São Paulo – Quando começou a criar jacarés, no começo dos anos 80, o veterinário Gerson Bueno Zahdi queria salvar o animal da extinção no Pantanal. Naquela época, a caça ao jacaré-do-pantanal ameaçava acabar com um dos predadores da fauna local. Hoje, além de colaborar com a preservação, Zahdi lucra com o abate e se prepara para exportar pele de jacaré para a produção de bolsas, sapatos e roupas. “A pele dos nossos animais é excelente. Os americanos e italianos dizem que é de primeira qualidade”, diz.
Essa história, contudo, começou no começo do século 20, quando, em 1912, o avô de Zahdi deixou a Síria com destino ao Brasil. Aqui, ele viveu em Paranaguá e Curitiba, no Paraná, e trabalhou como mascate até se mudar para Mato Grosso do Sul, onde, quase 80 anos depois, o neto se tornaria o primeiro produtor nacional de jacaré-do-pantanal precoce. Zahdi trabalhava no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e acompanhou a caçada descontrolada da espécie. “Decidi criar jacaré para preservá-los”, recorda o fazendeiro de 65 anos.
Ele, hoje casado com Rosaura, foi o primeiro produtor de jacaré precoce porque desenvolveu uma técnica que lhe permite abater o animal com idade entre 12 e 15 meses, quando a idade média de abate é de 36 meses. Fornecer ração sem conservantes, não dar antibióticos aos animais e reduzir o tempo entre as refeições são algumas das mudanças em relação ao trato normal.
Os jacarés que ele cria crescem e engordam mais rápido e têm uma pele melhor do que os outros animais. Abatidos mais cedo, ficam menos tempo no sol e sofrem menos calcificação, o que torna a pele melhor para o processamento de couro. “Antigamente, um produtor precisava de quatro a seis meses para abater um frango. Hoje, com 40 dias ele já está bom. O mesmo acontece com os jacarés graças às melhorias que fazemos”, afirma.
A Fazenda de Zahdi, chamada Cacimba de Pedra-Reino Selvagem, fica em Miranda, a cerca de 200 quilômetros de Campo Grande. Na área de 1.800 hectares ele cria 2.200 cabeças de gado e seis mil cabeças de jacaré-do-pantanal. É o único empresário autorizado pelo Governo Federal a criar a espécie para abate no Mato Grosso do Sul.
Da receita que ele obtém com a fazenda, 50% vêm da criação de gado, 25% da criação de jacarés e outros 25% do turismo, que é resultado da criação dos répteis. Dentro da propriedade, há uma pousada com 45 leitos que recebe turistas o ano todo. Metade deles são estrangeiros. A maioria dos pratos servidos aos visitantes são feitos com carne de…. jacaré: iscas de jacaré, aperitivo de pata de jacaré e filé flambado são alguns. Os turistas têm também a oportunidade de visitar o criadouro dos bichos.
Se o turismo é uma fonte de renda para a fazenda de Zahdi, a propaganda decorrente dele e a venda dos animais garantem mais dividendos ao empresário. Ele já teve contato com compradores de outros países e espera, em breve, começar a exportar. “Se um pedido for feito hoje, começo a entregar daqui a um ano”, afirma.
O ganho do produtor com a pele é maior no mercado internacional. Quando é vendida processada, já preparada para o uso, a pele custa ente US$ 10 e US$ 20 por centímetro linear a partir da parte mais larga da barriga do animal. “Mas é um risco grande vendermos a pele já curada para fora do país. O consumidor reclama de falhas. Então, vendemos a pele sem a cura. Esse estágio fica sob responsabilidade do comprador”, afirma Zahdi.
Ele produz de três mil a quatro mil peles de jacaré por ano, volume que considera pequeno em relação aos grandes produtores internacionais. "Mas estamos crescendo. Nosso produto é melhor do que o dos produtores de Mato Grosso. É preciso estar atento à qualidade", diz.