Cláudia Abreu
São Paulo – Os cariocas precisavam de um novo modelo de ventilador. A necessidade foi apontada pela Spirit, do Rio de Janeiro. A empresa estudou o mercado e desenvolveu o ventilador de teto Spirit. Criou um produto bonito e funcional. Trouxe design para um setor que nunca tinha se preocupado muito com o assunto. “O modelo tem duas hélices, é de plástico biodegradável, tem várias opções de cores e ventila mais os que ventiladores antigos de quatro hélices”, explica Felipe Pech, diretor da companhia.
O Spirit é um dos exemplos da evolução do design no Brasil. Desde que foi lançado – em 2001 – ganhou vários prêmios. O IF Design Award, na Alemanha, que é o Oscar do design mundial, o Museu da Casa Brasileira e o Ecodesign, no Brasil. Segundo Pech, um dos segredos do produto, além do desenho inovador e da funcionalidade, é que o Spirit está dentro do conceito de design de massa. “Tem um custo acessível, é um produto com design, pensado por um designer (Guto Índio da Costa), mas que também é comercial”, afirma.
No ano passado, a empresa produziu 225 mil peças. Para este ano a estimativa são 300 mil ventiladores. Em 2004, foram embarcados os primeiros Spirit para a Europa, cerca de 1 mil peças. “Estamos testando o mercado europeu e fazendo algumas adaptações no nosso produto, principalmente na parte de freqüência”, afirma Pech. O mercado árabe está sendo prospectado pela Spirit. “Fizemos contatos nos Emirados Árabes Unidos, no Egito e na Jordânia”, conta Pech.
O mesmo caminho do Spirit é seguido pelas irmãs Cristina, Daniela e Manuela Zatti, donas da Coza, de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. Fundada em 1983, como fábrica de saca-rolhas e abridor de garrafas, a empresa mudou de rumo em 1995, passou a trabalhar com polipropileno texturizado e investir mais em design. Segundo Cristina Zatti, a praticidade e a facilidade do material possibilitam trabalhar cores e levar ao consumidor final um produto de qualidade.
Atualmente a companhia é líder no setor de utilidade plástica com design no país. Produz 12 milhões de peças por ano, colocou o plástico em todas as partes da casa: da cozinha, passando pelo quarto, sala, banheiro e escritório e aportando na lavanderia. A Coza lança novos produtos a cada seis meses, ou seja, duas coleções por ano. Sempre em sintonia com as tendências mundiais.
Em 2003, a empresa lançou uma linha de decoração com luminárias. O modelo Lynix recebeu o prêmio Houseware e Gift de Design. No ano passado, a Coza inovou outra vez: introduziu materiais diferenciados em sobreposição ao plástico, como a porcelana. Nas peças lançadas no início deste ano, a novidade fica por conta do design inspirado em formas orgânicas e da coleção com o acabamento polido.
Para desenvolver as peças, a Coza tem um Bureau de Design, que é coordenado por Cristina Zatti. Trabalham para a empresa designers de referência nacional, como Valter Bahcivanji, de São Paulo, a OD Design, do Rio de Janeiro, e as cariocas Taciana Silva e Marcela Albuquerque.
Depois de um período de pausa nas exportações, para ampliar o seu parque fabril no primeiro semestre do ano passado, a empresa retomou as vendas externas no final de 2004. Atualmente, a companhia vende seus produtos para Argentina, Uruguai, Chile, Colômbia, Bolívia e Venezuela.
Para a sala
Outro setor que tem apostado no design é o de móveis, principalmente os para sala, como sofás e cadeiras. O designer Emerson Borges, de Curitiba, no Paraná, é um dos nomes fortes nesse segmento. A poltrona Fólio, desenvolvida por ele para a empresa Ronconi, está na TV praticamente todos os dias. O modelo foi escolhido pela rede Globo para ser usado em vários programas, como o jornalístico Bom Dia Brasil.
Segundo Borges, esse segmento evoluiu muito no Brasil nos últimos anos. “Até a década de 90 as empresas comerciais não tinham preocupação com design. Os sofás das casas eram do século passado. Em 1999, começaram a aparecer modelos mais contemporâneos”, explica. “Agora, os sofás são mais retos e as poltronas mais orgânicas, o que cria uma dinâmica agradável na sala. Não é o monótono da reta, nem o caos da curva”, completa.
Pontos fortes
Para o designer Giulio Simeone, diretor da Escola de Design no Istituto Europeo de Design (IED) – tradicional escola italiana de design que abriu filial em São Paulo este ano -, o trabalho com madeira é um dos pontos fortes do Brasil e deve ser aproveitado. “Os brasileiros dominam bem a madeira, o parque industrial é adequado e o custo de produção, inclusive mão-de-obra, é muito mais barato do que na Europa”, afirma.
Borges compartilha da mesma opinião e completa dizendo que os profissionais do país estão redescobrindo a madeira. “Tem gente desenvolvendo produtos com pinus, o que antes era impensado”, diz. Borges também tem um trabalho nessa linha, de novas madeiras, com palafitas (sobras que não são exportadas). Ele faz móveis com essas sobras.
Para melhorar
Porém nem todos os setores estão investindo em design. Para Simeone, as indústrias de brinquedos precisam investir mais. “Não há preocupação com o acabamento e há produtos que são até perigosos para as crianças”, afirma. Um dos motivos é que as empresas brasileiras foram sucateadas no fim dos anos 80, com a abertura econômica. Perderam competitividade, passaram a ser importadoras de produtos. Apesar de passados quase 20 anos, o setor ainda não despertou para a importância do design. Outro setor que precisa de investimentos, segundo Simeone, é de decoração que usa metais.
Mercado
Com acertos e erros, a conclusão dos profissionais é que o design brasileiro está começando a criar personalidade, e é puxado principalmente pela moda. A opinião é compartilhada por Simeone que cita o exemplo das Havaianas. “É um fenômeno mundial”, diz. O chinelo brasileiro conquistou consumidores no mundo todo. Simples, confortáveis e baratas, as Havaianas são exportadas para várias partes do mundo. “O futuro está aqui, tanto pelo acesso a materiais e custo de produção, quanto pelo mercado consumidor”, afirma Simeone.