão vindo", diz o diretor-executivo da Associação Brasileira de Logística (Aslog), Alfredo Neto.
O setor de infra-estrutura, que inclui também áreas como a de construção e energia, além de transportes, recebeu 25% do US$ 1,6 bilhão de capital estrangeiro que ingressou no Brasil em julho. Ou seja, foram cerca de US$ 400 milhões num único mês. De acordo com especialistas do setor, o movimento reflete tanto investimentos das multinacionais de logística que já estão instaladas no país quanto a chegada de novos empreendedores mundiais.
O Brasil já comporta, na verdade, algumas das grandes companhias internacionais da área, como a transportadora alemã DHL e as norte-americanas Federal Express (Fedex) e UPS. A DHL, como grande parte das companhias do setor, não divulga as suas previsões de investimentos, mas tem planos ousados para as entregas de cargas pesadas no país. A receita com remessas de mercadorias pesadas teve um aumento de 45% desde o início do ano, impulsionado principalmente pelo crescimento do comércio internacional brasileiro.
"A retomada do crescimento aumentou a nossa demanda de remessas nacionais e internacionais com essas características", diz a vice-presidente comercial da empresa, Thais Marca. O objetivo da empresa é fazer com que as cargas pesadas, que hoje significam 16% do faturamento da subsidiária brasileira, passem a representar 30%.
"Elas (companhias internacionais) não vão deixar passar a oportunidade de explorar uma atividade que está tão abandonada no país", diz o presidente da Associação Brasileira de Transportadores de Cargas (ABTC), Newton Gibson. É consenso no país que a atual infra-estrutura de portos, estradas, ferrovias e a indústria naval não suportam o tamanho do atual crescimento.
As exportações brasileiras aumentaram 47% apenas no mês de julho sobre o mesmo mês do ano passado. Nos sete primeiros meses do ano, o crescimento foi de 33%.
Mais dinheiro
De acordo com os empresários da área de logística, este movimento de chegada dos estrangeiros reflete o esforço que a iniciativa privada está fazendo para dar sustentação o aumento do comércio internacional brasileiro. Neto, da Aslog, acredita que o fluxo de investimento de dinheiro de fora no setor tende ser ainda maior daqui por diante.
O diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Julio Sérgio Gomes de Almeida, prefere ser cauteloso. Ele acredita que se o crescimento percebido nos últimos meses se sustentar, aí sim o país poderá esperar um ingresso maior de capital estrangeiro. "Se houver sinais de que a economia brasileira vai continuar crescendo, o dinheiro estrangeiro vai vir para o setor de transportes pois é um setor que está no gargalo", diz Almeida.
Governo
As lideranças do setor de logística dizem que estão aguardando também investimentos públicos. "Estamos reivindicando investimentos na área de infra-estrutura por parte do governo", diz Gibson. O Senado está discutindo, neste momento, o projeto de Parcerias Público Privado (PPP) que vai definir as regras da participação do setor privado em áreas de infra-estrutura até então nas mãos do governo.
Vários estados brasileiros já implantaram os seus PPPs e estão investindo em estradas, portos e armazenagem em parceria com empresas privadas.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva garantiu na segunda-feira (30), durante visita à fabricante de equipamentos Caterpillar, que não vai faltar dinheiro para a infra-estrutura no país e que as empresas podem fazer sua expansão. "Se depender de hidrelétricas, se depender de estradas, de investimentos em infra-estrutura para a Caterpillar crescer um pouco mais e contratar mais funcionários, podem começar a fazer a contratação porque ela vai ter razão de sobra para isso", disse Lula.

