São Paulo – O Brasil está preparado para se defender das consequências da crise, mas não deverá navegar em calmaria enquanto Itália, Espanha, Grécia e Estados Unidos lutam para resolver seus problemas fiscais e políticos. A turbulência externa deverá refletir nas exportações brasileiras. Entre os produtos exportados, os manufaturados poderão ser os mais prejudicados.
De acordo com o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rogério Cesar de Souza, a Europa sofre uma crise de países com dificuldade de gerar crescimento, renda e de se financiar. Como o mercado interno destas nações está fragilizado, a saída para elas será investir nas exportações e torná-las mais competitivas.
Do outro lado do Atlântico, os Estados Unidos não têm problema para se financiar, porém, também não têm como incentivar sua economia senão por meio da desvalorização do dólar. Logo, os produtos norte-americanos devem ser exportados a preços baixos e dificultar as vendas externas dos outros países, o Brasil entre eles.
“Podemos voltar a ver o cenário do último ano, quando nossa moeda se valorizou e perdemos mercado. Com a questão do ‘custo Brasil’ (alta taxa tributária e infraestrutura precária, entre outros), torna-se caro produzir aqui. Nossas exportações podem sofrer com a crise ao enfrentar uma concorrência maior dos produtos europeus e a desvalorização do dólar. Neste cenário, a indústria deverá ser mais penalizada”, afirma Souza.
O economista-chefe do Iedi alerta também que as exportações de commodities, que representam a maior parte do que o Brasil vende para o exterior, podem ser menos rentáveis a partir de agora. “Os investidores correram para comprar títulos dos Estados Unidos, o que já resultou em queda de preços de commodities. A queda de preço afeta a nossa balança comercial, que está positiva muito em parte por causa da valorização das commodities", afirma Souza.
Já a professora de macroeconomia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Cristina Helena de Mello, afirma que os EUA não podem, neste momento, gerar receita com aumento de impostos. Isso ficou proibido na negociação realizada na semana passada no Congresso para aumentar o teto da dívida do país. A solução dos norte-americanos é cortar gastos, o que influencia diretamente no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).
“Com menos atividade econômica, menores são as importações dos Estados Unidos. Eles são um dos grandes parceiros do Brasil e deverão importar menos. Muitos países que exportam para eles e importam de nós também reduzirão o ritmo de compras”, observa. Cristina diz que o Brasil pode compensar essa perda com o consumo interno.
Professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e diretor-presidente do Fractal Instituto de Pesquisa, Celso Grisi afirma que as exportações brasileiras deverão sofrer impacto “razoável” porque haverá uma redução no ritmo de crescimento da economia mundial e redução das importações dos Estados Unidos e da Europa. Com isso a China vai exportar menos para esses países e terá redução da sua atividade econômica. A China também comprará menos.
Se o cenário não é favorável, o Brasil tem instrumentos que o ajudam a sofrer menos com a crise. “O Brasil pode reduzir sua carga de impostos com uma mini reforma tributária. O País já está desonerando a folha de pagamento em alguns casos, mas pode fazer uma reforma trabalhista que torne a legislação mais flexível. Pode reduzir a taxa de juros e com isso valorizar o câmbio nacional. Pode voltar com a política expansionista de crédito”, diz Grisi.
Ele lembra que, entre os setores de manufaturados, o primeiro a sofrer com a crise deverá ser o automobilístico. Indústrias de equipamentos de base e de peças também poderão ter queda nas exportações.