São Paulo – Utilizar a criatividade de seus cidadãos, promover a integração entre eles e a circulação de pessoas são algumas das soluções para os problemas de grandes, médias e pequenas cidades. Em palestra realizada na noite de terça-feira (14), na Câmara de Comércio Árabe Brasileira, em São Paulo, a coordenadora do curso de Economia da Cultura da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Ana Carla Fonseca Reis, apresentou os elementos fundamentais para que as cidades cresçam e resolvam seus problemas com a participação popular. Aproximadamente 50 pessoas assistiram à apresentação, que também teve a presença do presidente da Câmara Árabe, Marcelo Sallum, e o ex-diretor Mário Rizkallah.
Entre os exemplos de cidades criativas citados pela administradora pública e economista estão Londres, no Reino Unido, Barcelona, na Espanha, e Ancara, na Turquia. Entre as cidades brasileiras, ela citou Paraty, no Rio de Janeiro, e Guaramiranga, no Ceará. “São cidades que buscaram a inovação na sua realidade, na cultura do seu povo e de dentro para fora, ou seja, a partir dela para os outros locais”, disse.
Guaramiranga, no Ceará, afirmou, é uma cidade que vivia da plantação de café. Com a saída das tradicionais famílias do pequeno município e a concorrência de Fortaleza como destino turístico, a cidade ficou ameaçada pelos problemas.
“Eles, no entanto, aproveitaram a cultura local dos ritmos de música nordestina, têm projetos de desenvolvimento de jovens músicos, todos os anos realizam um festival de jazz em pleno carnaval e veem sua população de cinco mil pessoas crescer para 15 mil. Além disso, existe um trabalho integrado com as outras pequenas cidades próximas à Guaramiranga”, disse.
“Cidades não dependem do tamanho para ser criativas, mas geralmente aquelas que desejam ser ou são criativas têm três traços bem definidos: são inovadoras e propõem a inovação, por exemplo, em um sistema de reutilização de resíduos sólidos. Outro aspecto é a valorização das conexões entre as pessoas. Quando elas se conectam, há troca de ideias, trocam-se experiência dos vínculos afetivos que cada um tem da sua cidade ou bairro e há mais participação da sociedade civil. O terceiro traço dessas cidades é a valorização da cultura local e das potencialidades do lugar”, disse.
Nestes casos, ela citou como exemplos o Peru, país que foi além dos seus destinos turísticos já conhecidos, como Machu Picchu, e explorou outros aspectos da sua cultura, como a gastronomia. Ancara, na Turquia, desenvolveu um projeto pelo qual os artesãos locais vendem seus produtos aos turistas e o estado se encarrega de despachar o produto e cobrir o seguro desta compra. Reis também citou a cultura do compartilhamento de objetos nas grandes cidades, como o aluguel de carros elétricos em Lyon e Paris. “É a cultura do compartilhamento, de o cidadão ter o uso, mas não a posse de um objeto”.
Entre as brasileiras, Reis citou Paraty e Guaramiranga como melhores exemplos de cidades criativas, mas observou que no País este conceito ainda enfrenta desafios. “Elas ainda não promovem a conexão entre seus moradores, ainda são muito divididas em ‘guetos’. Isso ainda é um obstáculo”, disse.
Das cidades árabes, Reis citou Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos, que tem um plano para integrar atividades de lazer, cultura e trabalho em 2030. A população de Abu Dhabi deverá dobrar até lá e por isso, disse Reis, a cidade está investindo na sua transformação ao integrar as atividades e os moradores. Como exemplo ela citou os museus que estão sendo construídos por arquitetos premiados em um setor específico da cidade.
A apresentação de Reis é parte do “Ciclo de palestras” que a Câmara Árabe promove regularamente sobre diversos assuntos. O próximo convidado é o historiador Demétrio Magnoli, que irá apresentar avanços e desafios para o Brasil e o Mercosul. O encontro com Magnoli está marcado para 18 de novembro.


