Vinte e dois membros da Liga Árabe e 12 países sul-americanos proclamaram nesta terça-feira a necessidade de lutar contra a especulação financeira para enfrentar a crise econômica mundial, mas não conseguiram chegar a um acordo sobre o caso do presidente sudanês, Omar al-Bashir.
Esta segunda cúpula ASPA (América do Sul/Países Árabes) foi realizada em Doha dois dias antes de outra cúpula, a do G20, que reunirá quinta-feira em Londres os países ricos e as principais nações emergentes.
Três dos países representados em Doha – Brasil, Argentina e Arábia Saudita – integram o G20.
Em sua declaração final, os participantes da cúpula de Doha defenderam a criação de "mecanismos de cooperação financeira" para combater a crise nos países pobres.
"Os mecanismos de cooperação entre os países do sul devem ser reforçados para prevenir a crise e a pobreza", diz o texto.
Os participantes também insistiram na necessidade de "estabelecer um sistema financeiro internacional que impeça a especulação financeira e integre regulações adequadas" para os mercados, uma questão que estará na pauta da reunião do G20.
Também foi ressaltada "a importância de organizar, o quanto antes, uma conferência internacional patrocinada pela ONU para debater da crise financeira internacional e estudar soluções".
A cúpula também defendeu o "fomento do diálogo e o conhecimento de nossos povos", segundo palavras da presidente chilena Michele Bachelet.
Luiz Inácio Lula da Silva e Bachelet, em sua qualidade, respectivamente, de coordenador do Aspa (América do Sul-Países Árabes) e presidente da Unasul (União de Nações Sul-Americanas), discursaram na inauguração do evento.
Lula declarou que "o mundo estará atento para saber se a América do Sul e os países árabes são capazes de tomar medidas que evitem que a crise financeira se transforme em um terreno social e político".
"Nenhum país conseguirá superar a crise com medidas isoladas. Sem solidariedade e espírito de cooperação, não poremos em prática ações coletivas e ordenadas indispensáveis", acrescentou.
Lula avisou também que "as medidas de estímulo das economias não devem redundar em práticas protecionistas".
Entre os participantes da cúpula estava o presidente Bashir, contra quem a Corte Penal Internacional (CPI) emitiu uma ordem de captura por crimes de guerra e contra a humanidade em Darfur, uma província do oeste do Sudão assolada por uma sangrenta guerra civil que já deixou, segundo a ONU, 300.000 mortos desde 2003.
Bashir recebeu segunda-feira o apoio de seus colegas árabes, mas os líderes sul-americanos não mostraram o mesmo entusiasmo nesta terça-feira.
A declaração final não menciona o presidente sudanês, limitando-se a pedir "uma solução urgente para a crise de Darfur" e "o respeito dos direitos humanos" nesta região.
"A soberania é muito importante, mas o respeito da pessoa humana também", declarou em entrevista coletiva a presidente do Chile, Michelle Bachelet, presa durante a ditadura de Augusto Pinochet.
"Chega uma hora em que a soberania já não é suficiente. Existem valores universais, como os direitos humanos", acrescentou.
Bashir recebeu, porém, o apoio pessoal do presidente venezuelano Hugo Chávez.
"É um horror judiciário e uma falta de respeito com os povos do terceiro mundo", afirmou Chávez, referindo-se à ordem da captura da CPI.
Desde a primeira cúpula ASPA, em 2005 em Brasília, o comércio entre os dois blocos quase triplicou, chegando a quase 18 bilhões de dólares em 2007. DDe acordo com a Câmara de Comércio Árabe Brasileira, os países sul-americanos exportaram 10,6 bilhões de dólares em produtos diversos para as nações árabes.
A terceira cúpula ASPA deverá ser realizada em 2012 em Lima.

