Belo Horizonte – Ele sorri mais aberto quando fala de dois assuntos: a moda feita em seu estado e as suas origens árabes. Filho de pai libanês, o presidente do Sindicato do Vestuário de Minas Gerais, Michel Aburachid vive no mudo das linhas e agulhas desde sempre, já que nasceu numa família de empreendedores da área. Hoje, além de tocar a própria empresa, a Marcel Philippe, de produção de uniformes, ele trabalha para ajudar o setor a crescer nas "Gerais". E é um dos entusiastas de ações como o Minas Trend Preview, evento organizado pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) e entidades parceiras com o objetivo de antecipar as tendências de moda para a temporada seguinte. A edição atual, que segue até o dia 28 em Belo Horizonte, aponta o que vai estar nas vitrines na primavera-verão 2012/2013. Na entrevista a seguir, concedida na feira, Aburachid fala de confecção, negócios, criatividade e parceria com os árabes.
ANBA – Qual a importância da moda mineira para o Brasil?
Michel Aburachid – Temos sete mil confecções em Minas Gerais. Juntas, essas empresas empregam 200 mil pessoas, a maioria mulheres. Em 2011, tivemos um faturamento de R$ 1,4 bilhão. Foi um ano difícil para a indústria têxtil brasileira, mas, mesmo assim, no estado, tivemos um crescimento de 2% em relação a 2010. Aqui estão empresas de alto nível de qualidade, com projeção internacional. Isso além dos diversos pólos de produção espalhados pelo estado, como o de peças para dormir em Muriaé, com 500 empresas, lingerie em Juruaia (160 empresas), moda infantil em Passos (350 empresas), Jacutinga e Monte Sião, com tricôs, São João Nepomuceno, com jeans (60 empresas) e Divinópolis, de artigos variados (300 empresas).
Quais os diferenciais da produção de roupas no estado?
O nosso maior diferencial é a criatividade. Fazemos uma moda bem feita e que agrada. Temos requinte, luxo, somos capazes de produzir peças diferentes, bordadas, elaboradas, com modelagem bem projetada. Montar uma fábrica de confecção é fácil, difícil é se destacar. Enfrentamos muitas dificuldades, como a concorrência com a China e o câmbio atual, que não favorece as exportações. Nem tudo são flores, mas seguimos em frente porque o nosso trabalho é diferenciado.
Para onde as confecções mineiras exportam?
Para mais de 20 países em mercados como Europa, Oriente Médio, Estados Unidos e Canadá. No mundo árabe, vendemos principalmente para o Líbano e para os Emirados Árabes. Ainda exportamos pouco, a ideia é ganhar espaço no exterior nos próximos anos.
O mundo árabe faz parte desses planos de crescimento das exportações?
Certamente. O que falta é um entrosamento maior com os árabes, precisamos trazer compradores desses países para vir aqui, conhecer a nossa produção, participar de eventos como o Minas Trade Preview. Sou filho de pai libanês e todos os parentes que vêm do Líbano para nos visitar ficam encantados com a nossa moda. Vamos trabalhar nesse sentido daqui para frente.
A sua história com o mundo da moda, aliás, vem da sua família?
Sim, meu pai, Felipe Aburachid, veio do Líbano para o Brasil em 1914 e, depois de passar por Juiz de Fora e pelo Rio de Janeiro, se estabeleceu em Belo Horizonte, onde abriu uma confecção. O nome da empresa era "O Gigante Aburachid", que por sinal tinha uma loja própria para vender os produtos da marca. Ele fazia roupas em geral, para ambos os sexos. E foi pioneiro na produção de camisas estampadas e de manga curta para homens, num tempo em que eles só usavam modelos brancos, de manga longa. Meu pai era um homem muito dinâmico e morreu aos 90 anos, idade em que ainda usava calça branca e camisa estampada todos os dias.
Foi impossível fugir da área então?
Foi! Até me formei em Direito e hoje tenho outros negócios, mas não consegui ficar longe do setor. Não à toa sou presidente do Sindivest em Minas Gerais há nove anos, nasci no meio disso tudo.