São Paulo – A Câmara de Comércio Árabe Brasileira recebeu na tarde desta quarta-feira (19) a visita de cerca de 40 crianças atendidas pelo Lar Sírio em sua sede, na Avenida Paulista, em São Paulo. A turma que tinha por volta de dez anos de idade foi recebida pelo presidente da entidade, Osmar Chohfi, e pela vice-presidente de Marketing, Silvia Antibas.
Em uma breve e didática apresentação, o embaixador Chohfi falou sobre o trabalho da Câmara Árabe e contou que seu pai foi um dos fundadores do Lar Sírio e da instituição que preside.
“A Câmara Árabe ajuda o Brasil a exportar produtos para os árabes e a importar o que precisa deles”, disse. Ele explicou que o Brasil vende muitos alimentos aos países árabes, que em sua maioria têm clima desértico, enquanto os árabes vendem para o Brasil principalmente petróleo e fertilizantes.
Silvia Antibas, que também é diretora cultural da Câmara Árabe e historiadora, conduziu uma aula sobre os países árabes e a imigração árabe ao Brasil. As crianças se sentaram em frente ao mapa que fica em uma parede da entidade, e Silvia falou que o que despertou sua curiosidade ainda criança foram as histórias de seu pai, libanês e de sua mãe, síria.
Ela contou que durante o domínio otomano, os árabes das regiões onde hoje são a Síria e o Líbano deixaram suas casas e pegaram navios para procurar uma vida melhor. O navio parava na Europa e de lá, seguia para o Brasil.
“Mas por que não ficaram na Europa?” Um garotinho perguntou. Silvia disse que muitos queriam vir ao Brasil porque o país era uma terra cheia de oportunidades para o comércio e a industrialização. “No Brasil tinha emprego, terra, abertura de comércio”, disse.
Os árabes que aqui chegaram no final do século 19 desembarcaram pelos portos de Santos, Rio de Janeiro e Salvador. Muitas famílias enriqueceram rapidamente com o comércio. O setor de tecidos, naquela época, foi dominado pelos árabes, que também participaram do processo de industrialização do País.
“Essas famílias ricas então decidiram devolver à comunidade criando hospitais e asilos, e nessa história, entra o Lar Sírio, fundado por árabes de Homs, da Síria. Os mesmos que fundaram também o Clube Homs aqui na [Avenida] Paulista. Essas famílias montaram o lar para ajudar a comunidade não só árabe, mas também brasileira, e este ano completa 100 anos”, contou Silvia.
O livro “Lar Sírio Pró-Infância, 100 anos” foi escrito por Silvia Antibas e será lançado em maio.
A historiadora lembra que os árabes investiram muito na educação dos filhos e cada geração foi tendo mais estudo que a anterior. Os árabes também tiveram influência na música, na língua portuguesa, e em diversos setores da cultura brasileira. Silvia lembrou que diversas palavras da língua portuguesa vêm do árabe, como alface, alfaiate, sofá, armarinho, entre outras.
A coordenadora socioeducacional do Lar Sírio, Marina Hannun, contou à ANBA que o lar começou como um orfanato de crianças da coletividade síria. Os fundadores compraram um terreno no Tatuapé, onde fica o Lar Sírio até hoje, e começaram recebendo crianças sírias, e com o tempo, crianças brasileiras.
Desde 2015, o Lar Sírio deixou de ser um abrigo e passou a receber as crianças para as atividades complementares antes ou depois da escola, com turmas de manhã e à tarde, atendendo crianças de 4 a 14 anos, e com programa profissionalizante para adolescentes acima de 14 anos. Lá, eles almoçam e realizam atividades esportivas, têm aulas de informática, culinária, música, artes, entre outras.
Hoje, o Lar Sírio conta com duas crianças de famílias em situação de refúgio, da Síria. Os demais são brasileiros. “Temos parceria com o Sesi e com escolas públicas e atendemos famílias de baixa renda que moram em comunidades no Tatuapé, ou Itaquera, Guaianazes, São Miguel. Também recebemos filhos de pessoas que trabalham no bairro e hoje atendemos 5 mil crianças”, declarou Marina.
Após a aula de história, as crianças fizeram um tour pela Câmara Árabe, conhecendo todo o espaço, e para finalizar, comeram um lanche e ganharam presentes. A visita teve o apoio da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil, a Fambras.