Da Agência Brasil
Havana (Cuba) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou no início desta tarde à Cuba para uma visita de dois dias. Ele veio assinar acordos e manter uma série de encontros com empresários e autoridades.
O presidente de Cuba, Fidel Castro, abriu uma excessão e recebeu Lula no aeroporto José Marti. De lá, os dois seguiram no mesmo carro, uma Mercedes, para a casa de protocolo, onde o presidente brasileiro ficará hospedado. Lula e Fidel estão neste momento almoçando juntos e terão pelo menos duas conversas reservadas.
A vinda do presidente brasileiro acontece num momento muito difícil para Cuba. O país, que enfrenta um bloqueio econômico capitaneado pelos Estados Unidos há quatro décadas, está agora mais isolado com o pacote de retaliações impostas pela União Européia, em represália ao fuzilamento, em abril, de três dissidentes políticos e à prisão de outros 75.
Economia vive momento delicado
Os cubanos querem o apoio do presidente brasileiro, amigo de Fidel desde 1980, quando Lula ainda era dirigente sindical, para retirar o país do isolamento. Em novembro, as Nações Unidas vão votar uma moção para que seja suspenso o bloqueio econômico.
As esperanças do governo socialista, sufocado pela escassez de recursos, estão expressas no apelo do ministro das Relações Exteriores, Felipe Peres Roque, publicado na edição de hoje do jornal Granma, do Partido Comunista Cubano. “O Brasil tem votado contra o bloqueio nas Nações Unidas e não se tem prestado nunca às manobras contra Cuba”, disse o dirigente.
A tendência do governo brasileiro é liderar um movimento internacional em favor do país socialista, com o qual tem ligações históricas. Lula está levando uma comitiva de nove ministros, além de empresários e dirigentes de estatais, para deixar claro seu compromisso com a reintegração de Cuba à comunidade internacional.
Mas dirá ao amigo Fidel que Cuba precisa se abrir para o mundo e aprender a conviver com as diferenças ideológicas, incorporando novos valores democráticos às conquistas da revolução socialista.
O presidente Lula desembarcou no Aeroporto Internacional Jose Marti em companhia dos ministros Antonio Palocci (Fazenda), Humberto Costa (Saúde), Celso Amorim (Relações Exteriores), Luiz Furlan (Desenvolvimento, Indústria e Comércio), José Graziano (Segurança Alimentar), José Fritz (Pesca) e Luís Dulcci (Secretaria Especial da Presidência). Dois outros (José Dirceu, da Casa Civil e Agnelo Queiroz, dos Esportes), já chegaram.
Lula e Fidel terão pelo menos dois longos encontros reservados. A agenda foi habilmente preparada para que os dois permaneçam o maior tempo possível juntos.
Acordos
Vários acordos bilaterais serão assinados e outros retomados, envolvendo desde a área pesqueira até a indústria açucareira, passando pelos setores de tecnologia e infra-estrutura. O Grupo Brasilinvest, do empresário Mário Garnero, está na comitiva para acertar a construção de 2 mil leitos hoteleiros num ambicioso projeto turístico na ilha.
O ministro dos Esportes, Agnelo Queiroz, fechou um acordo visando a preparação, com a ajuda de técnicos cubanos, de uma elite olímpica visando as próximas olimpíadas. Em troca, os brasileiros ensinarão os cubanos a ginga do que eles chamam de futebol “mas hermoso” do mundo.
A Petrobras retomará o contrato para exploração de petróleo em dois campos na área cubana do Golfo do México. Haverá acordos inovadores também na área da produção de açúcar e álcool, setor que passa por reestruturação em Cuba.
Cuba tem uma dívida de US$ 40 milhões e um déficit de US$ 50 milhões na balança comercial por ano com o Brasil. Serão abertas linhas de crédito e discutidos mecanismos de equilíbrio na balança.
Serão também celebrados intercâmbios na área social, numa espécie de permuta vantajosa para os dois lados. Por exemplo, Cuba ajudará o Brasil a massificar o seu sistema vitorioso de saúde popular, baseada no modelo de medicina familiar. Em troca, o Brasil repassará medicamentos e o modelo de combate à Aids.
Lula se encontrará também com residentes brasileiros na ilha. Cerca de 700 brasileiros vivem em Cuba, a maioria estudantes. Uma parte deles é formada de bolsistas enviados a Cuba pelo Movimento dos Sem-Terra (MST) e o PT. Outros pagam do próprio bolso a formação em áreas consideradas de excelência, como os cursos de ciências médicas. Não está previsto nenhum encontro com representantes da oposição ao regime castrista. O presidente retorna ao Brasil no final da tarde de sábado.